O SER HUMANO NO SEU CENTRO
O que torna o homem verdadeiramente senhor de si, autônomo,
isto é, legislador em causa própria, está no fato de ele ser o seu próprio
centro. O ser humano é espírito na medida em que ocupa efetivamente este
centro. Isto só uns poucos “rarinantes” conseguem em vida. Para a maioria vale
a constatação de Roberto Assagioli: “Em nossa vida cotidiana somos limitados e
atados de mil maneiras, presas de ilusões e fantasmas, escravos de complexos
irreconhecidos, empurrados de um lado para outro por influências externas,
ofuscados e hipnotizados por aparências enganadoras.
Não admira que num tal estado o homem se mostre
frequentemente insatisfeito, inseguro e variável em seu estado de espírito, em
seus pensamentos e ações. Sentindo intuitivamente que é uno e, no entanto,
descobrindo que está dividido em si mesmo, ele fica perplexo e não consegue
entender-se a si mesmo nem entender os outros.
Não surpreende, pois, que o homem, não se conhecendo nem se
compreendendo, não tenha autocontrole e esteja continuamente envolvido em seus
próprios erros e fraquezas; que tantas vidas sejam fracassos ou, pelo menos,
estejam limitadas e entristecidas por doenças do corpo e do espírito, ou
atormentadas por dúvidas, desânimo e desespero” (Psicossíntese, Cultrix, p.34).
Durante muito tempo se achou que a raiz do problema era a
falta de ajuste social e que a solução tinha que ser procurada no
relacionamento do indivíduo com seu ambiente social e cultural. Assagioli,
Groff, entre outros, optaram por um diagnóstico diferente. O modo como este
problema é diagnosticado e enfrentado habitualmente, costuma ser desastroso. A
maioria se “joga de cabeça numa vida de atividade febril, de excitação
constante, emoção tempestuosa e temerária aventura” (Assagioli, o.c.p. 34).
Para boa parte dos diretores de consciência a causa do
problema é a falta de ocupação e a falta de oração. Um moralista dirá que o
problema é de natureza moral e que a solução só pode ser da mesma ordem que a
causa.
Um psiquiatra ou psicólogo imbuído do espírito de Freud
dirá que o problema é médico e é causado em última análise por um distúrbio
neuronal. Trata o paciente como doente, e diagnostica os sintomas como
patológicos.
Nem João da Cruz, nem Jung, nem Assagioli atribuem o
fenômeno por eles descrito a alguma forma de desordem moral. Não são os
pecadores que entram em crise, seja ela de “Emergência Espiritual” (Assagioli),
de “Individuação” (Jung), ou a “Noite Escura” de João da Cruz. Também não são
os perfeitos, os que têm méritos a oferecer, que são contemplados com esta
graça. Os poderosos e os eruditos raramente despertam o suficiente para
perceberem o estado real de suas consciências.
Um dia destes “os discípulos se aproximaram de Jesus e
perguntaram: quem é o maior no reino dos céus? Jesus chamou uma criança,
colocou-a no meio deles e disse: em verdade vos digo, se não vos converterdes e
não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Quem se faz
pequeno como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. E quem acolher uma
criança como esta, estará acolhendo a mim mesmo” (Mt 18,1-5).
Padre Marcos Bach
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