quarta-feira, 27 de maio de 2015

UNIDADE NA DIVERSIDADE

O Movimento Ecumênico Cristão é formado por pessoas que se deram conta de que o maior inimigo do cristianismo não são as divisões de Stalin ou Hitler, mas a divisão das Igrejas. O Papa João XXIII percebeu isto como poucos.

O Concílio Vaticano II não conseguiu convencer os setores mais ativos da Igreja católica que chegara a hora de saber morrer para poder ressuscitar. Sou católico e a mim me interessa o futuro da minha Igreja. Na minha vida a fé em Cristo é essencial. Minha fé na Igreja católica é condicionada à capacidade de seus “pastores” de se adaptar às exigências de uma sociedade sujeita a violentas transformações. Incondicional é a fé em Cristo, mas a fé numa determinada Igreja só pode ser condicional. A mais cristã das Igrejas é tão imperfeita quanto o são as estruturas da sociedade à qual se integrou.

Tanto a Igreja católica quanto as de rito oriental incorporaram em seus regimes de governo vícios do antigo Império Romano. Citemos um exemplo que fala por todos os demais: o poder de governar a Igreja está concentrado na vontade soberana de um único homem, o Papa. É ele a única pessoa que só é responsável perante Deus e à sua consciência. Além dele não há mais nenhum católico que tenha tamanha liberdade.

Quem acha que tamanha concentração de poder favorece a salvação das almas engana-se, tanto quanto aquele tipo de empresário da era industrial que ainda podia permitir-se o luxo de tratar sua empresa como propriedade pessoal.

Por toda parte começam a surgir movimentos políticos destinados a unificar determinados setores da vida humana. Fronteiras começam a desaparecer ou perder seu caráter de trincheira. Tudo isto é altamente positivo e desejável do ponto de vista cristão, desde que não se faça confusão entre unidade e uniformidade.

A uniformidade resulta de um processo em que só uma única medida se torna obrigatória. A palavra ideologia expressa muito bem o que os regimes totalitários têm em vista.

Idion é uma palavra grega e significa, o mesmo. Daí vem o termo idiota: o homem de uma só ideia. Daí vem também o termo ideologia que representa a redução da multiplicidade de ideias e formas de organização social a um único denominador comum.

Ein Volk, ein Reich, ein Führer” proclamavam os epígonos do pesadelo nazista.

Uniformidade é unidade mutilada. Existe uma diferença fundamental entre a unidade que é imposta de cima para baixo e de fora para dentro e a que resulta de algo que se poderia definir como consenso interior.

A unidade orgânica e ecossistêmica que a natureza adotou é uma unidade consentida e livre, e se impõe por si mesma. Criar e organizar unidades sempre mais complexas: é este o objetivo último de todo processo evolutivo. Este objetivo o perseguem tanto os componentes da biosfera quanto os da noosfera. A natureza pode servir muito bem de modelo já que nela todo progresso resulta de uma síntese mais complexa do uno com o múltiplo.

Eliminar as diferenças é o mesmo que enfraquecer o elo de união que mantém vivo um corpo, seja ele biofísico ou social.

Sistemas sociais inspirados no conceito totalitário e autocrático de unidade são por natureza inimigos declarados da liberdade por serem hostis por princípio ao direito que cada entidade individual tem de ser diferente das demais. É este o lado fraco de qualquer religião, ao qual a Igreja católica sucumbiu tanto quanto o Islamismo.

Quem vai escrever daqui para frente a história da humanidade vai ser o homem. Quem vai escrever a história futura da Igreja de Cristo serão aqueles que descobrirem, por conta própria, que o cristianismo é em sua essência um modo desmesuradamente generoso e ousado de viver a vida sem peias nem restrições. 

O autêntico discípulo de Cristo dispensa leis, currais protetores e qualquer tipo de tutor. Quem é verdadeiramente livre como Cristo o era, mede a sua liberdade e o direito de vivê-la, tomando como critério sua própria liberdade. O verdadeiramente livre não precisa justificar sua liberdade. Ele obedece em tudo o que faz de certa forma a si mesmo, segundo impulsos que lhe vêm do íntimo da sua consciência livre.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 20 de maio de 2015

QUE O ESPÍRITO SANTO  NOS CONDUZA

 “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10,15).

