PRESENÇA DO AMOR
O que você responderia a alguém que lhe dissesse: “Eu
amo a quem quero, porque quero e como quero! Não admito que alguém venha a
intrometer-se neste assunto com a intenção de me fazer prescrições”!
Quem ama não ganha nada, mas perde tudo o que não é
essencial! O amor enriquece a quem ama e ao que é amado! O amor dispensa
acréscimos e compensações. Assim como o valor intrínseco do ouro nada tem a ver
com a cotação que possui no mercado, do mesmo modo o amor independe da cotação
moral ou religiosa.
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata
que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é, antes de
mais nada, uma complexa e poderosa manifestação de amor!
O que a muitos se parece com distância, a outros se
apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles
Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do
presente com o passado!
O que é mais importante: saber como nossos
antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter
alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas
no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
O passado é pobre em lições verdadeiramente
significativas! É o futuro que devemos
interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das
intenções de Deus!
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não
aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda
estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado,
presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No
Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico
humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito
de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de
continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos. Não é
correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo
com o que acontece no interior de uma semente
em trabalhos de parto!
Um modo de “andar à toa na vida” é pôr-se à procura
do lugar onde Deus se encontra e onde é possível encontrar-se com Ele. Perde
seu precioso tempo quem for procurá-lo em Roma, Meca ou Jerusalém. Sairá de lá
frustrado quem o foi procurar no centro de uma galáxia. Nem o interior de um
buraco negro é espaço indicado para quem procura um lugar onde morar. Moradia
boa é um lugar onde ir e vir é permitido sem a menor restrição.
A Casa do Pai, lugar onde Deus mora de acordo com a
palavra de Jesus, só pode ser um espaço em que o trânsito não obedece à regra
alguma. Há espaços que prendem e há espaços que convidam a voar. Não se deixar
prender a lugar algum é nisto que consiste a essência da “Liberdade dos Filhos
de Deus”!
Não ter mais obrigação alguma é nisto que consiste a
plena Liberdade de Deus. Toda lei que gera obrigação é inimiga da liberdade
humana, a qual, por sua vez, é reflexo da liberdade divina do Criador.
Dispensar a lei e não necessitar mais dela é o ponto alto em que a liberdade do
homem mais se aproxima da liberdade de Deus.
É um erro lamentável equiparar e identificar entre si
responsabilidade moral e obrigação. O mais responsável dos membros de uma
comunidade humana não é aquele que se cercou da mais compacta teia de
obrigações.
A “Liberdade dos Filhos de Deus” é um convite e não
uma lei no sentido jurídicomoral do termo.
O apóstolo Paulo, que mais se interessou por este
aspecto dos ensinamentos de Jesus, propõe aos fiéis de sua Comunidade que tomem
como modelo éticoespiritual não mais a lei, mas a liberdade de Deus. Para Paulo
ser tão livre como Deus é o objetivo último de toda a Ética Cristã. Para o
Apóstolo das Gentes só há um meio de ter uma ideia aproximada da liberdade de
Deus. Este meio é a vida de Jesus.
Jesus não veio trazendo em sua bagagem novas formas
de arrocho social. Não só não sancionou as que já existiam, mas as anulou a
todas. “Depois que tiverdes feito tudo o que é da vossa obrigação, dizei: somos
servos inúteis” (Lc 17,10).
A passagem da “Ordem da Lei” para a “Orto Charitatis et Libertatis”
preconizada por Cristo e que o apóstolo Paulo elevou à condição de “Leitmotiv central” de sua pregação,
apenas se encontra em sua fase inicial. Dois mil anos de cristianismo não foram
suficientes para romper a barreira que os “Doutores da Lei” armaram para
impedir que ela passe da periferia para o centro. Este passo teria que
coincidir necessariamente em Declaração dos Direitos Fundamentais da pessoa
humana em substituição aos atuais Códigos de Direito. Enquanto a liberdade
humana for apenas tolerada como se tolera um mal necessário, vamos continuar a
nos ver envolvidos nas mais diversas formas de violência institucionalizada.
Padre Marcos Bach
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