terça-feira, 30 de setembro de 2014

A PRESENÇA DO BEM E DO MAL

É falsa e preconceituosa, porém, amplamente generalizada, a crença de que só com grande esforço se consegue evitar o mal e que só com muita fadiga e suor se consegue avançar nos caminhos da perfeição. Aplicamos à pratica do bem o que lemos no Livro dos Provérbios: “Os bens que facilmente se ganham esses facilmente se perdem” (Pr 13,11). Imaginamos a escalada da montanha da perfeição com o trabalho que um alpinista enfrenta ao escalar um Everest ou um Aconcágua.

Descer é sempre mais fácil do que subir. Mas é mais perigoso do que subir. Que riscos corre um Condor que plana muito acima do pico mais elevado da Cordilheira dos Andes? Corre ele, por acaso, o perigo de se perder no infinito?

Perderia o seu latim quem quisesse convencer uma águia de que o chão oferece mais segurança do que a imensidão do céu azul. Ela poderia dizer que existe uma diferença total entre o que um elefante considera ser seguro e o conceito que uma ave tem sobre o mesmo assunto.

Criança adora subir em árvore. Mas aprende bem depressa que os adultos, as pessoas grandes, não gostam dele nem aproveitam este tipo de esporte. Por ela toda criança passaria mais tempo voando por aí do que com os pés no chão. Mas tanto a experiência própria como a palavra dos pais acabam por convencê-la de que o ser humano não foi feito para voar. Ela aprende que ser avoado não é bom e que todo aquele que deseja ter êxito na vida tem que permanecer com os pés no chão.

Qual o ser humano que se despede do seu tempo de adolescência de forma tranquila, sem deixar para trás um monte de problemas não resolvidos? Com o início da idade adulta e defrontando-se com os problemas típicos da nova fase evolutiva, resolve esquecer o passado, varrendo-o da consciência consciente para os planos mais escusos do inconsciente.

O eu inferior ou dimensão inconsciente do Eu Total contém e abriga todo o lixo psicológico. É inútil fingir que este lixo desapareceu só porque dele nos arrependemos ou então porque dele nos esquecemos. Por mais recôndito que seja o lugar para o qual varremos a lembrança das nossas experiências desagradáveis do tempo de criança, elas continuam vivas e atuantes numa medida que não conseguimos nem entender e menos ainda admitir.

Como lidar com este fato tão real quanto a existência de um Ego Consciente? Circula a ideia de que existe em nosso interior uma espécie de “banda podre” composta da presença de experiências negativas e frustrantes, cujo caráter maléfico desconhecemos. O fato de não terem sido reconhecidas reforça o seu poder de destruição.

Quanto mais você se convence de que o mal só existe fora de você e que quando pratica o mal é porque sucumbiu a uma tentação externa mais forte que sua vontade, você está sempre disposto a concordar com quem o declara vítima da tentação do que pecador responsável pelo que fez. Seu discurso político tem que ser este: “Proletários, vós todos sois vítimas da exploração capitalista. A culpa maior de vocês é permitir que eles, os capitalistas, continuem vivos”! O início da Revolução Bolchevista foi marcado pela ação dos pelotões de fuzilamento. “A justiça sai do cano de metralhadoras”. Esta é uma das muitas verdades do “poeta” Mao Tse-Tung.

A tese de que o mal atinge as pessoas vindo de fora poderíamos substituí-la por esta outra: “O mal que atinge as pessoas vem todo ele de dentro delas mesmas”!  Não é a sociedade que perverte os indivíduos, mas são indivíduos perversos que pervertem as instituições sociais. Não foi o povo alemão que perverteu Hilter, mas foi Hitler e seguidores que perverteram grande parte do povo alemão.

Como fenômeno social e político o nazismo desapareceu, mas como fenômeno psicológico e cultural ele continua vivo. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos revelou que o povo americano teria apoiado o discurso de Hitler ainda mais do que o fez o povo alemão, caso a situação política e econômica fosse a mesma que ajudou Hilter a assumir o poder.

É uma ilusão perigosa achar que com o fim do nazismo e do comunismo a humanidade se livrou de dois dos piores demônios da sua história. O povo alemão e o povo russo não passaram por um processo de purificação interior. Em ambos os casos o eu inferior das pessoas envolvidas permaneceu intocado. Não se falou em conversão. Parecia que bastava cortar a cabeça do monstro para que o corpo social todo voltasse a adquirir a saúde perdida.

Hitler, como Stalin, ambos possuíam um eu inferior dotado de um elevado grau de destrutividade. Com o poder deste eu inferior ambos alimentaram as massas populares que os aplaudiam.

