A QUESTÃO DA MULHER NA IGREJA
Mais que a metade da
população católica do mundo é composta de mulheres, mas elas não possuem na
Igreja os mesmos direitos de que desfrutam os homens.
Este é um assunto mais
que quente, mexe num “nervo exposto” do corpo místico de Cristo.
São perto de dois mil anos de história que acabaram por gerar esta
situação. Que ela não é justa é evidente. O que não se pode sustentar é que ela
corresponda a uma intenção de Cristo. Na época de Jesus era praticamente
impossível encontrar uma mulher que tivesse formação cultural. A direção de uma
Comunidade de Fé exige certo grau de capacitação cultural que naqueles tempos
só bem poucas mulheres possuíam. Não é, portanto, justo atribuir esta situação
a uma suposta tendência “machista” do clero católico. O problema existe e não
pode ser disfarçado por muito mais tempo. Mas é igualmente certo que não pode
ser resolvido por decreto e com uma única paulada. Por ora temos que nos
habituar a conviver com este e outros problemas mais. O que a todos ainda nos
resta aprender é como transformar problemas em oportunidades. A humanidade
progrediu tanto porque foi obrigada a viver durante a maior parte da sua
história no limite da sua sobrevivência. É a capacidade de responder a desafios
que distingue o representante da espécie humana do seu primo, o chimpanzé
bonobo. Desafios de toda a espécie e a possibilidade de dar um rumo diferente à
história, não nos faltam. É na lista destes futuríveis que podemos colocar este
fenômeno sociocultural conhecido como Movimento Feminista ou Movimento de
Emancipação da Mulher.
A Igreja católica
não participa deste “Sinal dos Tempos” atuais, como o chama o Papa João XXIII,
em caráter oficial e com propostas concretas. Isto pode mudar. O mundo feminino
merece todo apoio em sua reivindicação por um lugar mais justo no seio da sua
Igreja.
As razões que levaram a Igreja a excluir a mulher do ministério sacerdotal
são de natureza prática e têm caráter disciplinar. Têm algo a ver com distribuição
de papéis sexuais. É fácil perceber que uma política de redistribuição de
papéis sociais vai obrigar a Igreja a rever o âmbito das funções das quais a
mulher se sente injustamente excluída. Não quero entrar em detalhes, pois é
este um dos assuntos que gostaria de ver amplamente debatido pelas Comunidades
Eclesiais de Base. Não podemos continuar a ignorar as lições que a experiência
concreta costuma ministrar-nos, isolando a voz dos Pastores da Igreja da voz do
Povo de Deus.
Responsabilidade
moral não se adquire consultando compêndios e conferindo regras. Ela envolve um
grau de sensibilidade humana, de compassividade e de amor que os Compêndios de
Moral não costumam salientar com a devida ênfase.
In: Manuscrito de
Pe. José Marcos Bach, sj