ENTREVISTA COM O
NOVO PAPA
A ciência progrediu aos saltos nestes últimos
decênios. A impressão que se tem é de que a Igreja católica não conseguiu
acompanhar este avanço. O que Vossa Santidade pensa a respeito deste assunto?
Papa: “A complexidade do universo que os cientistas nos estão
revelando é tal que nem sequer eles mesmos conseguem compreendê-lo. A crença de
que o mundo científico é povoado por gênios e que o mundo da fé é povoado
apenas por reacionários, fundamentalistas fanáticos e analfabetos, não
corresponde à verdade. A ideia que a maioria dos nossos intelectuais tem da
natureza do tempo é a mesma que dele tinham Aristóteles ou Galileu. São muito
poucos os que se deram conta do caráter revolucionário das descobertas de Einstein
ou das implicações práticas da Teoria Quântica. Também no campo científico é
possível encontrar pessoas que se negam a pensar mais longe do que o horizonte
das suas conveniências. Em se tratando de formular teorias, somos todos,
cientistas e teólogos, mais corajosos do que quando somos convidados a pô-las
em prática.
A verdade é multiforme e se pode chegar a ela por
mais que um único caminho. Os meios de chegar até ela são diferentes, mas o
resultado final é um só e consiste na consciência de ter-se aproximado um pouco
mais da Verdade Suprema. Cientistas, filósofos, místicos e poetas só merecem fé
se souberem respeitar uns aos outros.
O diálogo da ciência com a fé não pode ser conduzido
por especialistas deste ou daquele ramo do saber humano. Não pode ser confiado
a pessoas acostumadas a pensar sempre numa única direção. O fato de sabermos
hoje que o universo é muito maior e bem mais complexo do que se podia supor uns
poucos séculos atrás, nos convida a sermos mais humildes e menos prontos a
proclamar como definitivo o que na melhor das hipóteses não é mais do que uma
pequena bolha de saber na superfície de um oceano de interrogações para as
quais ainda não temos resposta satisfatória. Considero a curiosidade
intelectual aspecto fundamental da fé de um autêntico cristão adulto. Sou dos
que acreditam que nos encontramos aqui neste planeta para aprender algumas
lições que só a passagem por ele nos pode ensinar.
Quem de nós não sabe por experiência que até o erro
pode ensinar alguma coisa!? Errar é humano, mas só na medida em que dele nos
servimos para aprender como não se deve proceder. O medo de errar pode ser tão
nocivo à fé quanto a impostura a céu aberto. Não somos infalíveis nem
precisamos da infalibilidade para sermos cientistas ou cristãos honestos e
merecedores de respeito. Basta que sejamos humildes servos da Verdade, cada
qual a seu modo e dentro do campo da sua competência”.
Do manuscrito “O NOVO PAPA” de Pe. José Marcos Bach,
SJ
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