terça-feira, 31 de dezembro de 2013

MOTIVAÇÃO PARA O ANO DE 2014

A palavra motivação expressa tudo aquilo que procuramos alcançar através da nossa ação. Refere-se a tudo que nos move e comove, impedindo que nos fixemos num universo feito de coisas paradas. Quando dizemos que o universo criado por Deus é perfeito, não queremos afirmar que ele já está pronto. É bem provável que jamais iremos morar num universo totalmente pronto e acabado. Nada há nos Evangelhos que nos autoriza a pensar o Céu, a casa do Pai, como um lugar ao qual nada falta. É possível que o Reino dos Céus seja em cada um dos seus muitos estágios um lugar onde a lista das “Sinfonias Inacabadas” predomina sobre a das “Obras Completas”!
           
Tem todo o direito de considerar-se realizado aquele cujo processo de autorrealização está bem encaminhado, isto quer dizer, que sobre o que já foi feito é permitido continuar a construir.
           
Os poucos privilegiados que se podem permitir o luxo de um tratamento psicoterapêutico dão-se por curados quando podem retornar às atividades da vida normal. Mais interessados no desaparecimento dos sintomas do que no retorno à saúde, dão-se por curados.
           
A doença, seja ela qual for, física, psíquica ou espiritual, é um sinal de alarme. Não é nenhuma desgraça. É, isto sim, um convite a abandonar  um conceito superado de saúde e substituí-lo por outro.
           
Quem depois de uma doença séria não passa a gozar de uma saúde melhor não extraiu da sua doença a lição mais preciosa. O que interessa a Deus, como a qualquer médico, não é a doença, mas o restabelecimento da saúde.
           
Deficiente tem direito a tratamento especial, aluno estudioso e mais inteligente que os demais corre o risco de ser taxado de burguês. Ter talento é crime, a menos que se coloque este talento a serviço da “igreja” ou do “partido”. Ou, então, da “pátria”. O patriotismo passou a ser uma virtude muito dispendiosa, pois a fatia mais gorda do dinheiro arrecadado pelo poder público é gasto em armamentos e preparativos bélicos. Na lista dos itens mais negligenciados estão a saúde e a educação.
           
Gastamos, via de regra, mais dinheiro combatendo a doença e o crime do que em promover a saúde e o desenvolvimento da pessoa humana.

Por esta razão a nossa sociedade civilizada escorrega sempre mais em direção ao crime organizado. Não basta eliminar o mal. No dia em que não houver mais criminosos, bandidos e ladrões, a humanidade não será, ipso facto, melhor do que é hoje.
           
Quando o crime consegue organizar-se tão bem e com tanta liberdade de ação, isto só é possível porque o bem anda mal organizado e o bem comum anda entregue a picaretas.

Padre Marcos Bach

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SEM JESUS CRISTO NÃO É MAIS POSSÍVEL FAZER HISTÓRIA

Sem Jesus Cristo e fora do seu Plano de Salvação não é mais possível fazer história. O projeto messiânico de Marx como o de Hitler fracassaram estrondosamente porque lhes faltou o chão seguro da fé nas promessas divinas.

Sem esperança é impossível fazer história. Esta esperança não é qualquer surto de otimismo artificialmente insuflado por teorias ou slogans. Menos ainda é aquele otimismo barulhento e irracional artificialmente criado pela Mídia. É certo que ao morrer a última certeza de que é possível criar um mundo melhor, a humanidade voltaria à pré-história. A morte da esperança seria o fim da história e acabaria jogando a humanidade de volta às florestas donde saiu e às cavernas do paleolítico.
             
Pode a história terminar em fracasso? Pode, e por que não, se tudo o que é vivo traz em si o germe da dissolução? Já tivemos vinte civilizações historicamente identificadas, diz o historiador inglês Toinby, e todas elas se extinguiram. Ou foram extintas. Nada neste planeta é eterno. Quantos Impérios surgiram e desapareceram no curto espaço de tempo de alguns milênios! Dos Impérios já sabemos que a sua extinção é uma questão de tempo. Impérios são construções humanas das quais a história procura livrar-se com a pressa com que cortamos uma bananeira que já deu cacho.

Mas, há no campo social um tipo de entidade que não se submete à lógica da entropia e se considera imune ao princípio da extinção e à lei da entropia. São as entidades religiosas. Nenhuma delas se preocupa com a sua sobrevivência. Julgam-se eternas, imunes ao vaivém dos acontecimentos. Por se terem na conta de obra de Deus, agem como se estivessem a caminho da eternidade, imunes, portanto, à ação corrosiva e desintegradora do tempo.
             
Qual o líder ou chefe religioso da atualidade que não alimenta a certeza de estar do lado certo e seguro da história? Quem pode ter a certeza de estar do lado certo da história? A quem vou aliar-me: aos que já descobriram a resposta ou à turma irrequieta dos que continuam procurando, convictos de que o momento atual da história representa apenas a ponta emersa de um continente prestes a emergir? A escolha é de cada um de nós, membros de uma sociedade que já não pode apelar mais para a ignorância pela facilidade que temos hoje de saber o que se passa longe do nosso pequeno e mesquinho mundo doméstico.