Todos os Evangelistas, menos João, fazem referência a esta palavra de Jesus. Este fato revela a importância que o assunto tinha na catequese da Igreja dos primeiros tempos. “Se não vos tornardes crianças de modo algum entrareis no Reino dos Céus”. Mateus é incisivo: “de modo algum”, diz ele (Mt 18,3).
        
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21). Foi num arroubo de alegria e gratidão que Jesus proferiu estas palavras e “sob a ação do Espírito Santo” como diz o Evangelista (Ibid.).
        
Se alguém quisesse já naquele tempo irritar a Jesus e bulir com a sua paciência, bastava-lhe ferir a inocência de uma criança (Lc 17,2). “Da boca de pequeninos e crianças é que sai o perfeito louvor a Deus” (Mt 31,16).
        
Nenhuma das Igrejas cristãs soube até hoje o que fazer com os textos que acabei de mencionar. Em nenhuma delas há lugar para crianças por não haver nelas lugar para mulheres. Foram as mães que trouxeram seus filhos a Jesus para que Ele os abençoasse. As Igrejas, ditas cristãs, tornaram-se lugares exageradamente solenes, já que nelas não há espaço para o choro e o riso de crianças.

Como se pode recomendar a alguém voltar a ser novamente criança, se o objetivo da pedagogia cristã é formar o cristão adulto? Será que é necessário deixar de ser criança para tornar-se adulto? Será a infância uma espécie de pele da qual temos que nos desfazer se nos quisermos tornar adultos?

O caminho da Infância Espiritual é hoje capítulo obrigatório em qualquer obra que trate de espiritualidade cristã. O primeiro que se refere de modo mais explícito ao assunto é São Francisco de Sales. Mas quem contribuiu mais para conferir status teológico ao tema foi Santa Teresinha de Lisieux. Já o seu nome como freira carmelita, Teresinha do Menino Jesus, é sintomático.

Tudo na vida, como na pessoa de Teresinha, era pequeno, “petit”. Como em economia, também em se tratando de santidade, “o bom é ser pequeno”!
        
“Tamanho não é documento”, reza um ditado. O que tem de especial a criança a tal ponto que Jesus a propõe como paradigma de perfeição e de santidade?
        
A primeira virtude de uma criança normal e não pervertida é a simplicidade: ela não complica e não cria regras desnecessárias. Seu comportamento é transparente e previsível. Cada uma tem o seu temperamento e um modo próprio de fazer as coisas, é verdade, mas num ponto todas se parecem: basta conhecê-las para saber como lidar com elas!
        
Outra virtude tipicamente infantil é a sinceridade. Uma criança não mente. Ainda não aprendeu a distinguir o real do imaginário. É visionária, pois consegue ver o que um adulto sofisticado já não é mais capaz de perceber.
        
Uma criança crê no que vê e sem mais rodeios aceita como verdadeiro o que lhe foi dado ver. Não sei de nenhum brinquedo de criança destinado a descobrir quem é que está mentindo.
        
Uma criança tem da verdade um conceito bem diferente do que dela tem um adulto. Sua noção do que é verdadeiro ou falso e do que é digno de fé é mais digna de respeito do que a profissão de fé de um papa.

Nossos mestres e intérpretes da Verdade Divina fariam bem se em lugar de perder seu tempo em longos e cansativos discursos acadêmicos fossem brincar com um bando buliçoso de crianças, com vontade de aprender delas o que só elas ainda estão em condições de ensinar!

Um dos vícios mais comuns no mundo social adulto é a hipocrisia. Fingir ser o que não se é; ter o que não se tem; pensar o que não se pensa; querer o que não se quer e sentir o que não se sente: não é esta a ocupação favorita dos que são colunáveis e frequentadores dos ambientes da alta sociedade?
        
Um dos piores defeitos de uma pessoa é a misantropia. Misantropo é alguém que é alérgico ao convívio com outros e que não se sente bem na presença de outros. Muitos confundem santidade com misantropia.
        