É sempre prejudicial ao extremo levar uma pessoa a se despedir do seu passado negativo pura e simplesmente. Dizer a um pobre pecador: Teus pecados estão perdoados é uma coisa e dizer a ele: teus pecados deixaram de existir é outra coisa bem diferente. Para quitar a conta, toda a absolvição de um padre não basta. É preciso avançar mais um passo. Este passo consiste em trazer este pecado à tona da consciência consciente, encará-lo de perto e admiti-lo não como fraqueza da nossa vontade imperfeita, mas como fruto da presença do mal em nós.

O autor dos meus pecados sou eu mesmo! O que o tentador externo fez foi soprar na mesma direção que eu. O poder do espírito mau seria nulo não fosse a poderosa colaboração que lhe prestam as suas vítimas. Por mais que procuremos encontrar uma explicação para esta vergonhosa conivência da consciência humana com os mecanismos destrutivos aninhados em seu inconsciente, sempre acabamos esbarrando com o que a Bíblia chama de “Mysterium Iniquitatis”! A presença do mal no mundo, mais do que uma desgraça ou calamidade, é um mistério. Isto é, uma dimensão da “Realidade Plena” que ainda não chegamos a compreender.

Se fôssemos um pouco mais lógicos e coerentes com os ensinamentos, veríamos que Jesus não teve a intenção de abolir o pecado ou de erradicar o mal. Curou doentes, mas não aboliu o mal. Curou doentes, mas não aboliu a doença. Expulsou demônios, mas não pôs fim à sua presença no meio dos homens. Quando os discípulos lhe pediram: “Mestre, ensina-nos a rezar”, Jesus lhes ensinou o Pai Nosso! Lá se encontra um pedido: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-os do mal”. Com esta formulação deu a entender que não compete só a nós terminar com a presença do mal em nós e no mundo. Esta é uma tarefa que Deus reserva a si com a nossa colaboração.

“Sem mim nada podeis fazer”! Esta palavra de Jesus se aplica de modo todo especial à luta humana contra o mal. Estamos cansados da presença histórica de falsos salvadores da humanidade. Rios de sangue inocente foram derramados até hoje com o pretexto de que a humanidade necessita de uma Nova Ordem Social.

Padre Marcos Bach

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

JUSTIÇA CONSCIENTE

Entre bandidos o que vale é a força, a astúcia e a boa pontaria. O gatilho rápido é a marca registrada do bom bandido. Se queremos cantar vitórias dignas de um ser inteligente como o ser humano, temos que ir à procura de um modo mais evoluído de organizar nossos relacionamentos sociais.

Os demais membros da biosfera parece que ainda não o descobriram, mas o homem já descobriu o nível de organização social, que é o jurídico. Um bando de babuínos não se preocupa com este detalhe, mas um corpo social humano deixa de ser humano quando nele não existe a preocupação pela justiça. Para ser humana, uma organização social tem que ser justa.
           
Nela a distribuição de direitos e deveres deve ser equitativa. Quem tem mais direitos, tem também mais obrigações; e quem tem mais obrigações, tem também mais direitos. A esta forma de distribuir as responsabilidades sociais damos o nome de justiça comutativa ou justiça distributiva.
           
Pode-se considerar justa uma organização social em que o exercício do poder e a autoridade de impor a sua vontade aos demais é definida de tal maneira que todos tenham acesso a ela. Numa organização social em que isto não acontece, não pode ser considerada justa no sentido jurídico do termo. Pode ser eficiente, mas é estruturalmente injusta.  

Onde o exercício do poder é privilégio reservado a poucos, onde a transmissão deste poder é feita a portas fechadas e sem a participação da comunidade, o que nos é dado ver é um tipo de organização social que só consegue sobreviver em ambientes sociais em que o nível de consciência dos indivíduos é o mesmo que assegura a um bando de babuínos a possibilidade de sobreviver.
           
Existe uma diferença essencial entre a liberdade de viver a vida e a luta pela sobrevivência. Quando um chimpanzé bonobo se deita na grama e passa a contemplar o firmamento, não estamos presenciando um espetáculo relacionado com o passado, mas nos encontramos defrontados com uma atitude tipicamente humana ou pré-humana, que é o “dolce far niente”. Nos momentos de lazer, dedicados ao “otium cum dignitate” dos romanos, tomamos consciência do que somos sem tomar em consideração o que fazemos ou deixamos de fazer.

A ordem moral representa um patamar evolutivo superior ao meramente jurídico. Para que se tenha um organismo social justo, basta “que se dê a cada um de acordo com suas necessidades, exigindo dele, em contrapartida, de acordo com sua capacidade”, como queria Karl Marx. Já a criança se irrita quando não a deixamos fazer o que ela quer e como o quer fazer. É preciso matar, por completo, a sensibilidade moral de uma pessoa se queremos que ela se submeta a um regime social como o que Stalin pretendeu impor ao povo russo.
           
