quarta-feira, 29 de maio de 2013

SENTIDO DA EUCARISTIA

Jesus partiu o pão e o distribuiu. Apenas deu-o na boca de Judas, o traidor. Receber o pão na boca é declarar incapacidade de distinguir quem é quem. É ser passivo sem a menor ideia do que representa ser participante de uma Comunidade Cristã. É trair Jesus e seu projeto de vida para todos  em abundância, conquistado pelas pessoas que atuam numa comunidade e se relacionam nela com total doação, desprendimento e amor! Dar a hóstia na boca de alguém é submetê-lo a ser inferior, a receber tudo pronto e a não precisar fazer esforço em conjunto para conquistar os bens que nos esperam e nos fazem viver melhor.

Dar a hóstia na boca bem pode representar um gesto que evoca submissão e minoridade. É um gesto de quem se coloca acima de todos e decreta o que é verdade, o que deve ser obedecido. Não se coloca de igual para igual como o fez Jesus lavando os pés de seus seguidores. Não convida, à quem pretende distribuir o “Pão Vivo descido do céu”, para sentar-se ao redor de uma mesa para partilhar deste Pão.

Por que é tão dramática a falta de pão na mesa de alguém? É porque o pão nosso de cada dia em cima de nossas mesas alimenta também o nosso espírito.  A Eucaristia é plena e completa se incluir o pão nas nossas mesas!


Os primeiros cristãos se reuniam e tomavam as refeições em comum. Celebravam, desta forma, o partir e o partilhar do pão em memória de Jesus, a Eucaristia (Atos 2,42...).

Será que o mesmo não podemos começar a fazer em nossas famílias, em nossas pequenas comunidades para nos lembrar da importância do alimento para nossa vida, para nossas almas, para nosso espírito? Numa época de inversão de valores, onde cultuamos o automóvel e a indústria de combustíveis em detrimento dos alimentos, não é oportuno lembrar o pão como alimento humano e espiritual indispensável? Que o partir e o partilhar do Pão da Eucaristia nos lembre a falta de pão na mesa de muitos de nossos irmãos e irmãs e nos leve a sermos solidários com aqueles e aquelas que não dispõem do pão de cada dia!     
Pe. José Marcos Bach, SJ                                                                                                                                                                             

sábado, 25 de maio de 2013


SANTÍSSIMA TRINDADE

Cristo-Deus é o espaço divino em que tudo o que existe tomou forma. Esta forma só pode ser divina e tão eterna quanto o próprio Criador. Até hoje a humanidade relutou em assumir esta sua condição divina, pois ela a torna responsável numa medida que a assusta.

Pericorese” é o termo que os teólogos gregos usavam para definir a relação das Pessoas da Santíssima Trindade entre si. Os teólogos latinos traduziram este termo para o latim dando-lhe o nome de “circumincessio”. O termo poderia ser traduzido como “ciranda”, isto é, como dança a três. A imagem de um Deus Dançante lembra a imagem do “Shiva Dançante” da mitologia indiana.

Definindo Deus como “motor imóvel”, Aristóteles imobilizou o Criador do universo, obrigando-o a ficar parado enquanto em redor dele tudo se move. É estonteante a velocidade com que no universo criado tudo se move. É incrível o número de pulsações que um átomo executa no curto espaço de um segundo. Nada há no universo que se possa definir como objeto parado. Tanto no espaço como no tempo tudo se move e se modifica constantemente. Num universo tão fervilhante, um Deus parado e sentado num trono, só pode sentir-se estranho no mundo por ele criado. Onde tudo se move a velocidades superiores à da luz, um Deus que sempre chega atrasado só pode sentir que já não possui mais o controle sobre as poderosas energias que Ele mesmo desencadeou na aurora dos tempos.

