METACIÊNCIA,
FILOSOFIA E TEOLOGIA
Em nossos dias a melhor filosofia está sendo feita por físicos e
biólogos. A palavra metafísica desapareceu do vocabulário. Em seu lugar entrou
em uso o conceito de metaciência.
Metacientista é um cientista que não se contenta com
experimentar, observar e constatar. Transforma o conhecimento adquirido em
ponto de partida para a aquisição de novos conhecimentos. Na mente de um Einstein ou de David Bohm uma
descoberta científica é menos um termo de chegada do que um ponto de partida. O
nome que se poderia dar a esta nova postura científica me parece ser este:
Ciência Especulativa.
Todo bom cientista é também, a seu modo, um filósofo. Temos
motivos para depositar esperança no desenvolvimento da especulação científica. Ciência
e Filosofia se encontraram e estão avançando de mãos dadas. Só resta que o
mesmo aconteça com a Teologia.
Falar sobre Deus ignorando o universo material é o mesmo que
criticar ou enaltecer a figura de um artista ignorando suas obras. Que ideia
teríamos de Miguelangelo ou de Da Vinci não fossem a Capela Sixtina e a Última
Ceia? Fazer teologia (Theologein, em
grego) é mais do que pensar sobre Deus, é falar de Deus. Fazer teologia é muito
mais do que debruçar-se sobre o texto de Livros Sagrados. Para merecer o título
de teólogo não basta publicar de quando em vez um livro ou um artigo. A
atividade de um bom teólogo inclui a pregação. Jesus, o maior teólogo de todos
os tempos, que falava de Deus como antes dele ninguém o fizera, era também o
maior e o mais eloquente Pregador que a história conhece.
A palavra pregar vem do termo latino praedicare, que por sua vez é sinônimo de predicere, predizer. Predizer significa dizer ou falar antes. Antes
de quê? Antes da ação correspondente.
Na antiguidade judaica era a figura do profeta que desempenhava
tanto a função de pregador quanto a do crítico social. Cabia a ele separar o
que no comportamento do povo e na atitude política dos governantes tinha futuro
e o que não merecia fazer parte dele. Os profetas de Israel eram homens que
possuíam uma visão holística da vocação messiânica do seu povo. Viam o Todo (Holos, em grego) em cada “parte” e cada
“parte” na perspectiva deste Todo.
Para o apóstolo Paulo este Todo não possuía conotação política,
mas, sim, histórica e psicológica. Era para ele o pleroma, a plenitude, um estado de espírito, fruto da união
definitiva da alma com Cristo. Símbolo deste estado de perfeita felicidade é o
amor que une entre si um casal cristão. A força santificadora do matrimônio
cristão reside no seu caráter sacramental, na sua transparência e capacidade de
manifestar de forma simbólica toda a beleza, grandiosidade e generosidade com
que Deus ama a humanidade toda.
Na Pessoa de Jesus Deus assumiu um compromisso (Aliança) com
criaturas aparentemente incapazes de compreender o que estava acontecendo. “Nesciunt quid faciant”. “Não sabem o que
fazem”. Nem sequer sabem o que querem. Comportam-se como se fossem cataventos.
Voltam-se sempre para o lado donde sopram os ventos aparentemente mais
favoráveis. Gastam suas melhores energias trabalhando, ou, então, farreando, de
sorte que já não lhes restam mais forças quando aparece uma oportunidade de se
entreter na oração com o seu Deus. São eles que compõem a quase totalidade dos
que se dizem cristãos. Por incrível que possa parecer, é esta, precisamente
esta, a humanidade da qual Ele, o próprio Deus, quis tornar-se membro. Com este
passo Deus se privou da liberdade de contentar-se com as riquezas infinitas do
seu próprio Amor Divino. Como um pai que a certa altura da sua carreira tem que
assumir os “amores” de seus filhos, Deus se comprometeu em Jesus a não ignorar
mais a vida amorosa dos que escolheu para serem companheiros e irmãos do seu
Filho.
Fazer teologia significa falar com carinho e amor deste mistério
insondável que é o Amor Divino. Isto não se faz formulando teses ou repetindo
pela enésima vez o que já foi dito. Teologia se faz em assembleia e não em
gabinetes de trabalho. Teologia se faz orando. Tudo o que a mera reflexão é
capaz de nos oferecer é palha, comparado com o que o sorriso puro de uma
criança é capaz de nos ensinar. “Agradeço-te, ó Pai, porque revelaste o
essencial do teu projeto de amor aos pequeninos e humildes” (Mt 11,25).
In “A Igreja que
eu Amo” Livro de Pe. José Marcos Bach,SJ –
Ed. Própria.
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