A humanidade precisa não só de quem lhe mostre o tamanho do buraco em que se meteu, mas de profetas que lhe apontem o caminho por onde sair dele.
             
Uma concepção materialista e ateia da história humana é metafisicamente inaceitável, pois é da essência da história ser obra do espírito humano. Excluir Deus da história a ponto de não admiti-lo sequer como hipótese, é outro erro.

Quem exclui Deus da história dos homens termina por excluir dela também o homem. Excluir Deus da história dos homens, da sua natureza, da sua psique e dos seus sonhos de felicidade é o mesmo que jogá-los de volta às árvores, donde partiram milhões de anos atrás.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A CORAGEM DO ATO DE FÉ EM JESUS CRISTO

A coragem que nasce da fé em Cristo é serena, tranquila. Não brota de alguma forma de desprezo pela vida ou pelos perseguidores. Sua superioridade está em que ela não se impõe nem pela força, nem pela propaganda. A coragem cristã é coragem pura e se impõe por si mesma. É ideologicamente pura!
           
Toda coragem tem o seu preço. No caso da coragem cristã o preço é ambíguo. Envolve tanto a vergonha da derrota quanto a glória do triunfo.
           
Há derrotas que são prenúncios de triunfo. E há triunfos que só servem para mascarar derrotas inevitáveis. É próprio de toda a ideologia triunfalista esquecer uma lição fundamental da história: é de derrotas que nasceram até hoje as mais belas vitórias.
           
A derrota tem o condão de despertar energias ocultas e adormecidas. Vitórias fáceis costumam enfraquecer a vontade de um povo mais que derrotas fragorosas. Jesus não desceu do céu para nos ensinar como colher vitórias e como triunfar sobre eventuais inimigos.

Os romanos tinham um conceito de triunfo radicalmente oposto ao de Cristo. O general, a quem o Senado Romano concedia a honra do triunfo, era precedido pelas legiões que comandava e seguido por uma multidão de prisioneiros de guerra feitos escravos.

O que impressionou a plebe romana foi a atitude dos mártires, a sua serenidade tranquila. Parecia que os triunfadores eram eles, e não o Imperador de plantão.
           
Estamos falando da coragem cristã, e não das outras muitas formas e manifestações de falsa coragem. A coragem é um atributo que o homem condivide com o animal. Estamos cansados de ouvir falar da “coragem” com que a leoa defende seus filhotes. O que uma leoa ou ursa faz em defesa de suas crias nada tem a ver com o que devemos entender por coragem cristã.

O cristianismo entrou na história com todas as características de um Movimento Revolucionário. Cristo não veio dar “colher de chá” nem aos filósofos gregos, nem aos estrategistas da política imperial romana. A novidade e originalidade da visão social de Cristo é tão grande que até hoje ninguém se atreveu a levá-la até suas últimas consequências. Afora Jesus, ainda não surgiu nenhum outro “Messias” e Salvador da humanidade a confiar o futuro humano ao pensamento livre de homens livres com a mesma desenvoltura e liberdade com que Jesus o fez.

O Reino de Deus, tal como Jesus o preconiza, ou será obra de homens e mulheres livres, ou acabará se perdendo em espaços sociais em que é proibido ter ou tomar partido.

A Igreja de Cristo é um espaço social em que é permitido a cada um tomar partido. Há muitas maneiras de viver a fé em Jesus Cristo. O objetivo último e o centro aglutinador é sempre o mesmo: é a Pessoa de Jesus.
           
Decisivo não é o que se ensina, mas o modo como se realiza o ato de fé, que é um ato de comunhão de Cristo com os seus discípulos.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

JESUS CRISTO VEIO PARA FICAR

Jesus Cristo veio para ficar e a humanidade vai precisar cada vez mais da sua presença e dos seus ensinamentos na medida em que a complexidade dos fatores em ação vier a aumentar.

Os fatores que interagem para formar o panorama social de hoje fazem da arte de governar um exercício mais confuso e mais próximo do caos do que do mais tímido conceito de ordem. Quem ainda sabe onde encontrar a fronteira que separa o delinquente comum do político esperto? Um projeto social por mais inteligente que seja, só terá chances de acabar dando certo se a sua execução prática vier a parar nas mãos certas. Jesus nunca formulou este problema, mas poderia tê-lo posto nestes termos iniciais: “Com que tipo de pessoas vou poder realizar o que tenho em mente?”. A casta sacerdotal lhe teria dito sem dúvida: “Escolha um dos nossos ou algum Doutor da Lei”. Um saduceu como Kaifás lhe teria sugerido: “Escolhe um dos nossos, pois somos ricos e temos dinheiro bastante para financiar o seu projeto”. Na hora de escolher os seus colaboradores mais chegados Jesus foi até o Lago de Genezaré e sua escolha recaiu quase que exclusivamente sobre pescadores.

