HARMONIA MORAL E ESPIRITUAL NO CASAMENTO
A tendência que nos leva
a considerar o casamento assunto privado, abrigado no silêncio discreto do lar,
é responsável por uma série de equívocos funestos. Esta concepção privativa e
hermetista do casamento o toma por uma espécie de “arca de Noé” a flutuar
segura e tranquila por sobre as águas do dilúvio, amparada pela mão poderosa e
complacente de Deus. Desta forma Deus é feito cúmplice de “arranjos
matrimoniais” muito piores do que a própria promiscuidade sexual.
Parece que o tempo, que
vale ouro na atividade profissional já não tem mais o mesmo valor na
intimidade do lar. O casamento só pode ser aquilo que a vida é. Quantas vezes
ouve-se dizer: “Aquele sujeito não vale nada. Mas tem uma esposa maravilhosa”.
Uma mulher virtuosa mais (+) um homem sem verticalidade moral alguma, podem
formar uma dupla aceitável. Jamais formarão um casal humano. Além de não
respeitar o princípio da totalidade existencial, tais concepções não tomam em
conta o princípio da reciprocidade. O tempo conjugal é um e recíproco.
Ao falar do tempo
conjugal facilmente se incide no erro de tomá-lo como a soma de dois tempos
pessoais paralelos. O problema da sincronização (ou falta de sincronização)
geralmente é escamoteado, falsamente identificado como incompatibilidade de
gênios. Se o casamento é uma “jornada a-dois”, o problema essencial não se
relaciona com a presença física (embora seja da máxima importância), mas com o
ritmo que ambos imprimem ao seu progresso espiritual. De nada vale a presença
física, o convívio no mesmo espaço físico, quando a distância que separa o
casal é tanta que na realidade seria mais honesto dizer que vivem em mundos
diferentes e separados. O leito conjugal perde nestes casos completamente seu
significado como símbolo de união.
O problema criado pela
falta ou excesso de tempo conjugal é devido à falta de sincronia espiritual. A
adaptação sexual não se limita ao ajustamento genital. O orgasmo simultâneo ou
sincronizado é fator irrelevante para a harmonia conjugal se o compararmos com
a importância decisiva da harmonia espiritual. Importante é, pois, que marido e
mulher se sintam perfeitamente à vontade em seus papéis sexuais para que se
possa falar em harmonia psíquica. É preciso que saiam de cada encontro amoroso
com a consciência de terem construído juntos mais um degrau em direção ao
infinito e definitivo. Caso contrário, não se pode falar em harmonia moral.
Deus ficou mais ao alcance da ternura: é o sinal de que o encontro representou
um momento religioso, que nada no mundo pode substituir, nem tem o direito de
suprimir.
Padre Marcos Bach
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