MORTE E VIDA
Pessoas que tiveram morte clínica e passaram pela
“Experiência de Quase Morte” narram que tiveram que responder à pergunta feita
por um Ser de Luz: “Que Fizeste da Tua Vida?”
Responder a esta pergunta fora fácil porque tinham acabado
de ver sua vida inteira numa espécie de filme o que lhes permitiu distinguir,
sem possibilidade de engano ou erro o que nela fora positivo e o que não o
fora. Ninguém mencionou algo que se pudesse definir como julgamento. Parece que
na hora final cada qual é convidado a fazer seu próprio julgamento.
Ao iniciar sua vida todo ser vivo é incumbido da tarefa de
construir-se a si mesmo. Dois biólogos chilenos, Maturana e Varela, deram a
esta tarefa o nome de autopoiese. Assim como um poeta usa palavras para
construir sua poesia, do mesmo modo cada ser vivo usa células para edificar um
novo representante de sua espécie, semelhante a si mesmo.
Como, porém, pode um punhado de células embrionárias ter
uma ideia do que é preciso inventar para edificar um ser tão complexo, com
órgãos tão diversificados, como é todo ser vivo?
Um engenheiro trabalha com um olho na obra em andamento e o
outro na planta. Bom arquiteto é aquele que obedece a uma planta que consegue
visualizar antecipadamente o que está por nascer como fruto do seu trabalho.
Bom arquiteto é aquele que sabe usar pedras e tábuas como o
poeta usa palavras e rimas. A curvatura de um arco é tão importante quanto à
cadência de um verso.
Ao enterrar um morto tiramos de circulação tão somente o
seu cadáver, nada mais do que o invólucro mortal é entregue à destruição. Tudo
o que faz parte de seu Eu Superior o falecido levou consigo. O que acontece
depois é tema de especulação, pois são escassas as informações que possuímos.
Ainda alguns decênios atrás se podia dizer: “Nada sabemos,
pois ninguém voltou para contar”.
Mas hoje aumentou significativamente a possibilidade de
trazer de volta à vida pessoas que os médicos já tinham declarado mortas.
A morte clínica não encerra o processo de morrer. Isto só
ocorre quando o cérebro deixa de funcionar. A verdadeira morte é a morte
cerebral. E esta geralmente só ocorre após a morte clínica.
Deste modo o moribundo tem tempo para fazer uma avaliação
da sua vida toda, e caso lhe for aconselhado por misteriosos seres de luz,
poderá retornar ao corpo que acabara de abandonar. Este retorno é penoso e
sofrido.
A morte continua sendo um enigma e seus estágios
derradeiros continuam sendo uma incógnita.
Viver para os romanos era o mesmo que estar entre os
homens, “inter homines esse”. Morrer
significava para eles deixar o convívio humano.
No entanto, faz parte das verdades básicas da fé cristã a
crença na comunhão dos santos. A morte abre espaço para novas e inusitadas
formas de convívio e de comunicação.
Para que duas pessoas possam se comunicar
desembaraçadamente entre si é preciso que possuam em comum o mesmo nível de
consciência. “Simile simili gaudet”
diziam os romanos, “igual atrai igual”, dizemos nós.
Padre Marcos Bach
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