sexta-feira, 3 de outubro de 2014

HARMONIA MORAL E ESPIRITUAL NO CASAMENTO       

A tendência que nos leva a considerar o casamento assunto privado, abrigado no silêncio discreto do lar, é responsável por uma série de equívocos funestos. Esta concepção privativa e hermetista do casamento o toma por uma espécie de “arca de Noé” a flutuar segura e tranquila por sobre as águas do dilúvio, amparada pela mão poderosa e complacente de Deus. Desta forma Deus é feito cúmplice de “arranjos matrimoniais” muito piores do que a própria promiscuidade sexual.

Parece que o tempo, que vale ouro na atividade profissional já não tem mais o mesmo valor na intimidade do lar. O casamento só pode ser aquilo que a vida é. Quantas vezes ouve-se dizer: “Aquele sujeito não vale nada. Mas tem uma esposa maravilhosa”. Uma mulher virtuosa mais (+) um homem sem verticalidade moral alguma, podem formar uma dupla aceitável. Jamais formarão um casal humano. Além de não respeitar o princípio da totalidade existencial, tais concepções não tomam em conta o princípio da reciprocidade. O tempo conjugal é um e recíproco.
        
Ao falar do tempo conjugal facilmente se incide no erro de tomá-lo como a soma de dois tempos pessoais paralelos. O problema da sincronização (ou falta de sincronização) geralmente é escamoteado, falsamente identificado como incompatibilidade de gênios. Se o casamento é uma “jornada a-dois”, o problema essencial não se relaciona com a presença física (embora seja da máxima importância), mas com o ritmo que ambos imprimem ao seu progresso espiritual. De nada vale a presença física, o convívio no mesmo espaço físico, quando a distância que separa o casal é tanta que na realidade seria mais honesto dizer que vivem em mundos diferentes e separados. O leito conjugal perde nestes casos completamente seu significado como símbolo de união.

O problema criado pela falta ou excesso de tempo conjugal é devido à falta de sincronia espiritual. A adaptação sexual não se limita ao ajustamento genital. O orgasmo simultâneo ou sincronizado é fator irrelevante para a harmonia conjugal se o compararmos com a importância decisiva da harmonia espiritual. Importante é, pois, que marido e mulher se sintam perfeitamente à vontade em seus papéis sexuais para que se possa falar em harmonia psíquica. É preciso que saiam de cada encontro amoroso com a consciência de terem construído juntos mais um degrau em direção ao infinito e definitivo. Caso contrário, não se pode falar em harmonia moral. 

Deus ficou mais ao alcance da ternura: é o sinal de que o encontro representou um momento religioso, que nada no mundo pode substituir, nem tem o direito de suprimir.

Padre Marcos Bach

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