A ordem jurídica, essa sim, pode ser imposta, mas a ordem moral não. Ou é aceita livre e espontaneamente, ou, então, perde sua identidade e baixa de nível, indo fazer companhia aos atos determinados pelo império da lei. A criança tem razão: “o brinquedo perde a graça na medida em que deixa de ser espontâneo”.
           
Do ato moral se pode afirmar o mesmo: “Ele só é bom se for o fruto de uma decisão livre e espontânea”. Se formos bons apenas porque temos a obrigação de sê-lo, nossa justiça ou nossa virtude merecerá o mesmo comentário com que Jesus se pronunciou em relação aos fariseus: “Se vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20).
           
É um erro crasso reduzir a moral a um código de leis, e reduzir o ato moral às dimensões de um simples ato de submissão. Um cristão adulto não concebe mais o erro de confundir maioridade ética e ordem moral com submissão a normas e leis. “Depois que tiverdes feito tudo o que vos foi mandado, dizei: somos servos inúteis” (Lc 17,10). Ao cristão não basta cumprir ordens, fazer tudo o que é prescrito. Isto os fariseus sabiam fazer muito bem, e os de hoje são especialistas nesta arte de “tapar o sol com peneira”.

Por falta de conceitos claros a quase totalidade de nossos cristãos se dá por satisfeita quando atinge um nível moral geralmente mais modesto do que ousa admitir. Quando a sua consciência não os acusa de infração séria, já se dão por bons cristãos. Acham um exagero a afirmação do Pe. Häring quando diz que “hoje em dia, os piores pecados e os que mais se cometem, são pecados de omissão”.
           
O bem que se podia fazer, mas que não se fez, também pesa num balanço moral honesto e sincero. Para estar em dia com as exigências da fé em Cristo não basta estar em dia com os Mandamentos de Deus. Bons cumpridores da lei, isto os fariseus também eram. Mas seu comportamento foi criticado com veemência por Jesus porque era hipócrita. “Sois como sepulcros caiados, belos por fora, mas repletos de podridão por dentro” (Mt 23,27).
           
Seria injusto afirmar que o cristianismo é composto em sua quase totalidade por hipócritas. Que os monsenhores da Cúria romana ou os membros do Santo Sínodo ortodoxo são todos falsários. Mas o que se pode afirmar é que todos eles se encontram bem distantes do ideal cristão. Todos aqueles que se consideram superiores aos outros são hipócritas. No Reino de Deus não há lugar para classes e lá ninguém é maior ou menor que os outros, pois lá todos são irmãos e irmãs.
           
Numa boa Comunidade Cristã não há espaço para superiores e súditos. Numa boa família, o caçula não é apenas o irmão menor, mas é também o mais querido de todos. Não há, numa Comunidade de Fé em Cristo, lugar para a presença de quem pode mais que os outros.

Padre Marcos Bach

terça-feira, 23 de setembro de 2014

AVANÇO EM DIREÇÃO À COMUNIDADE ECLESIAL

A Fé nos revela o que podemos admitir como verdadeiro e certo. A Caridade nos assegura que podemos contar sempre e em tudo com o amor benevolente de Cristo. A Esperança nos leva a olhar para o futuro, fixando nossa Fé em tudo aquilo que ainda nos falta para atingir a Plenitude Total, o Pleroma do apóstolo Paulo. A Esperança nos diz que o Essencial do Projeto Messiânico de Jesus ainda está por acontecer.

O cristão tradicionalista e de mentalidade conservadora associa a sua fé a fatos do passado histórico da vida de Cristo.

O cristão verdadeiramente merecedor deste título sabe que o cristianismo autêntico é um projeto inacabado que de momento se encontra ainda em fase inaugural. Retira do passado e da tradição aquilo que pode ser integrado em sua esperança e esquece tranquilamente tudo o que não se encaixa em sua esperança. O saudosismo não é uma virtude cristã! A saudade que atormenta o espírito de um cristão é a saudade do céu. No céu cristão não se entra voltando para trás e recuando no tempo. O habitante do céu cristão não é mais um crente, mas um visionário, pois a verdade não chega mais a ele sob a forma de dogmas, mas sob a forma visionária da Visão Beatífica.

Quem quer se preparar para esta nova forma de vida tem que começar a praticá-la já aqui e agora! Existe uma forma de conhecimento ao qual se chega através da contemplação que, em certa medida, embora modesta, representa uma antecipação da Visão Beatífica: é o conhecimento intuitivo!

O contemplativo, assim como o feliz habitante do céu, é alguém que desobstruiu o canal que liga o consciente com o Supraconsciente! Em lugar do cristão tradicional que busca a verdade em dogmas e doutrinas, o cristão do futuro alimenta a sua Fé em Cristo com conhecimentos que lhe são comunicados pelo seu Supraconsciente.

