O BIG BANG DO CRISTIANISMO
A humanidade atual se encontra
apenas no início da sua trajetória evolutiva. Pode passar ainda por muitas
outras mudanças além daquelas por que já passou. Estamos ainda longe de ter
esgotado as potencialidades todas de nossa condição de espíritos encarnados! Não acredito que as religiões estejam
preparadas para tomar parte ativa no processo de explosão espiritual que está por vir. Existem no cosmos, tanto
quanto no espírito do homem, quantidades incríveis de energia que ainda não foram liberadas. Vale a pena imaginar o
cristianismo todo como uma espécie nova de Big
Bang que ainda se encontra nos primeiros nanossegundos da sua história. Se
Jesus tivesse tido apenas a intenção de fundar as igrejas que se dizem obra
sua, seria o caso de lhe dar os pêsames. A explosão do Amor Divino, que é a
Vida e a Obra de Jesus, é semente que ainda não teve tempo nem condições de
deitar as primeiras folhinhas.
Nas Igrejas tudo anda a passo de
tartaruga porque nelas o medo de ir longe demais é muito maior do que o medo de
perder o contato com a história. As Igrejas se consideram parte integrante da
História da Salvação. Esta é, na verdade, a sua missão essencial. Função
primordial de toda Comunidade Cristã é conectar entre si o Projeto Salvífico de
Cristo com todo o esforço humano destinado a gerar progresso. Igrejas que só se
preocupam com a sua própria sobrevivência deixaram de ser cristãs a partir do
momento em que passaram a pensar e agir em função de interesses próprios, sem
se preocupar com o que acontece fora de seus quadros.
A humanidade é um todo orgânico.
Ser homem significa muito mais do que a consciência de pertencer a uma espécie
biológica “superior”. A consciência cósmica, da qual hoje se fala com interesse
crescente, faz parte essencial da consciência cristã, ao menos em teoria, pois
no terreno concreto da vivência diária pouco peso tem. O cristão, dito
praticante, é geralmente individualista e pragmático. Cuida bem ou mal da sua
própria salvação, deixando o cuidado pelos aspectos coletivos do processo de
salvação a profissionais especializados para a tarefa de preocupar-se com a
salvação das almas de seus semelhantes. Seu pragmatismo se manifesta na maneira
como viveu o seu compromisso de fé. Reduz o compromisso de fé a uma série de
atos que lhe são impostos por sua “igreja”. Só faz o que lhe é imposto como
obrigação. É minimalista, pois só faz o estritamente necessário para não cair
no inferno. Todos os demais aspectos da fé em Cristo, que constituem a sua
verdadeira riqueza, não fazem parte da sua vida religiosa. Preocupação com a
saúde do planeta, solidariedade com os irmãos pobres, justiça social, etc., são
assuntos que não fazem parte dos seus compromissos de cristão. Também não fazem
parte da consciência da maioria de nossos “bons cristãos” algo que se pudesse definir
como “desejo de perfeição”. A santidade
e a santificação das almas é assunto com o qual nem devem preocupar-se. Para
isto existem os Mosteiros e as Ordens Religiosas.
Francisco de Assis permaneceu
leigo a vida inteira. É amado ainda hoje porque foi em tudo um homem do povo.
Como tal, percebeu, como ninguém depois dele, que a perfeição e a santidade
faziam parte essencial da fé cristã. Francisco era portador de uma consciência
que lhe permitia viver em comunhão mística com o universo todo. Para ele não
havia nada que não fosse de algum modo “filho” de Deus. O sol era mais do que
uma poderosa usina atômica criado por Deus. Era o irmão sol. O lobo era para ele o irmão lobo. E assim por diante. Francisco viveu em sua curta e
atribulada vida de 44 anos certas dimensões essenciais da fé cristã que só
raramente conseguem aflorar na consciência dos que se dizem cristãos.
Texto do livro “A IGREJA QUE EU
AMO” de Pe. J. Marcos Bach, SJ
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