Temos toda razão quando consideramos saudável a pessoa que se sente bem na companhia de outros. Toda criança sadia é comunicativa e quer conviver com outras crianças. Escolhe, se puder, os seus amiguinhos e companheirinhos.
        
Poderíamos todos aprender da criança a arte de escolher com quem queremos andar, pois a companhia dos que nos cercam define a nossa própria identidade humana. “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Por mais quente que seja uma jarra de água, misturada com água morna, ela rapidamente perde o seu calor. Essa lei também se aplica ao convívio humano. Na companhia de gente medíocre, acovardada e preguiçosa é difícil ser herói da virtude por muito tempo!
        
Uma criança sabe divertir-se como adulto algum é capaz de fazê-lo! Pergunte a ela: “Como foi que você passou o dia? Foi bonito”? E ela provavelmente lhe dirá: “Foi maravilhoso! Brincamos a tarde toda! Depois fomos à casa de fulana, tomamos suco de fruta e comemos torta até não poder mais”! E por aí afora!
        
Para o Criador criar o Universo foi um “brinquedo”, um divertimento, afirma o salmista. “A terra está cheia da bondade do Senhor” (Sl 33,5).
        
É da criança que temos que aprender como divertir-nos. Quem já não sabe mais o que é divertir-se, sente-se no meio de crianças, e aprenda. Pois uma criança ainda sabe como fazer para que a vida venha a ser um folguedo!
        
Uma criança tem facilidade em aceitar como verdadeiro o que se lhe diz. Dizemos que ela é ingênua, mas a sua ingenuidade a coloca mais perto da Verdade Suprema do que a fé de um teólogo esclarecido.
        
Nada torna o amor de uma criança tão encantador e irresistível quanto o modo singelo com que se abandona a este amor e a ele se entrega de corpo e alma. Foi assim que Teresinha de Lisieux entendeu o amor a Deus. Em se tratando de amar a Deus ela não era de meias medidas. Compreendeu que o amor é “totalitário” e que não pode ser dividido ou distribuído em parcelas. Praticou a “Opção Fundamental” (Cap.III) como poucos antes e depois dela. Por isso foi declarada Doutora da Igreja merecidamente.
        
Antes de Gandhi ela já tinha descoberto esta grande verdade: “O amor é a mais potente força do Universo e é, ao mesmo tempo, a mais humilde de todas”!
        
O amor de uma criança parece pequeno, mas não o é. Pequeno e frágil é o amor dos que se julgam grandes, e, no entanto, o máximo que conseguem é viver juntos como namorados!
        
“O amor das pessoas grandes é muito pequeno, não é vó?”. A menininha de quatro anos que proferiu esta “sentença” tem toda a razão!
        
O mundo em que vivemos tornou-se “super-adulto”! Aumenta de dia para outro o número de crianças “de rua” que não têm família, nem sabem o que é ser “querido”. Parece que a maioria dos homens já não sabe mais o que é ser pai, pai de verdade, como Deus é Pai! Até a mulher já não sabe mais o que é ser mãe, mãe em tempo integral. Não admira, pois, que até as crianças não saibam mais como ser criança.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 13 de maio de 2015

QUE O ESPÍRITO SANTO NOS ASSISTA

A jornada espiritual de uma alma em demanda do seu habitat definitivo é precedida de muitos preparativos, mas a viagem propriamente dita só tem início a partir de certo momento: é quando o “avião” está pronto para decolar!

Cada passageiro em sua poltrona, a despensa bem fornida de “provisões de boca” e os tanques abarrotados de combustível: verificado tudo isto, o piloto pede autorização para levantar voo! Dá para voar sem passageiros e sem “munição de boca”. O que não dá é voar sem combustível.
        
O combustível que impulsiona uma alma em sua jornada espiritual rumo ao infinito e ao desconhecido é o Amor de Deus. É Deus que fornece à alma o combustível de que ela necessita. Todos os místicos cristãos são unânimes neste ponto: “a santidade é obra exclusiva de Deus”!

Ninguém se torna santo, como Deus é santo, por mérito próprio! O máximo que a alma pode fazer por conta própria é abandonar-se inteiramente e sem resistências ao “fogo do Amor Divino”. Nenhum autor descreveu todo este processo tão bem quanto São João da Cruz.
        
