quarta-feira, 24 de junho de 2015

MARCUS BACH UM GÊNIO INCOMPREENDIDO PELO SEU TEMPO.


MARCUS BACH - CENTENÁRIO

Segunda, 17 de janeiro de 2011
Marcus Bach. Um gênio incompreendido pelo seu tempo
No dia 26 de fevereiro de 2008, o blog do IHU, publicou o seguinte depoimento de Graziela Wolfart, jornalista, sobreMarcus Bach, padre jesuíta, ontem falecido, em São Leopoldo, RS.
Eis o depoimento.

Um pequeno apartamento, de um dormitório, no sossegado município de Bom Princípio, no Rio Grande do Sul, é o cenário onde vive um gênio de 92 anos que insiste em defender ideias além do seu tempo. Sim, ele vive ainda, com saúde. E pensa, lê e escreve. Na cabeceira, dois livros: Despertar de uma Nova Consciência, de Eckhart Tolle, e Microfísica do Poder, de Michel Foucault. Em frente ao sofá da sala, uma estante enorme, repleta de livros. Do total, mais de 40 são de sua autoria, mas apenas 14 foram publicados. Cerca de 30 obras estão lá, intactas, à espera de uma editora que possa tornar público o conhecimento e a sabedoria deste senhor de cabelos ralos e longos e de barba cerrada. Estou falando do padre jesuíta José Marcus Bach.

A jornalista que escreve este artigo teve a oportunidade de conhecer pessoalmente este homem que, por muitos, é considerado um grande mestre, e por outros, uma pessoa contraditória e até confusa. Ele explica. “Faz 30 anos que digo a mesma coisa e apenas agora algumas das minhas ideias começam a fazer sentido. O que eu escrevo hoje só será compreendido pelas gerações que viverem daqui a 50 anos”.  E avisa: “vocês não tem dimensão da gravidade da situação que estamos nos aproximando. O pesadelo que aguarda a humanidade não virá das catástrofes climáticas e com a doença do Planeta Terra, mas da falta de amor entre os homens”.

Pe. Marcos descobriu que o amor é o caminho para a salvação da humanidade. O amor incondicional, amor que Deus ensina e que Cristo pregou na Terra. “Quem chega ao final de sua vida e descobre que nunca amou ninguém como a si próprio e não foi amado dessa forma, pode ter certeza de que teve uma vida vazia, jogada fora”. Por essa razão e com o objetivo de dividir seu conhecimento e continuar aprendendo, Pe. Marcus decidiu criar a Comunidade Eclesial de Amor em Cristo (CEAC). Trata-se de um grupo que realiza encontros comunitários e familiares nas cidades de Portão e Bom Princípio. O objetivo é oferecer “uma oportunidade de dar, de repartir e compartilhar com outros um excesso de amor que nossa sociedade de consumo não consegue absorver”.

O doutor em Teologia fala muito. Tem necessidade de exteriorizar suas reflexões. E uma delas é sobre a importância de viver o presente. “Esqueçam do passado e não se preocupem com o futuro. Vivam o agora, o presente. Pensar que estamos dentro de uma linha de tempo é bobagem. Aprendemos que nossa vida acontece no tempo e, após a morte, passamos para a eternidade. Mentira! Já estamos na eternidade. O que precisamos é viver de forma mais contemplativa e tranquila o momento presente. Eu esqueço que tenho 92 anos. A idade é você quem faz”, explica. No entanto, depois de um período de uma cansativa explanação, ele “desliga o cérebro”, conforme suas palavras. Observo seus movimentos. Ele se recosta no sofá, olha para cima, com o olhar parado, fixo, respira lentamente. Está fora do mundo, com certeza. E ele garante que não escuta nada do que se fala a sua volta. “Preciso desses momentos para recuperar energia”. Em instantes, ele volta a falar.