A verdade que nos liberta não é aquela que construímos somando verdades parciais, mas sintetizando numa única Verdade Fundamental a todas elas. E esta Verdade Básica é a seguinte: nosso futuro pessoal, como o da humanidade toda, interessa e preocupa a Deus muito mais do que a nós! Queremos melhorar o mundo que nos cerca, mas não nos interessamos muito pelo mundo que nos aguarda, oculto por ora nas sombras do imprevisível.

O cristão politicamente engajado compartilha com Marx e os marxistas a crença de que as pessoas são e serão sempre o que a sociedade tiver feito delas.

Cristo não veio com a intenção de mudar a sociedade em que vive! O dogma fundamental do cristianismo fiel a Cristo é o seguinte: a sociedade será sempre o que são as pessoas que a constituem! Uma sociedade livre só se constrói com pessoas livres. Cem mendigos não fazem um rico. O verdadeiramente rico não é aquele que tem mais, mas aquele que precisa menos!

Bom navegante na época do barco à vela era aquele que sabia aproveitar bem o vento de que dispunha! Mesmo com pouco vento é possível avançar e progredir!

A Sociedade com que Marx sonhou é comparável a um barco movido a motor. O Estado se encarrega de promover o progresso do corpo social todo através do recurso ao planejamento.

Uma Comunidade é um organismo social que funciona de forma espontânea. Não se pode submetê-la a um planejamento meticuloso sem comprometer aspectos essenciais do seu funcionamento correto. Cada fato determina o seguinte. A regra deixa de ter a importância que tinha no contexto de um corpo social submetido a exigências previamente estabelecidas.

Uma Comunidade que é Eclesial, quer dizer, que não é uma simples Pia Associação ou uma espécie de Confraria ou Terceira Ordem, é uma Igreja! Mais exato seria dizer que ela é a Igreja em Miniatura! De acordo com a concepção holográfica o universo não consta de partes que se juntam, mas é um Todo (Holos, em grego) que, ao desdobrar-se, continua presente em cada parte. Uma partícula não é um fragmento do Todo, mas é uma reprodução deste Todo em escala menor!

Uma eclesialidade não possui cunho confessional. A grande Mãe Igreja abrange muito mais do que o pequeno punhado de Igrejas confessionais, pois inclui em seu Corpo Místico todos aqueles que o teólogo jesuíta Karl Rahner define como “cristãos anônimos” (aconfessionais e intereclesiais). Esta aposta representa, antes de mais nada, um ato de fé na humanidade e no que de mais humano cada pessoa traz em seu íntimo. Esta fé se traduz num voto de absoluta confiança em relação aos demais membros da nossa Comunidade.

O Amor que nos une é de natureza visionária e transpessoal. Nossa amizade se baseia não em atributos já existentes, mas no que nela se encontra adormecido e em estado germinal. O fator que nos une e nos atrai é a beleza da sua alma. Não nos amamos porque existe um mandamento que nos obriga a amar uns aos outros. Em outras palavras: nosso amor é de natureza estética e extática, pois não nos contentamos em circunscrevê-lo a limites meramente éticos ou jurídicos. Possui a força e o ímpeto inerente a toda a grande paixão. Paira acima das vicissitudes do tempo e dos estragos que a idade costuma fazer numa pessoa com o passar do tempo. É um amor que ressuscita ao que ama e ao que é amado com este amor. Ambos se sentem eleitos pela graça de Cristo a viverem uma Vida Nova, bem diferente daquela que viviam antes. É no terreno do relacionamento amoroso que se encontram os fatores que distinguem a multidão dos chamados, do pequeno punhado dos eleitos!

O apóstolo Paulo chama de eleitos os membros das Comunidades Cristãs por ele fundadas! Na visão Eclesial de Paulo uma Comunidade Cristã nasce da Ação do Espírito Santo, sendo a pregação apenas um elemento secundário.

Quem abraçou a Fé em Cristo já está salvo! Os eleitos que formam a Comunidade Cristã não são pessoas que ainda andam à procura da salvação, mas são pessoas que já a encontraram. Unidos a Cristo e em Cristo formam um poderosíssimo centro de atração e de irradiação energética, dedicados à missão de impregnar as estruturas sociais do ambiente em que atuam com o Amor de Cristo. Só poderão desempenhar esta missão a contento de modo satisfatório se aprenderem a se amar uns aos outros como Cristo os ama! Com este amor no coração um cristão se torna simplesmente imbatível e pode enfrentar as estruturas do crime organizado pelos poderosos com a tranquila certeza de que se encontra do lado Vencedor da Vida!

Padre Marcos Bach

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

EVOLUÇÃO E ESTAGNAÇÃO

Se os cientistas que estudam a origem do homem não andam equivocados, o homem deve sua origem biológica a uma célula microscópica! E a vida desta célula surgiu quando ela começou a se dividir em duas e quando deu início a um processo biofisiológico que chamam autopoiese.