O processo de santificação da alma começa no momento em que alguém, inspirado pelo Espírito de Deus, toma a decisão de se confiar totalmente ao Amor do seu Deus! De esperar só dele o que até então esperara de si e de outros. Esta decisão equivale a uma sentença de morte e a uma capitulação incondicional do Eu em benefício do Self. Representa o início de uma jornada em direção ao seu próprio interior.

O verdadeiramente santo é alguém que se conhece melhor que ninguém, pois aprendeu a arte de se “ver como Deus o vê”. Quem se abandona de todo ao Amor Divino acaba vendo tudo com “os olhos de Deus”: vê as coisas todas em sua verdadeira dimensão! Não despreza o verme que rasteja a seus pés! O santo é alguém que valoriza tudo e não despreza nada. Consegue ver grandeza e beleza onde outros só veem baixeza!
        
O primeiro passo que Paulo deu após a conversão foi “cair do cavalo”. Logo em seguida “ficou cego” até o dia em que lhe vieram a cair dos olhos as “escamas” que o impediam de ver as coisas como Cristo as via!

Nos tratados de espiritualidade a jornada espiritual é dividida em três vias: a via purgativa; a via iluminativa; e a via unitiva. Em síntese: o candidato à vida perfeita deve passar por um processo preliminar de “purificação”. Tudo o que o impede de refletir com perfeição a imagem de Deus deve ser eliminado.
        
Paralelo a este um segundo processo tem início: o da “iluminação”, como o chamam os místicos.

Um último passo é dado quando a alma começa a trilhar a chamada “via unitiva”.
        
Desintoxicar a mente, o espírito e a alma, descarregar lastro inútil, livrar-se de dependências viciosas e de toda e qualquer espécie de medo: eis a primeira tarefa que aguarda o candidato à perfeição cristã.
        
Muitos principiantes desistem já no meio do primeiro estágio, pois ele exige paciência, perseverança, honestidade fora do comum e muita humildade. Hábitos adquiridos ao longo de anos são pertinazes e não cedem facilmente.        

Nos Evangelhos aparecem os fariseus como mestres consumados na arte de fingir e de ostentar como virtude o que na realidade nada mais era do que vício camuflado, vaidade e orgulho disfarçado.
        
O diabo, diz Santo Inácio, é especialista na arte de imitar Deus. Suas “luzes” são traiçoeiras, pois ofuscam em lugar de mostrar o caminho!

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 6 de maio de 2015

QUE O ESPÍRITO SANTO NOS ANIME

Santo é tudo o que saiu da Mente do Criador e é Obra do seu Amor. Santo é o Universo todo. E o cristão que por sua fé em Cristo e por seu modo de ser vive em sintonia com este Universo redimido por Cristo, não nega este Cosmo tão maravilhoso nem finge não precisar dele, mas o abraça e o envolve no mesmo ato de adoração com que se abandona a seu Criador. Procede como Francisco de Assis e como Teilhard de Chardin.
        
Se “a essência da matéria é espiritual”, como queria Einstein, e se Cristo é realmente o Redentor do Mundo, então o mundo do qual Jesus nos veio libertar não pode ser o Universo Material. O mundo inimigo do homem espiritual não é o belo Universo criado por Deus. Só pode ser o pobre e miserável mundo do pecado, da cupidez e da absoluta falta de amor criado por homens e mulheres mancomunados com o “espírito das trevas” e com o “pai da mentira”.
        
Inimigo do futuro espiritual da humanidade não é a Galáxia que viaja lá no alto em direção ao infinito. Átomos e elétrons são amigos do homem. Que seria de nós, mortais, não fossem as bactérias? O espírito do homem tem o poder de influir positiva e/ou negativamente em grau muito maior do que ousávamos admitir antes que a Mecânica Quântica nos chamasse a atenção para a dimensão espiritual da matéria.
        