Einstein veio acrescentar ao conceito de espaço uma nova dimensão, o espaço-tempo, demonstrando que espaço e tempo são intercambiáveis. O espírito do homem se encontra no ponto de intersecção entre três formas distintas de espaço: o espaço divino que ele compartilha com o Criador; o espaço cósmico que ele possui em comum com o cosmos, isto é, o universo material; e o espaço psíquico que ele condivide com todos os seres dotados de autoconsciência.

A autoconsciência consiste basicamente na capacidade de saber quem se é. A pedra sabe que é pedra. O diamante tem consciência do seu valor, isto é, da sua beleza e da sua preciosidade. Falsos são toda a beleza e todo o valor que não é intrínseco, mas apenas comercial. É produto pirata.

O êxtase leva o homem a sair de si, mas existe também uma forma de arrebatamento que impele o espírito do homem a penetrar nas profundezas do seu próprio interior. O padre jesuíta Ives Raguin escreveu um livro com o título “A profundeza de Deus”. No livro ele faz uma distinção entre o que define como êxtase e o que denomina de “enstase”. Este ocorre quando uma pessoa é arrebatada pelo seu próprio interior.

O “enstático” procura entrar em contato com Deus através do contato com o seu próprio Eu Divino. Em vez de se pôr a escutar vozes estranhas, prefere escutar sua própria voz. Os antigos mestres espirituais do Oriente, Buda, Lao Tsé, Confúcio eram contemplativos que procuravam encontrar-se com Deus em seu próprio interior. Enquanto os missionários cristãos insistiam a pregar a seus ouvintes um Deus que veio de fora e partiu de volta para lá, o cristianismo não deu um só passo significativo em direção a um futuro mais promissor.

 Uma das promessas sagradas de Jesus é aquela em que ele promete a seus discípulos que não irá deixá-los entregues ao abandono. “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Ainda um pouco e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Neste dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,18-20). Esta promessa vale para todo aquele que é discípulo de Jesus. Por isso vale também para nós, desde que tenhamos a fé que Jesus tem o direito de esperar de um discípulo seu.

Não é com promessas que levamos a Deus a nos ajudar. Não é só quando sofremos e nos vemos enredados em problemas que Deus se dispõe a nos atender. “Tudo o que pedirdes em meu nome eu o farei” (Jo 14,14). A onipotência de Deus deixou de ser o oposto da fraqueza do homem para tornar-se parte substancial de uma nova forma de poder, o poder da oração. Problemas de saúde ou de natureza político-social só existem porque ninguém se lembrou do poder da oração.

                                                           Pe. José Marcos Bach, SJ

quarta-feira, 22 de maio de 2013


O BIG BANG DO CRISTIANISMO      

A humanidade atual se encontra apenas no início da sua trajetória evolutiva. Pode passar ainda por muitas outras mudanças além daquelas por que já passou. Estamos ainda longe de ter esgotado as potencialidades todas de nossa condição de espíritos encarnados! Não acredito que as religiões estejam preparadas para tomar parte ativa no processo de explosão espiritual que está por vir. Existem no cosmos, tanto quanto no espírito do homem, quantidades incríveis de energia que ainda não foram liberadas. Vale a pena imaginar o cristianismo todo como uma espécie nova de Big Bang que ainda se encontra nos primeiros nanossegundos da sua história. Se Jesus tivesse tido apenas a intenção de fundar as igrejas que se dizem obra sua, seria o caso de lhe dar os pêsames. A explosão do Amor Divino, que é a Vida e a Obra de Jesus, é semente que ainda não teve tempo nem condições de deitar as primeiras folhinhas.

Nas Igrejas tudo anda a passo de tartaruga porque nelas o medo de ir longe demais é muito maior do que o medo de perder o contato com a história. As Igrejas se consideram parte integrante da História da Salvação. Esta é, na verdade, a sua missão essencial. Função primordial de toda Comunidade Cristã é conectar entre si o Projeto Salvífico de Cristo com todo o esforço humano destinado a gerar progresso. Igrejas que só se preocupam com a sua própria sobrevivência deixaram de ser cristãs a partir do momento em que passaram a pensar e agir em função de interesses próprios, sem se preocupar com o que acontece fora de seus quadros.

