DIVERSOS SÃO OS RETRATOS
DE DEUS
A distância que separa o
cientista moderno do de cem anos atrás é a que separa um teólogo do passado da
figura eminentemente profética que o futuro está a exigir. Profeta é aquele que
aposta no que ainda resta por vir, mais do que naquilo que já aconteceu. O
cabedal de verdades e de experiências aproveitáveis, contidas na Tradição, é
pequeno. Quem quer aprender algo de essencial não pode contentar-se com folhar
Escrituras e reviver Tradições.
No terreno da pesquisa científica há muito que já não existe mais lugar
para a continuação tirânica do Mesmo.
Cientistas têm a liberdade de se relacionarem com a realidade de um modo que
religião alguma confere a seus teólogos.
Hoje a figura do teólogo praticamente desapareceu do cenário cultural.
Isso não significa que a teologia como tal tenha perdido sua razão de ser e sua
importância. Deus não está morto. Continua vivo no pensamento e nas
interrogações dos mais proeminentes mestres do pensamento científico moderno.
A diferença que separa o
pensamento teológico religioso do pensamento teológico secular é esta: as
religiões oferecem à fé de seus fiéis um conhecimento de Deus bem definido e
pronto para consumo. Maometanos, judeus e cristãos encontram em seus
“catecismos” um retrato completo de Deus. Ao crente só lhe cabe fechar os olhos
e acreditar cegamente.
Um retrato ou imagem pode ser retocada e adaptada ao gosto do “freguês”.
Quem não percebe que Javé, Alá e o Deus dos cruzados são retratos
cuidadosamente retocados? Não há imagem que se preste tão bem a retoques e
falsificações do que a figura de Deus. Dizer que no mundo religioso só existem
homens totalmente honestos e motivados em suas decisões exclusivamente pelo
amor à verdade, é esquecer que a realidade histórica concreta é feita em boa
parte de mentiras bem sucedidas.
In: Manuscrito.
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