“O Universo material está à espera do homem”, dizia Paulo. Mais precisamente “à espera de ser por ele liberto” de um estágio evolutivo superado e necessitado de ser substituído por outro. O tempo em que a boa ordem social parecia depender basicamente da presença vigorosa de homens poderosos, já passou! Quanto mais poderoso o monarca e quanto mais elevado acima do comum dos mortais, tanto mais feliz o povo que tiver a “honra” de poder obedecer-lhe! Esta crença no poder mágico do poder absoluto começou a ceder lugar à outra crença, a fé no poder mágico do conhecimento.
        
No final do século XVIII já era crença universalmente aceita no Ocidente de que o Universo é uma grande “Máquina”, semelhante a um “relógio” na opinião do filósofo Leibniz. Um relógio é fácil de conhecer: é só decompô-lo em suas partes!
        
O conhecimento científico parecia ter atingido seu ponto culminante com Newton e Descartes. Finalmente começara a se fazer “luz” no fundo do túnel do conhecimento humano. A época do Iluminismo foi festejada como o triunfo da razão sobre o obscurantismo medieval. Tudo parecia tranquilo, tanto assim que Augusto Comte, pai intelectual do Positivismo, declarou o pensamento científico como a única modalidade legítima de saber. Transferiu o campo da fé religiosa da competência do teólogo para a do pesquisador científico. Tudo parecia tranquilo até que em 1900 o físico alemão Max Planck lançou a base do que 25 anos mais tarde seria conhecido como Teoria Quântica. Mas já em 1905 Einstein lançara a Teoria da Relatividade. Foi o bastante para desarrumar de vez o belo edifício erguido séculos antes por Newton e Descartes.
        
Por algum tempo Einstein alimentou a crença de que o Universo era compreensível e que era possível captar este conhecimento em teorias e em fórmulas matemáticas. Perto do fim da sua vida chegou à conclusão de que isto não era possível. Admitiu que o Universo é em sua essência um Mistério e que a nós não cabe compreendê-lo, mas admirá-lo e deixar que nos fascine por sua beleza.
        
A Ciência não fracassou. Apenas chegou a um ponto crítico. Os mais destacados cientistas da atualidade já perceberam que não se pode continuar a fazer ciência como se fazia cem anos atrás.
        
A religião e seus sistemas de Fé fariam bem se admitissem que já não é mais honesto falar de Deus, do homem e do sentido da história humana com a desenvoltura narcisista de quem se julga intérprete de um saber para além do qual não há mais nada que valha a pena ser sabido. Num ambiente religioso o que está fazendo grande falta é um pouco mais de modéstia e humildade intelectual!
        
O fim da era medieval ocorreu quando teve início a “Era da Razão”. Coincidiu com a crença de que o futuro da humanidade podia ser planejado e programado. É próprio do pensamento racionalista a crença de que cabe ao homem programar o seu próprio futuro. Os mais radicais, como Marx e Nietzsche, insistiam na tese de que tal empreitada não seria viável enquanto o homem não se declarasse “senhor absoluto” da sua história.
        
Para que este estágio pudesse ser atingido, era preciso afastar do caminho da humanidade Deus e tudo o que tivesse relação com o passado religioso da humanidade.
        
Quem lê Marx fica com a impressão de que a razão tem o poder de substituir a Deus. O homem “marxista” é alguém que não precisa de Deus. Seu maior feito foi “matar Deus”, como diria Nietzsche.
        
O fracasso do pensamento racionalista é visível e palpável. A razão é um belo presente do Criador, mas sua utilidade é restrita e limitada. Saber prever e medir antecipadamente as consequências de nossos atos e decisões não é tudo o que nossa mente é capaz de nos oferecer! Mas se todos tomassem o cuidado de não fazer o que previsivelmente só vai gerar mais problemas em lugar de resolver os que pretendemos resolver, israelenses e palestinos já teriam feito as pazes há muito tempo!
        
A razão não falhou. Foi a crença nos poderes mágicos da razão que falhou. Santo Tomás define a “lei” como “ordinatio rationis” dando a entender que ela é apenas um meio a serviço da ordem social, e não um fim em si. A racionalidade descamba para a irracionalidade no momento em que o que é meio passa a ser tratado como fim. Quando isto se torna regra, uma civilização dá sinais de que seu fim está próximo!

Padre Marcos Bach