CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA
A autêntica democracia pressupõe da parte do povo um
nível de consciência política que povo nenhum do planeta possui. O povão gosta
de homens fortes e quer ser governado por um deles, de preferência ao
governante sábio. Não morre de amores pela liberdade. Teme-a e a troca com
facilidade por um bom prato de macarrão. Não ama a liberdade porque sente que
ela o iria comprometer com responsabilidades que não quer assumir. Preferiria
sentar à mesa e comer em restaurante bem barato.
Quem não sabe que o povão é paciente? Sabe esperar!
Sempre está à espera de algum milagre. À espera de um caudilho ou de um guru
milagreiro. Não está interessado em fazer. Quer é receber. Pertence ao tipo de
mendigo que se julga no direito de entrar em greve quando a esmola desaparece
ou começa a minguar. O povão se comporta diante de uma repartição pública como
o fazia antigamente uma turma de mendigos diante das portas de um convento. O
sopão, a distribuição gratuita de “cestas”: tudo isso é esmola e só serve para
rebaixar ainda mais o já baixo nível de consciência política do nosso povo.
Os políticos desempenham a função de esmoleiros. Sua
atuação política se resume em distribuir “favores” que no fundo nada mais são
do que “esmolas”. De si e do próprio bolso não tiram nada. O que distribuem é
dinheiro público, dinheiro que não lhes pertence. É raro ouvir falar de alguém
que deixou a política, ficar mais pobre do que ao entrar.
Entre romanos e gregos a atividade política era
gratuita. Só quem possuía bens e não precisava da atividade política como fonte
de renda podia candidatar-se a Senador Romano.
Numa democracia o povo é sujeito. É cidadão, é
construtor da sua cidade, guardião e defensor das suas instituições e não
apenas eleitor, sem outra escolha senão a de votar.
Não existem em nosso mundo atual democracias,
sistemas de governo que mereçam este nome. Existe o Ideal Democrático, cantado
em prosa e verso, mas apenas como sonho e como utopia. Por ora ainda vigora o
ditado romano: “Populus vult decipi, ergo
decipiatur”. O povo quer ser iludido e enganado. Não lhe agrada ter que
ouvir a verdade e evita encontrar-se com a realidade. Vota em quem mais
promete.
De momento a prática da democracia só é possível em
pequenas comunidades, constituídas de pessoas de alto nível de consciência
social e moral. Não é preciso que esta comunidade seja religiosa. Pode ser uma
ONG ou coisa parecida. Nela predomina a unanimidade em questões tidas por todos
os seus membros como fundamentais e essenciais, mas em questões que não afetam
o essencial haverá amplo espaço para a diversidade de opiniões.
Um organismo comunitário exige dos seus componentes
um alto grau de paixão, de “tesão política”. Uma democracia não se constrói
empunhando “planilhas” e baseando-se em “ibopes”
ou dados estatísticos. Uma democracia se faz com amor, muito amor e muito
respeito pela liberdade de cada membro. O ideal político de uma comunidade é
criar espaço, o mais amplo que for possível, para pessoas que queiram viver a
sua vida da maneira mais livre que lhes for possível.
Já que não é possível transformar megalópoles como
São Paulo em paraísos democráticos, sempre resta a possibilidade de transformar
o próprio lar, o condomínio ou o bairro residencial em algo menos parecido com
uma casa de detenção ou um campo de concentração. Convém não perder de vista
que poucas cidades foram projetadas e construídas de cima para baixo, como
Brasília. A maioria delas nasceu como aldeia e cresceu de baixo para cima.
Seria uma tremenda catástrofe política se o Brasil de amanhã fosse no concerto
das nações o que a cidade de Brasília é hoje. Um “quisto”, um tumor canceroso e
cancerígeno da pior espécie.
Padre Marcos Bach
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