REPROGRAMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
Uma instituição religiosa que não persegue como
prioridade a abertura de espaços novos e de facilitar à consciência de seus
filiados o acesso a planos mais elaborados de fé e de experiência de Deus,
faria bem em declarar falência.
Em toda parte os líderes mais responsáveis estão se
unindo na procura de soluções. Quanto mais “fiel” for à sua Igreja, tanto mais
dificuldade encontrará pela frente o católico que não quiser “fugir à
história”. Sua formação religiosa e moral não lhe permitirão passos muito
ousados. Terá muita dificuldade na hora de romper com hábitos contraídos ao
longo de lustros de lavagem cerebral. E de domesticação moral. Mas os piores
obstáculos são os que se encontram em seu próprio interior. A tirania do
superego, aliada ao medo de perder sua alma caso não permanecer fiel ao que lhe
foi ensinado, são dois dos fatores que mais se opõem ao processo de
reestruturação e reprogramação dos conteúdos da consciência.
Antes de partir para a reprogramação da consciência é
preciso partir para a sua desprogramação, pois tanto o novo código de valores
quanto a sua “tradução” da teoria para a prática pertencem a categorias
diferentes e até certo ponto contraditórias. Quem usa duas réguas diferentes,
acabará obtendo como resultado duas medidas diferentes.
A consciência humana é uma totalidade heterogênea e
seus diversos “departamentos” ou planos não falam a mesma linguagem. Desprogramar
a consciência implica na necessidade de aprender a se expressar numa nova
língua. Um místico, como São João da Cruz ou Mestre Eckhart, não se expressa do
mesmo modo e nos mesmos termos com que o faz um professor de teologia.
O processo de desprogramação a que me refiro não é
nem simples, nem inofensivo, pois termina por deixar sem pai nem mãe, órfão da
mais dolorosa das orfandades, aos que a ele se entregam.
Há um período na vida de uma pessoa normal em que um
sentimento misterioso de insatisfação começa a se manifestar. A época coincide
com o advento dos assim chamados “demônios do meio dia”.
Lá pelos anos 50 o termo “angústia existencial”
entrou na moda. A existência humana é um rosário de absurdos. É tempo perdido oferecer a um homem a felicidade com que sonha em seu íntimo.
Dê-lhe tudo o que pede e ainda te acusará de lhe ter dado tudo, menos o
essencial. O que é este essencial sem o qual homem algum se dá por satisfeito?
Para ter uma noção do que é essencial para manter a
boa saúde de um corpo, é necessária uma mesa farta e bem posta. É
experimentando um prato depois do outro que será possível descobrir o alimento
que melhor condiz com as exigências e as necessidades do meu corpo. O mesmo
deveria valer também para as necessidades espirituais do homem. É neste campo
que a abundância de mestres, de receitas e de pratos é maior atualmente e mais
variada do que em outra época qualquer da história.
Pastores, amigos do
redil, da invernada e do brete são os que menos simpatizam com a realidade nova
para a qual começa a despertar um número cada vez maior de cristãos. Quem quer
acordar no sentido que Jesus deu a este passo, deve ter consciência de que
passará a complicar-se, antes de mais nada, com a sua própria Igreja. Igreja
nenhuma está preparada para aceitar como ortodoxas atitudes que exigem de seus
crentes a renúncia a toda uma tradição baseada na lei da inércia.
Entregar a salvação da sua alma a homens que só
conseguem expressar o Amor de Deus na linguagem da Lei e do Dogma é muito mais
arriscado e imprudente do que fazer da sua fé em Cristo um ato de absoluta
confiança e entrega pessoal ao amor de Cristo. Um cristão deveria ser o
primeiro a ensinar a seus irmãos que o caminho da salvação é simples e não
depende da intermediação de “pistolões”.
O caminho que conduz do
terceiro para o quarto nível de consciência em nada se parece com o que um
caminhoneiro costuma encontrar pela frente. Lá uma rodovia é igual à outra. No
campo do progresso espiritual tudo é diferente. Lá o “motorista” se vê, a certa
altura, na obrigação de mudar de estrada. E de mudar de velocidade! Numa boa autoestrada
a velocidade mínima deixa de ser a mesma de um caminho de roça.
Padre Marcos Bach
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