CIÊNCIA E FÉ
Hoje o prefixo trans,
além, em português, é usado frequentemente como prefixo para indicar a
existência de uma dimensão da realidade situada fora e além do habitual
horizonte cognitivo. Palavras como transcendente, transpessoal, transdisciplinaridade
fazem parte do vocabulário de estudiosos do conhecimento humano. As fronteiras
do saber estão se alargando num impressionante acelerato. É impossível
acompanhar o seu ritmo de crescimento e a velocidade com que novas teorias
passam a tomar o lugar de antigas. Até mesmo o conceito de antigo não é mais o
mesmo de cem anos atrás. O progresso científico está adquirindo a força e o
poder de destruição de um ciclone. Por onde passa derruba crenças e varre para
longe teorias e teses tidas, até então, como “eternas” e “infalíveis”.
Passou o tempo em que a palavra progresso tinha um
significado que hoje não tem mais. Responsáveis pelas descobertas científicas
mais espetaculares não são mais laboratórios, mas indivíduos geniais como
Einstein, Freud, Jung, entre outros. Até mesmo o modo de fazer ciência já não é
mais o mesmo de cem anos atrás. Hoje, um bom cientista não trata mais como
objetiva e imparcial sua relação com o que observa e analisa. Já descobriu que,
para ter acesso à verdade, não basta analisar o que é dado observar. Átomos,
células não são partes de um todo, apenas. São este Todo. O átomo é visto hoje
como miniatura do Universo todo.
O átomo já não é mais visto como um composto de elementos,
mas como trama ou teia de eventos.
Tudo no Cosmos deve ser visto como teia de relações se quisermos ter uma
ideia mais exata da sua verdadeira natureza. Nada há nele que tenha um lugar
fixo. O equilíbrio alcançado por um conjunto de unidades é sempre precário e
instável, mais próximo do Caos do que do tipo de ordem que cem anos atrás ainda
era considerado como tipo padrão: a ordem estática que, traduzida do plano
físico para o social, modelou a estrutura básica da sociedade bem conservada ou
conservadora.
A Ordem Perfeita, que reina nos planos mais sutis do mundo
material, não é produzida por “coisas” paradas, que não saem do lugar, nem
mudam de forma. Pelo contrário. Sábios da antiga Índia compararam o que
acontece no Universo a uma dança, a Dança de Shiva. A dança é um espetáculo
realizado por pessoas que se movimentam ritmicamente. Para compreender o que
cada dançarino está fazendo é preciso ter conhecimento do tipo de espetáculo
que está sendo apresentado. É o espetáculo que determina os movimentos de cada
participante. A liberdade de cada indivíduo é determinada pelo papel que lhe
cabe desempenhar. Por detrás da coreografia toda, existem um plano e um
objetivo.
Um Balé, por exemplo, obedece a um plano meticulosamente
elaborado. Tem como finalidade proporcionar aos assistentes o prazer estético
que todo belo espetáculo desperta. Que espécie de espetáculo verdadeiramente
emocionante poderia oferecer um Universo feito de objetos fixos e sem vida? Que
prazer pode haver no relacionamento com uma pessoa cujas ideias e sentimentos
são sempre os mesmos?
Elétrons são
subpartículas atômicas que têm o hábito de se relacionar constantemente entre
si. “Aprendem” e comunicam a outros o fruto das suas experiências. Um elétron
tem vida. E a soma da vida de bilhões deles constitui a vida de cada ser vivo,
também a nossa.
Um elétron
se encontra no ponto de encontro do espírito com a matéria. É mais espírito do
que matéria. É o que nos afirma Jean E. Charon, repetindo o que antes dele já
afirmara Einstein ao declarar que a “essência da matéria é espiritual”.
In: “Perfil de uma Igreja Nova” – Manuscrito de Pe. José
Marcos Bach, sj
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