Quem hoje pensa em organizar uma Comunidade Cristã nos moldes em que ela aparece descrita nos Atos dos Apóstolos vai colher provavelmente mais decepções do que sucessos! O mundo atual que na metade do século passado ainda era um “caldeirão fervente” pronto para aceitar mudanças, algumas tão radicais como as que os comunistas propunham, está cansado de pactuar com revoluções que acabaram produzindo mais ruínas do que mudanças! Quem hoje ainda se empolga com a ideia de poder tomar parte numa revolução?

O concílio Vaticano II prometia ser o primeiro passo para a constituição de uma Igreja católica amplamente renovada e afinada com o Zeitgeist do seu tempo. “Aggornata”, como a queria o Papa João XXIII. São fundamentalistas e tradicionalistas, mais empenhados em conservar o que sobrou das ruínas do passado, que por toda a parte ganham eleições e vencem os seus oponentes na corrida contra o tempo em que todo esforço político acabou sendo transformado. O único setor que apresenta um relativo crescimento é o setor de serviços. O número de servos e de servidores cresce, mas o dos senhores diminui cada vez mais. O dono de um restaurante é tão dependente de sua clientela e precisa deles tanto quanto seus empregados precisam dele.

Seria maravilhoso se com o crescimento do setor de serviços viesse a crescer nas pessoas o desejo de servir e de apostar no serviço como terreno apropriado à autorrealização pessoal. A mesma pessoa que amaldiçoa a sua condição de serviçal mal pago e maltratado sonha com o dia em que lhe será permitido devolver o troco com juros e correção monetária. Tanto no terreno religioso como no campo social e até mesmo no terreno econômico é fácil encontrar candidatos dispostos a participar de um projeto social que lhes permite mandar em outros, ao menos um pouquinho. O ideal de um “bom” funcionário é aposentar-se com bom salário, passar o resto da vida numa praia sofisticada, deixando o trabalho para outros. Jesus ficou bastante só depois que declarou: “O Filho do Homem veio para servir, e não para ser servido” (Mt 20,28).
           
Se em sua Segunda Vinda Cristo vier a ensinar-nos como amar-nos uns aos outros como Ele nos ama, então seu retorno e sua permanência em nosso meio terá valido a pena!

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

É TEMPO DE CONVERSÃO E DE ESPERANÇA

Conversão é muito mais do que arrependimento. Este consiste em desfazer-se de um passado mal vivido e socialmente nocivo. Quem quer converter-se tem que voltar-se para o futuro e enfrentar seus desafios com base num projeto de vida radicalmente oposto e diferente do anterior.
           
Se a Igreja católica é uma instituição necessitada de conversão, é perfeitamente admissível que os que dela se afastaram estejam mais certos do que os que em seus templos se reúnem para cantar e bailar em honra de Deus. Se o Papa tem razão, então a hora de cantar não é esta em que o mundo vive. Então chegou a hora de preparar a Igreja para a longa travessia que a passagem pelo Terceiro Milênio irá representar.
           
Uma Igreja paralítica, sentada em cadeira de rodas, dirigida por homens que têm pavor de mudanças e de ideias novas, não representa ambiente favorável para manifestações de uma fé voltada para o amanhã e cujo compromisso histórico essencial é com o futuro. Esta Igreja nós, católicos, não a temos. E creio que todos os demais irmãos nossos em Cristo não se encontram em situação melhor. Ajudar a uma pessoa a se converter a Cristo não consiste apenas em levá-la a se inscrever como membro de uma Igreja. Há Igrejas em que o dízimo é mais importante do que a solidariedade fraterna.

Entrar a fazer parte de uma Igreja necessitada de conversão, mas que nada faz para tornar efetiva esta conversão, é o mesmo que pactuar com uma situação de pecado. Grande parte dos fiéis que se afastaram da Igreja católica não o fizeram por razões que não podem ser qualificadas simploriamente como “perda de fé”. É possível que o contrário esteja acontecendo e que na raiz deste distanciamento esteja um modo mais amadurecido de compreender tanto a fé em Cristo quanto a verdadeira natureza de uma Igreja que não seja apenas uma espécie de feudo eclesiástico.
           
Só merece o nome de cristão aquele que de alguma forma acabou de morrer para si próprio e para o mundo. Cristão é alguém que nasceu de novo, como disse Jesus em seu diálogo noturno com Nicodemos. Sentir a vida como um permanente crescendo, como flor que a cada dia desabrocha um pouco mais: é esta uma experiência que só a esperança cristã é capaz de proporcionar.


O homem é um ser espiritual dotado pelo Criador de potencialidades ilimitadas. Não foi feito para viver apenas num curto e sofrido lapso de tempo. Seu verdadeiro tempo de vida não é este que ele compartilha com o animal e a planta. Não foi feito para este mundo onde tudo acaba um dia e termina por se degradar. Seu verdadeiro habitat, ao qual aspira com todas as fibras do seu ser, é o Local II, diria Monroe. Um lugar onde a vida se transforma em visão e êxtase.    
Padre Marcos Bach