INTERROGAR O FUTURO É PRECISO
Se eu quisesse falar em nome e em sintonia com a
Igreja, em nome da qual falam o papa e os bispos por ele nomeados, bastar-me-ia
copiar o catecismo romano. O discurso oficial das Igrejas todas é basicamente o
mesmo de dois séculos atrás! Desde então aconteceram revoluções que abalaram
praticamente os fundamentos todos da assim chamada ordem estabelecida.
Fracassaram todas as tentativas de restaurar a hegemonia do tempo passado sobre
o tempo futuro. Os únicos campos em que ainda há espaço para concepções
fundamentalistas são o político e o religioso. No terreno econômico não há mais
lugar para fundamentalistas e ideólogos. O mesmo se pode afirmar a respeito do
campo das atividades científicas.
Tem toda a razão o
físico David Bohm quando constata que tanto a evolução da vida como a revolução
dos corpos celestes é antes de mais nada uma complexa e poderosa manifestação
de amor!
O que é o amor na visão de um cientista como Bohm
senão a alma e a energia constitutiva de um cosmo
em contínua transformação? Refletindo como fizeram Einstein, Heisenberg, Bohm e
outros muitos mais, chega-se a ter uma ideia da distância que separa o
pensamento mecanicista de um Newton da concepção holística de um físico
moderno.
O que a muitos se parece
com distância, a outros se apresenta como fosso intransponível. Um deles era o
filósofo francês Charles Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente
impossível reatar a ligação do presente com o passado!
O que é mais importante: saber como nossos antepassados
enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter alguma
resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas no bojo
de um futuro aparentemente imprevisível.
O passado é pobre em lições verdadeiramente significativas!
A história do povo judeu é pobre em lições úteis. Na história do povo judeu
Javeh, seu Deus, sempre se sai melhor do que o seu povo. Javeh se preocupa com
o futuro do seu povo enquanto este chora de saudade das panelas de carne com
cebola do Egito!
É o futuro que devemos
interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das
intenções de Deus!
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não
aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda
estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado,
presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No
Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico
humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito
de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de
continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos.
Não é correto comparar o
fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo com o que acontece
no interior de uma semente em
trabalhos de parto!
Padre Marcos Bach
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