DEFASAGEM ENTRE A TÉCNICA E A ÉTICA
Existe uma grande defasagem entre as realizações
técnicas e culturais da nossa civilização e a pequena distância moral que
separa o homem de hoje do homem do início do neolítico. Teilhard tenta uma
explicação para este problema. Se (diz ele) um grupo de pessoas se postasse em
torno do pólo sul estariam todos juntos. Na medida, porém, em que partissem
tomando a direção do pólo norte iriam se afastar sempre mais uns dos outros. À
altura do equador teriam atingido o ponto máximo de distanciamento.
Coisa parecida aconteceu com a humanidade. Desde suas
origens até hoje a humanidade percorreu a primeira etapa de sua evolução
caracteristicamente expansionista. O homem expandiu sua presença pela face
inteira do planeta. Agora que todo o espaço físico foi ocupado chegou a “hora”
de se pensar em duas tarefas correlatas: a de dar consistência, unidade e
organicidade às conquistas realizadas, e de aprofundá-las. Isto quer dizer que
chegou a vez de meter mãos à tarefa de “colonizar” este planeta. Um processo e
uma tarefa a que Teilhard dá o nome de “planetarização”.
É hoje mais que necessário fundir os nacionalismos
dispersos, egoístas e conflitantes em amor à Terra, e as consciências
individuais, nacionais, confessionais e classistas numa só consciência
planetária. Uma tarefa de envergadura e proporções nunca imaginadas até aqui,
mas a que a própria evolução impele o homem da era cibernética.
A resposta que cada qual vier a dar a este desafio,
por pequeno e modesto que seja o âmbito social em que vier a dar-se, fará a
diferença pela qual a nossa civilização será conhecida no futuro. Se vier a ser
registrada por historiadores no ano 100.000 como a civilização do “plástico ou
a era da cibernética.
Segundo a opinião de Teilhard a humanidade chegou ao
“equador” na sua longa e obscura caminhada pelo tempo.
O fenômeno, que se manifesta à observação do analista
arguto, é o de grandes massas humanas forçadas a uma proximidade física a que
no plano psíquico nada corresponde, a não ser um grande sentido de distância e
isolamento.
Os grandes espaços geográficos comportam bastante bem
um tipo de individualismo que o ambiente de uma grande cidade moderna tornou
completamente inaceitável: dar-se bem uns com os outros, por bem ou por mal.
Só há realmente uma saída verdadeiramente eficiente e
digna de um homem civilizado: a força da consciência e o consenso unânime de
todos. Não se chega, porém, ao consenso livre de todos, se não houver debate e diálogo.
Isto inclui como premissa essencial a livre participação de todos segundo a
capacidade individual de cada um.
Onde o lucro de uns poucos ou a vontade de uma
minoria determina todas as decisões, aí é estritamente odioso falar em
participação, em consenso ou unanimidade. No entanto, sem esses ingredientes é
simplesmente impossível pensar sequer em fazer política social de verdade.
Padre Marcos Bach
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