Mas Pe. Marcos não vive sozinho. Desde 1977 ele conta com o amor, o companheirismo e a ajuda de Célia Bach, sua prima, que também é sua parceira intelectual. Com ela, escreveu A caminho da verdade interior. Liberte-se meditando. (Petrópolis: Vozes, 1986). Entre seus livros publicados mais recentemente, cito A esperança cristã: guardar tradições ou abrir horizontes? (São Paulo: Paulus, 1999) e Uma Nova Moral? (Petrópolis: Vozes, 1990). A inspiração de Pe. Marcus Bach vem do também jesuíta Teilhard de Chardin, outro que foi incompreendido por todos de sua época. Por isso, é possível entender porque, entre os livros de Bach não publicados, parados lá na estante, estão obras que falam sobre ciência e Deus, teoria quântica, Deus, caos e ordem, novos laços afetivos na pós-modernidade, entre outros temas que definitivamente, para muitos, ainda não fazem sentido. E o jesuíta garante: “Hoje, os cientistas estão mais perto de Deus do que os teólogos”.

Entre os projetos de Pe. Marcus Célia, está a consolidação da Associação Cultural Pe. Marcus Bach (APEBACH), que, mesmo ainda sem sede construída, já tem um calendário de atividades culturais para 2008. Célia conta que a prefeitura do município de Portão já doou um terreno para a construção da sede. Enquanto isso, as palestras serão realizadas na biblioteca pública de Portão. O tema central das conversas é “ainda há espaço para o amor humano na pós-modernidade?”.

A jornalista que vos escreve não se conteve em perguntar ao sábio jesuíta sobre o papel de Deus na sociedade contemporânea. Pe. Marcus não hesitou em responder que é fundamental. “Deus é o único capaz de perdoar a todos sem impor condições ou questionamentos. E é o único capaz de amar a todos incondicionalmente”. “E o senhor acha que o ser humano, na sua essência, nasce bom ou mau, Pe. Marcus?”, pergunto eu. “Todos nascemos com uma carga de bondade. A explicação para a maldade humana é a falta de amor. Ou você acha que Deus criaria seres ruins? A filosofia ensina que a maldade é necessária para que possamos reconhecer a bondade. Como saberíamos o que é bom se não conhecêssemos o outro lado?”, dispara, antes de mais um momento de “pausa restauradora”.

No meio da tarde, aparece outra visita, de um ex-aluno de Pe. Marcus. Lá, ele comenta se já sabiam do falecimento de Hugo Assmann. Sim, já sabiam. A Célia lê todos os dias as Notícias do Dia, do site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Muito bom, conhecem?”. Levei de presente para eles três edições da revista IHU On-Line, que também conhecem e acompanham. Ficaram muito felizes.

E de pensar que eu fui até lá para acompanhar meu marido que, na infância, brincava no pátio da casa de Marcus e Célia Bach, em Montenegro, e desenhava borboletas entre as roseiras que o próprio jesuíta gostava de plantar. Em nossa conversa, falamos ainda de casamento, de família, de robótica, de cotas raciais e de educação. Foi uma grande aula. Dessas que sempre faltam na faculdade. Dessas que a gente não encontra por aí. Dessas que marcam a gente. Quem conhece José Marcus Bach sabe do que estou falando. Quem não conhece e já ouviu falar, pode imaginar. Mas quem não conhece, basta ir até lá. Naquele pequeno apartamento, de um dormitório, cercado de árvores, em Bom Princípio. Lá tem chimarrão, biscoito, doce de pêra e conhecimento.    


terça-feira, 23 de junho de 2015

HOMENAGEM DA GRANDE AMIGA BERNADETE FASOLO.


Olá Célia.
Hoje seria o aniversário de 100 anos do nosso Iluminado Marquinhos.
Envio-te estas fotos para matar a saudades. Se quiseres usá-las para divulgar no Blog para homenagem faça-o. Eu sou meio atrapalhada com toda esta função digital.
Hoje fui ao túmulo dele e levei uma vaso com rosas vermelhas plantadas, conforme mostram as fotos acima., a flor que ele mais amava. Senti muita saudade.

