JESUS NUNCA TEVE MEDO DAS MULTIDÕES
A estrutura psicológica
da consciência de um cristão católico encontra-se profundamente impregnada da
convicção de que sua salvação eterna depende, antes de mais nada, da sua
obediência às autoridades da sua Igreja.
Durante quase dois mil anos os papas usavam a
excomunhão como meio de quebrantar a resistência dos que se opunham a suas
ambições de poder. Como arma política a excomunhão e o interdito deixaram de
existir. Diminui a olhos vistos o número dos que têm medo de serem expulsos da
sua Igreja. Mas nas esferas subliminares da consciência religiosa das massas
populares, continua viva e atuante a crença de que a salvação da alma depende
do fato de alguém pertencer a uma Igreja. Para grande parte dos católicos estar
do lado do papa é o mesmo que estar do lado de Deus. Aplaudir por aplaudir já
se está tornando manifestação de fé cristã, desde que o aplaudido se faça
passar por enviado de Deus e representante de um poder superior.
A Igreja católica ainda
está por descobrir que a comunidade, como todo, também é fonte de poder. Ela é
uma das poucas instituições do mundo civilizado que ainda não encontrou em seu
seio formas democráticas de governo. Nela tudo continua sendo imposto e
decidido de cima para baixo.
Transformar em povo
livre uma multidão habituada à “segurança” do cabresto e da “gaiola” é tarefa
para gerações de estadistas e de profetas. O futuro da humanidade vai depender
do grau de liberdade dos que terão a tarefa de arcar com ele.
Lenin cometeu o erro de achar que uma “aristocracia
de intelectuais” bastaria para transformar a Rússia Zarista num Paraíso
Socialista.
Nos anos 60
a Igreja católica cometeu o mesmo erro, achando que uma
Assembleia de bispos tinha condições de traçar o futuro de uma Igreja renovada
e universalmente aceita por todos os homens de “boa vontade”.
Ainda estamos por
descobrir o lugar e o papel que Cristo reservou ao povo, isto é, à multidão de
excluídos, marginalizados, excomungados, que nunca tiveram a oportunidade de
professar a sua fé em Cristo a não ser batendo palmas à passagem de seus
senhores.
Durante séculos prevaleceu a tese segundo a qual é
inimigo da fé cristã todo aquele que é amigo da liberdade. Que é inimigo da
Igreja quem se coloca do lado do povo.
A Teologia da Libertação
foi condenada pelo Vaticano porque elevou o povo, seus anseios e sofrimentos, à
condição de sujeito da História da Salvação. Os que sentem mais de perto as
consequências da exploração do homem pelo homem são os interlocutores preferidos
de Cristo.
Jesus nunca teve medo
das multidões. Nunca se serviu de guarda-costas para se defender de eventuais
abusos. O atual Papa gostaria de transmitir à opinião pública a imagem de homem
do povo. Acontece que entre ele e o povo estão estacionados milhares de agentes
de segurança. Jesus nunca pôde contar com tamanho aparato de segurança. Se o
Papa fosse realmente o homem do povo que gostaria de ser, dispensaria toda e
qualquer espécie de segurança que não fosse a segurança que um pai encontra no meio
de seus filhos.
Padre Marcos Bach
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