O que distingue uma célula viva de uma molécula sem vida é um detalhe aparentemente sem grande importância: a célula viva cuida de si, administrando as potencialidades desta nova forma de ser. Ela se multiplica e ao mesmo tempo se diversifica. Foi o jesuíta Teilhard de Chardin que chegou à conclusão de que a união só é verdadeira quando diversifica. A uniformidade que consiste na reprodução do mesmo é a âncora que segura o navio, mas não o põe em movimento. Onde nada de novo acontece, a evolução cedeu lugar à estagnação.

Autores há que definem a mulher como pólo repousante da sociedade humana. São elas, as mulheres, que asseguram a continuidade não só da espécie humana, mas também de tudo o que no passado a humanidade já realizou no plano sociocultural.  Tomam como prova de suas teses o fato do óvulo feminino ser tão passivo em comparação com a agressividade e poder de penetração do espermatozoide masculino. É função do óvulo esperar que alguém venha procurá-lo. O comportamento de um espermatozoide o leva a viajar muito e a sair constantemente do lugar. A consequência psicoantropológica desta concepção é a tese de que o feminino é o pólo respousante de um corpo social, ficando o papel ativo e verdadeiramente criativo por conta do representante masculino. Esta diferença é usada para justificar a superioridade do masculino sobre o feminino.

Por detrás de toda esta concepção discriminatória encontra-se bem aninhado um erro de categoria que confunde sexo com sexualidade. A Palavra de Cristo que afirma que “no céu não se casa mais, nem mulher alguma será dada em casamento, mas que homens e mulheres serão com os anjos do céu” (Mt 22,30), deu azo a muita confusão.

Monges e freiras espalharam a falsa crença de que o corpo ressuscitado não possui mais órgãos sexuais, já que a reprodução da espécie deixou de fazer parte da atividade sexual humana. Anjos não procriam. Certamente faria um grande benefício a homens e mulheres livrando-os da necessidade de procriar.

Ser mãe não contribui em si para elevar uma mulher a um patamar evolutivo mais elevado e mais nobre. Ter filhos e cuidar deles não é a mesma coisa que ser mãe. É preciso não perder de vista que a parcela feminina do gênero humano constitui quase uma espécie à parte e que as diferenças que a caracterizam são definitivas. Pois são estas diferenças, incluídas as de natureza anatômica, que dão sabor e encanto ao convívio de homens e mulheres. Só um grande amor é capaz de dar uma resposta adequada ao desejo sexual de ambos! O patamar evolutivo que o gênero humano atingiu até agora é demasiadamente rudimentar para que se possa construir sobre ele uma antevisão escatológica do futuro sexual da humanidade. O que em cada um de nós ainda não teve tempo de brotar é muito mais importante, sob o aspecto evolutivo, que tudo aquilo que nossos cientistas e teólogos conseguiram nos oferecer até hoje. Chegou a hora de prestar atenção a outras vozes, mais familiarizadas com o que em cada ser humano ainda está por nascer!

Padre Marcos Bach

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A ANTEVISÃO DO FUTURO DA HUMANIDADE

 Ao assumir na Pessoa Divina de Jesus a condição humana, Deus em pessoa tomou a si a tarefa de fazer dos filhos dos homens filhos de Deus. É nesta condição de herdeiros divinos que os filhos dos homens irão repartir daqui para frente a missão de transformar a humanidade em raça eleita, convidada a compartilhar com o Criador a nobre tarefa de impulsionar o universo todo em direção a um novo e mais elevado plano evolutivo.
           
Não se pode pensar como Deus pensa sem ter a ousadia de pensar grande. Quem não tem a coragem de apostar de preferência no impossível e no improvável não entendeu Jesus.
           
O futuro da humanidade não é um capítulo pronto e já filmado, à espera de ser posto no ar. Dele só temos conhecimento de algumas cenas iniciais sem ter a menor ideia de como tudo vai continuar e menos ainda de como toda esta “Comédia Divina” vai acabar. Dante não tirou seus condenados do inferno, mas é evidente que eles não poderão ficar lá para todo o sempre. A história da humanidade só termina quando o último passageiro humano tiver embarcado de volta ao reencontro com seu Criador. O inferno não é eterno, eterno é o céu.
           
Também os demônios do inferno podem salvar-se e fugir à condenação desde que o queiram. Deus tem paciência e sabe esperar. Também Lúcifer tem toda uma eternidade à disposição para trocar o seu grito de guerra por uma declaração de amor.

Cientistas há que chegaram à conclusão de que a antevisão do futuro da humanidade é assunto que foge da sua competência. O que um cientista observa não é o essencial. A descrição que um sociólogo faz da sociedade não difere essencialmente da que um médico faz ao descrever um cadáver. Quem sabe: esta tarefa, a de antever o futuro da humanidade e o perfil do Homo pós-sapiens cabe a filósofos, isto é, a pensadores que usam a razão como instrumento de observação e de interpretação da realidade?
           