"A  base de qualquer relacionamento entre pessoas é formada por tudo o que possuem em comum. Só pessoas que falam a mesma língua conseguem comunicar-se oralmente. A comunicação só se dá onde existe um certo grau de identidade comum, que inclui um patrimônio comum de ideias, conhecimentos, sentimentos, emoções e propósitos. Acima de tudo um mesmo nível de consciência e grau de desenvolvimento ético......Aquele que em vida não soube compartilhar com outros nem seus bens, ideias, sentimentos, interesses, nem sua pessoa,  perdeu a vida e terá que aprender praticamente tudo o que vale a pena se aprendido. Conhecimento e amor são os dois únicos pilares sobre as quais é possível construir uma vida digna de ser vivida." (In Que fizeste da tua Vida? - Reflexões sobre a morte)


 Hoje também aconteceu algo muiito bom e até acho que ele está intervindo lá do bago'douro. Bem, não te falei antes, foi tudo muito difícil mas quase perdi minha filha que hoje só esta viva por uma milagre. Foi em março deste ano. Ela teve uma trombose severa, muito grave, ficou hospitalizada 12 dias e por pouco não morreu. A trombose praticamente atingiu todo seu corpo: perna, abdômem, veia cava e os dois pulmões. Digo que foi uma milagre pois ela fez uma embolia pulmonar na rua., sem ainda estar internada. Agora toma anticoagulante e daqui a 2 meses começa fazer investigação para ver a causa deste exagero todo. Agora não pode porque a investigação será com um hematologista e necessita não estar tomando anticoagulante. Bem, ela está viva, bem.
Minha filha é maratonista e somente hoje conseguiu correr um pouco o que a deixou radiante de felicidade e eu também. Acho que foi o Pe. Marcos que talvez tenha dado uma força (eheheh).

Bem, muita emoção por hoje. Te desejo tudo do melhor da vida.
Grande abraço e beijos
Com carinho
Bete




MENSAGEM NA DATA DO CENTENÁRIO DE PADRE MARCOS BACH


domingo, 14 de junho de 2015

DIA 14.06.2015




O cristianismo merece ser levado mais a sério para quem o professa. Ele precisa ser LUZ, SAL E FERMENTO na massa senão ele não faz sentido para ninguém!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A REALIDADE MAIOR

Nós, ocidentais, achamos que real é só aquilo que os sentidos e a razão nos revelam. Orgulhamos-nos enormemente de nossa ciência e de nossa filosofia.

Os místicos sempre e em toda a parte ensinaram que a Realidade é outra e que para entrar em contato com ela é preciso ultrapassar os limites impostos pelos sentidos e pela razão.

Cientistas e filósofos só conseguem atingir aspectos periféricos de Realidade Total, embora alimentem a convicção contrária. Só muito lentamente os tradicionais “donos da verdade” (cientistas, filósofos, teólogos) começam a se dar conta de que a Realidade é muito maior do que a capacidade humana de apreendê-la.

Esta incapacidade não é, porém, ontológica, mas condicionada por fatores históricos. Se o interior de cada ser humano possui as dimensões do próprio Universo, como sustentam os místicos, então a incapacidade de apreender o Universo em sua totalidade é apenas passageira e provisória.

A identidade total e plena da mente com o universo, embora não seja para a grande maioria mais do que um horizonte e um horizonte por demais distante para merecer algum esforço sério e bem planejado, contudo não deixa de ser um referencial para quem quer medir o grau de desenvolvimento de sua consciência.

Uma consciência em evolução tende a expandir-se no espaço-tempo, tomando conhecimento de novos aspectos de um Universo em que ser e relacionar-se passam a ser sinônimos.

O espaço psíquico criado pela expansão da consciência não é vazio, embora os místicos o definam assim. Só é Noite Escura na aparência. É vazio para os sentidos e escuro para a razão, mas não o é para a consciência.

A iluminação interior proporcionada pelo poder visionário só acontece depois que as pequeninas luzes, com que os sentidos e a razão iluminam nosso caminho, tiverem sido ofuscados por uma nova e infinitamente mais potente fonte de luz, que é a consciência.
          
Quem quer medir o nível de consciência de uma pessoa deve tomar como critério básico a sua capacidade de dirigir-se por si mesma.

Em seu nível mais rudimentar esta capacidade se manifesta como instinto e como determinismo psicológico.  O instinto determina um modo automático de comportamento. Fornece a um grupo da mesma espécie uma base comum de ação, geneticamente assegurada. O caráter coletivo do comportamento inspirado pelo instinto garante a ordem dentro de um bando. Cada novo membro já nasce trazendo impresso em seu cérebro o conhecimento necessário à sua sobrevivência e à da espécie, em geral. Não necessita de longo aprendizado. Não se defronta com os problemas ligados à necessidade de ter que escolher.