A humanidade é um todo orgânico. Ser homem significa muito mais do que a consciência de pertencer a uma espécie biológica “superior”. A consciência cósmica, da qual hoje se fala com interesse crescente, faz parte essencial da consciência cristã, ao menos em teoria, pois no terreno concreto da vivência diária pouco peso tem. O cristão, dito praticante, é geralmente individualista e pragmático. Cuida bem ou mal da sua própria salvação, deixando o cuidado pelos aspectos coletivos do processo de salvação a profissionais especializados para a tarefa de preocupar-se com a salvação das almas de seus semelhantes. Seu pragmatismo se manifesta na maneira como viveu o seu compromisso de fé. Reduz o compromisso de fé a uma série de atos que lhe são impostos por sua “igreja”. Só faz o que lhe é imposto como obrigação. É minimalista, pois só faz o estritamente necessário para não cair no inferno. Todos os demais aspectos da fé em Cristo, que constituem a sua verdadeira riqueza, não fazem parte da sua vida religiosa. Preocupação com a saúde do planeta, solidariedade com os irmãos pobres, justiça social, etc., são assuntos que não fazem parte dos seus compromissos de cristão. Também não fazem parte da consciência da maioria de nossos “bons cristãos” algo que se pudesse definir como “desejo de perfeição”. A santidade e a santificação das almas é assunto com o qual nem devem preocupar-se. Para isto existem os Mosteiros e as Ordens Religiosas.

Francisco de Assis permaneceu leigo a vida inteira. É amado ainda hoje porque foi em tudo um homem do povo. Como tal, percebeu, como ninguém depois dele, que a perfeição e a santidade faziam parte essencial da fé cristã. Francisco era portador de uma consciência que lhe permitia viver em comunhão mística com o universo todo. Para ele não havia nada que não fosse de algum modo “filho” de Deus. O sol era mais do que uma poderosa usina atômica criado por Deus. Era o irmão sol. O lobo era para ele o irmão lobo. E assim por diante. Francisco viveu em sua curta e atribulada vida de 44 anos certas dimensões essenciais da fé cristã que só raramente conseguem aflorar na consciência dos que se dizem cristãos.

Texto do livro “A IGREJA QUE EU AMO” de Pe. J. Marcos Bach, SJ

terça-feira, 14 de maio de 2013


JESUS, MODELO DE LÍDER COMUNITÁRIO
           
O mais lídimo e completo Líder Comunitário foi Jesus. Foi Líder porque sempre ia à frente dos seus companheiros apontando o caminho. Caminhava com eles percorrendo em sua companhia as mesmas estradas, expondo-se às mesmas canseiras e aos mesmos perigos. Era companheiro de um modo como só Ele sabia sê-lo! Sabia emparelhar o passo com os que caminhavam depressa. Mas sabia também adaptar seu ritmo ao do mais lento, desde que ele continuasse caminhando.

            “Não se deve apagar uma tocha que ainda bruxoleia”, dizia.

Jesus conhecia muito bem os seus companheiros. Sabia o que se passava no íntimo da consciência de cada um deles. Interessava-se pelo bem-estar de cada um deles. “Faltava-vos, por acaso, alguma coisa quando vos enviei a pregar?” (Lc 22,35).

A vida de Jesus com seus apóstolos era realmente uma “Vita Communis”, podendo por isso servir de modelo de vida em Comunidade. Na base de qualquer paralelo está o modo como Jesus se relaciona com seus apóstolos. Era o Líder inconteste do grupo todo.

Não vale a pena ir à caça de modelos de liderança quando se tem na Pessoa de Jesus a possibilidade de encontrar todas as qualidades requeridas de Guia Espiritual. Em lugar de me alongar na descrição das virtudes todas do Divino Mestre, quero contentar-me aqui com a enumeração daquelas que julgo serem mais essenciais que as outras. 
                                                                                 (Continua na página ARQUIVOS DIVERSOS).