O culto da razão da época do Iluminismo terminou melancolicamente ao permitir coisas como a guilhotina, os gulags soviéticos e os campos de extermínio nazistas. Não há governo que não procure justificar sua política apelando para razões de Estado. Não sei se existe outra faculdade humana que se tenha prestado a abusos mais que a “deusa razão”. Não faço parte do time dos que depositam muita fé nas luzes da razão.
           
Por racional entendo todo conhecimento lógico obtido por meio do raciocínio. O caráter linear do raciocínio lógico impede o pensador lógico de compreender a estrutura do universo tal como no-la revelam as ciências da atualidade, além de não esgotar as potencialidades todas da mente humana.
           
A razão é apenas um departamento da mente humana. E o conhecimento lógico é apenas o mais modesto dos instrumentos que capacitam o homem a tomar consciência de si e do universo em que vive.
           
David Bohm dá ao patamar mais sutil e elevado da mente humana o nome de Insigth, o que significa intuição. Intuir quer dizer dispensar raciocínios e cálculos e penetrar diretamente no âmago da realidade. Intuir significa “ver” e o conhecimento intuitivo é essencialmente visionário.
           
O visionário no caso não é alguém que faz do pensamento um termo de chegada. Seu modo de pensar não é conclusivo. É antes provocativo e estimulante. Não pretende chegar a conclusões. Nem é seu propósito compor uma lista de verdades definitivamente estabelecidas.
           
No período final da sua vida Einstein se tornou mais visionário do que se podia esperar do criador da Teoria da Relatividade. “O universo é um mistério”, dizia ele, “e nossa missão essencial não consiste em explicá-lo, mas em admirá-lo”.

Padre Marcos Bach

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PRESENÇA DO AMOR
           
O que você responderia a alguém que lhe dissesse: “Eu amo a quem quero, porque quero e como quero! Não admito que alguém venha a intrometer-se neste assunto com a intenção de me fazer prescrições”!
           
Quem ama não ganha nada, mas perde tudo o que não é essencial! O amor enriquece a quem ama e ao que é amado! O amor dispensa acréscimos e compensações. Assim como o valor intrínseco do ouro nada tem a ver com a cotação que possui no mercado, do mesmo modo o amor independe da cotação moral ou religiosa.
                       
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é, antes de mais nada, uma complexa e poderosa manifestação de amor!
                       
O que a muitos se parece com distância, a outros se apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do presente com o passado!
           
O que é mais importante: saber como nossos antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
           
O passado é pobre em lições verdadeiramente significativas!         É o futuro que devemos interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das intenções de Deus!
           
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado, presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
           
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos. Não é correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo com o que acontece no interior de uma semente em trabalhos de parto!

Um modo de “andar à toa na vida” é pôr-se à procura do lugar onde Deus se encontra e onde é possível encontrar-se com Ele. Perde seu precioso tempo quem for procurá-lo em Roma, Meca ou Jerusalém. Sairá de lá frustrado quem o foi procurar no centro de uma galáxia. Nem o interior de um buraco negro é espaço indicado para quem procura um lugar onde morar. Moradia boa é um lugar onde ir e vir é permitido sem a menor restrição.
           
A Casa do Pai, lugar onde Deus mora de acordo com a palavra de Jesus, só pode ser um espaço em que o trânsito não obedece à regra alguma. Há espaços que prendem e há espaços que convidam a voar. Não se deixar prender a lugar algum é nisto que consiste a essência da “Liberdade dos Filhos de Deus”!

Não ter mais obrigação alguma é nisto que consiste a plena Liberdade de Deus. Toda lei que gera obrigação é inimiga da liberdade humana, a qual, por sua vez, é reflexo da liberdade divina do Criador. Dispensar a lei e não necessitar mais dela é o ponto alto em que a liberdade do homem mais se aproxima da liberdade de Deus.
           
É um erro lamentável equiparar e identificar entre si responsabilidade moral e obrigação. O mais responsável dos membros de uma comunidade humana não é aquele que se cercou da mais compacta teia de obrigações.

A “Liberdade dos Filhos de Deus” é um convite e não uma lei no sentido jurídicomoral do termo.

O apóstolo Paulo, que mais se interessou por este aspecto dos ensinamentos de Jesus, propõe aos fiéis de sua Comunidade que tomem como modelo éticoespiritual não mais a lei, mas a liberdade de Deus. Para Paulo ser tão livre como Deus é o objetivo último de toda a Ética Cristã. Para o Apóstolo das Gentes só há um meio de ter uma ideia aproximada da liberdade de Deus. Este meio é a vida de Jesus.

Jesus não veio trazendo em sua bagagem novas formas de arrocho social. Não só não sancionou as que já existiam, mas as anulou a todas. “Depois que tiverdes feito tudo o que é da vossa obrigação, dizei: somos servos inúteis” (Lc 17,10).
           