Numa sociedade dominada por processos instintivos, as escolhas são poucas. O instinto tem a vantagem de oferecer uma base de relações sociais segura e confiável. Traz em seu bojo, porém, uma grande desvantagem: por ser rígido e voltado numa única direção, torna praticamente impossível a mudança de comportamento que uma situação nova e inesperada vier porventura a exigir. O instinto faz de certos animais prisioneiros de um determinado habitat. O mesmo vale para um agrupamento humano de nível análogo.
          
O excesso de segurança e de ordem gera como contrapartida a falta de flexibilidade e a incapacidade de acompanhar o ritmo do tempo histórico, quando este se acelera.

A história não é um trem que fica à espera dos retardatários. A Evolução tem pressa. Isto vale de modo todo particular para épocas que precedem às grandes transformações. Nós vivemos numa dessas épocas. Não nos defrontamos apenas com os estragos causados por uma civilização escancaradamente voraz e predatória. Estes só por si são mais que suficientes para impor à humanidade um novo tipo de consciência e um modo radicalmente diferente de se relacionar com a natureza.

Padre Marcos Bach

quinta-feira, 4 de junho de 2015

                          MÍSTICA DA EUCARISTIA

               “E como amou os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1).

Depois que Jesus Cristo lavou os pés dos seus discípulos, tomou o pão, partiu-o e deu-o para que fosse partilhado, dizendo: “Tomai e comei todos vós, este é o meu corpo que será entregue por vós”. “Do mesmo modo, no fim da Ceia, tomou o cálice com vinho em suas mãos e disse: Tomai e bebei todos vós, este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos em remissão dos pecados. Fazei isto para celebrar a minha memória”.

Pergunto: o que tem a ver estes gestos de Jesus com o dar uma hóstia branca na boca de uma pessoa? Não foi um gesto de irmanação de todos os presentes este partir e partilhar o pão e o vinho, tornando-os símbolos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o “Pão Vivo descido do céu?”, sua Pessoa presente em “espírito e vida”?  “Fazei isto em minha memória”  não evoca postura de relacionamento, gestos de fraternidade, de participação e de amor?

Dar a hóstia na boca da pessoa bem pode representar um gesto que evoca submissão e minoridade. É um gesto de quem se coloca acima de todos e todas e decreta o que é verdade, o que deve ser obedecido.

Não se coloca de igual para igual como o fez Jesus lavando os pés de seus seguidores;

Não convida a quem pretende distribuir o “Pão Vivo descido do céu” para sentar-se ao redor de uma mesa para partilhar deste Pão.

Jesus partiu o pão e o distribuiu. Apenas deu-o na boca de Judas, o traidor.

Receber o pão na boca é declarar incapacidade de distinguir quem é quem;

É ser passivo sem a menor ideia do que representa ser participante de uma Comunidade Cristã;

É trair Jesus e seu projeto de vida para todos e todas em abundância, conquistado pelas pessoas que atuam numa comunidade e se relacionam nela com total doação, desprendimento e amor!

Dar a hóstia na boca de alguém é submetê-lo a ser inferior, a receber tudo pronto e a não precisar fazer esforço em conjunto para conquistar os bens que nos esperam e nos fazem viver melhor.

Por que é tão dramática a falta de pão na mesa de alguém? É porque o pão nosso de cada dia em cima de nossas mesas alimenta também o nosso espírito.  A Eucaristia é plena e completa se incluir o pão nas nossas mesas!

Os primeiros cristãos se reuniam e tomavam as refeições em comum. Celebravam, desta forma, o partir e o partilhar do pão em memória de Jesus, a Eucaristia (Atos 2,42...). Será que o mesmo não podemos começar a fazer em nossas famílias, em nossas pequenas comunidades para nos lembrar da importância do alimento para nossa vida, para nossas almas, para nosso espírito? Numa época de inversão de valores, onde cultuamos o automóvel e a indústria de combustíveis em detrimento dos alimentos, não é oportuno lembrar o pão como alimento humano e espiritual indispensável?

 Que o partir e o partilhar do Pão da Eucaristia nos lembre a falta de pão na mesa de muitos de nossos irmãos e irmãs e nos leve a sermos solidários com aqueles e aquelas que não dispõem do pão de cada dia! 

Padre Marcos Bach