A passagem da “Ordem da Lei” para a “Orto Charitatis et Libertatis” preconizada por Cristo e que o apóstolo Paulo elevou à condição de “Leitmotiv central” de sua pregação, apenas se encontra em sua fase inicial. Dois mil anos de cristianismo não foram suficientes para romper a barreira que os “Doutores da Lei” armaram para impedir que ela passe da periferia para o centro. Este passo teria que coincidir necessariamente em Declaração dos Direitos Fundamentais da pessoa humana em substituição aos atuais Códigos de Direito. Enquanto a liberdade humana for apenas tolerada como se tolera um mal necessário, vamos continuar a nos ver envolvidos nas mais diversas formas de violência institucionalizada.

Padre Marcos Bach

terça-feira, 9 de setembro de 2014

AS LIÇÕES DO AMOR

A loucura com que Cristo ama esta humanidade enlouquecida ainda não mereceu a honra de uma Encíclica papal.
           
Quem quer ser médico não pensa em inscrever-se logo de vereda numa Faculdade de Medicina. Passa a frequentar, antes de mais nada, o primeiro ano de um Curso Primário. Onde poderá encontrar uma “schola affectus” aquele que um dia pretende diplomar-se como adulto numa “schola affectus” de grau superior?

Onde vai aprender as primeiras lições de amor? Não é na família que o menino aprende a ser pai e a menina a ser mãe? As mais preciosas lições da vida ou se aprendem na primeira infância e no seio de uma família que mereça este nome, ou não se aprendem nunca mais. É no seio da vida familiar que homens e mulheres aprendem a se respeitar mutuamente e a se amar como irmãos.
           
O único pecado que cultura alguma deixa de condenar como imoral é o incesto. É no contato com a filha que um pai aprende como respeitar uma mulher. Quem não aprendeu na família que o desejo pode ser o pior inimigo do amor, poucas chances terá de aprender a lição em outra escola! É, portanto, pela revitalização da família que devemos começar.

É pela reforma do Ensino Primário que é preciso começar se quisermos um dia poder contar com Universidades de elevado padrão cultural e pedagógico. Não há Universidade capaz de substituir a família e de suprir suas deficiências de um sistema educacional basicamente falido.

Boa parte do conflito de gerações provém do fato de que cada geração nova vê o amor com outros olhos que a anterior. Está ficando cada vez mais claro que o futuro da humanidade é uma questão de amor! E se é uma questão de amor, é também uma questão de gosto. O santo que merecia ser canonizado é aquele que declarasse alto e bom som: “Amo porque gosto de amar! É o único prazer capaz de me seduzir a ponto de dar a própria vida por aqueles que amo”!
           
Se Jesus tivesse tido a oportunidade de pronunciar um discurso de despedida momentos antes de sua morte, talvez teria dito: “Morro feliz, porque morro amando”! Feliz o discípulo de Cristo que pode dizer o mesmo na hora de morrer!
           
Jesus amou indo até o extremo limite da capacidade humano-divina de amar! “Amou os seus até o fim” (Jo 13,1).
           
Somos capazes de conduzir uma guerra até o seu mais trágico fim, como aconteceu na II Guerra Mundial. Mas somos incapazes de conceder à lógica do amor e da solidariedade fraterna o mesmo direito.
           
Por ora só Deus se dispôs a amar a humanidade como todos poderíamos amar-nos se assim o quiséssemos! O que muita gente critica no jovem de hoje é sua alergia a compromissos. Tudo o que nós, adultos, definimos como compromisso não passou pelo crivo da consciência do mundo juvenil. Os jovens não são propensos a continuar prisioneiros do passado e a assumir compromissos que os obrigam a viver a vida de costas para o futuro!
           
Houve época em que era praticamente impossível imaginar sequer um futuro diferente do passado. Hoje temos conhecimento suficiente para desdobrar o futuro em uma variedade bem grande de mundos alternativos. Assim como a natureza nos oferece uma impressionante variedade de paisagens, umas tão diferentes das outras que nem parecem fazer parte do mesmo planeta, do mesmo modo a mente humana tem condições de criar uma paisagem cultural igualmente variada. O perigo metafísico que ronda as religiões monoteístas reside na sua incapacidade de integrar o princípio da variação em sua imagem de Deus. Um Deus que não muda nunca e que só possui um único rosto, não combina com um universo tão diversificado como o nosso. É bem curta a distância que separa um monoteísmo mal entendido de outras manifestações monistas como a monotonia, o monolitismo e a monarquia.

“Dia virá em que, depois de dominar os ventos, as marés e a gravidade, buscaremos em Deus as energias do amor, e nesse dia, pela segunda vez na história do mundo, o homem terá descoberto o fogo” (Teilhard de Chardin).

Padre Marcos Bach

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O SENTIDO PRIMEIRO E ÚLTIMO DA VIDA

Muitas e contraditórias são as necessidades do homem. Infeliz é aquele que corre da cozinha à sala de visitas sem saber como sair da confusão.

Quem não aprende a arte de amar jamais saberá quem ele é!

- E o que é pior: jamais saberá o que fazer com a vida que traz em si!

- É amando que descobrimos a nossa verdadeira natureza! 

- É amando que descobrimos a distância que no campo evolutivo nos separa do nosso primo mais próximo que é o chimpanzé bonobo!
           
- Confrontado com uma galáxia, o ser humano sentir-se-á esmagado por ela!

- Confrontado com a fugacidade do tempo de vida com que pode contar, sente-se ludibriado e traído, pois em seu íntimo mais profundo sente-se chamado à imortalidade!

- O amor se manifesta nos seres humanos sob as mais variadas formas.

- O amor é a base de todo e qualquer relacionamento do homem com o universo em que vive.

- O amor é uma forma de tomar consciência tanto de si mesmo como do universo que nos cerca.
           
Todo o seu ser resiste com tenacidade indomável à ideia de morte!

É comovente assistir à luta de um doente em fase terminal por uns poucos dias a mais de uma vida que já não merece este nome.

O trabalho merece um lugar de destaque na lista dos fatores de alienação social e psicológica toda vez que consome mais tempo do que o estritamente necessário para o sustento. Torna-se fator de alienação moral na medida em que dificulta ou até mesmo impede o contato com outras pessoas e a comunhão interpessoal!
           
Não é o trabalho em si que aliena as pessoas, mas o fato de induzi-las a se esquecerem do sentido último da vida humana. O ser humano não foi feito para trabalhar. Foi feito para muito mais do que gastar a parcela mais nobre da sua vida preocupado “com o que comer e com que vestir-se” (Lc 12,22).
                       
O papa Pio XII queixou-se certa ocasião do excesso de ativismo reinante no mundo moderno! 
           
Maria nos ensina que sentar-se aos pés de Jesus e escutá-Lo é mais importante que correr atrás do relógio!

“Ama e faze o que quiseres”, dizia Santo Agostinho, dando a entender que até o mais bem elaborado código de moral é incapaz de suprir a falta de amor!

Padre Marcos Bach

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O PODER DA ORAÇÃO
O poder da oração é real por duas razões:
1º - É vibração energética espiritual de altíssima intensidade.
2° - É atividade em que a participação de Deus e decisiva.

Logo, a oração é um modo de concentrar quantidade formidável de energias superiores extremamente poderosas. O uso que se faz destas energias é, no mínimo, tão decisivo quanto o próprio potencial energético disponível. Aí, me parece, é que entra o abuso.

Desviar as energias espirituais, mobilizadas por meio da oração, de seu objetivo primordial, só pode ser tomado como abuso. Qual é, porém, esta finalidade principal da oração? É a união com Deus. É a santificação, a identificação cada vez maior com a pessoa de Jesus Cristo.

A finalidade da oração é colocar o ritmo do nosso amor em sintonia com o Amor Divino. Pois a oração faz com que sejamos assimilados de forma crescente ao ambiente divino em que “vivemos, somos e nos movemos” (At 17,28).

Todos os grandes artistas, estadistas e santos de todos os tempos foram pessoas que meditavam e refletiam intensamente. Encontravam-se, por isso, mais próximos da realidade do universo paralelo, onde o contato com a verdade dispensa a mediação dos sentidos e da razão.

O místico sempre acreditou que no interior da consciência humana é o local onde a criação atinge os mais elevados patamares de desenvolvimento e perfeição. O retorno à sua origem espiritual o universo não o fará “explodindo”, mas “implodindo”, tornando-se consciência reflexa. A fuga das galáxias e a fuga do homem moderno para a atividade exterior não representam mais que um momento secundário no conjunto da evolução da matéria. No momento essencial segue em sentido oposto, de recolhimento e de interiorização. Não ocorre, no tempo existencial de cada ser humano, nada verdadeiramente mais digno de sua condição espiritual que o encontro face a face consigo mesmo. Pois é este o objetivo do encontro face a face consigo mesmo. E é este o objetivo da meditação.

É certo, para poder assumir pessoalmente a responsabilidade plena por sua vida, é necessário um grau relativamente elevado de maturidade psicomoral. A pessoa deve ser capaz de elevar-se acima da inércia paralisante do ambiente social em que vive. Mais, deve querer sair da mediocridade de uma existência asfixiada e asfixiante se este for o caso. Tudo o que vier pela frente depois desta opção decisiva terá que ser levado “no osso do peito”. Aquele que nesta jornada tiver a sorte de encontrar um companheiro de aventuras, está com a metade das chances de sucesso garantidas.

Padre Marcos Bach