O CONCEITO DE DEUS ATRAVÉS DA HISTÓRIA
“Tudo o que disserdes a respeito de Deus será mais
falso que verdadeiro”.
A palavra Deus vem do sânscrito, uma língua antiga da
Índia. De Dyaus Pitar originaram-se
os termos Deus. Zeus e a palavra patér,
em grego e o termo latino pater.
Desde sua origem o conceito de Deus vem associado ao
de pai e a tudo o que numa cultura eminentemente patriarcal vem associado à
palavra pai: autoridade, poder, hegemonia social.
Zeus, o mitológico pai dos deuses gregos, podia
permitir-se atitudes e comportamentos que um simples mortal não podia adotar
sem ferir leis fundamentais da ordem moral. “Quod licet Jovi, non licet
bovi”, dizia um ditado romano. O que Júpiter pode permitir-se não é o mesmo
que é permitido a um boi.
O símbolo de Júpiter é o Touro, bos, em latim. Era o Touro Sagrado, o pai supremo dos deuses, o
único Senhor isento da obrigação de se submeter a limitações de natureza moral.
Os mais destacados dentre os deuses do panteon greco-romano são filhos bastardos
de Júpiter.
Quem quer entender em
toda a sua extensão o esforço moralizador do cristianismo não pode ignorar o
fato de que ele é hoje menos fruto da consciência religiosa de homens do
deserto do que herdeiro religioso da civilização greco-romana.
Deus pode o que os humanos não podem! Júpiter pode
permitir-se liberdades morais que são vedadas aos homens!
A superioridade de Deus
está em que Ele pode o que os homens não só não podem, mas é lhes proibido
poder. Só Deus pode fazer milagres, diziam os adversários de Jesus. Ao que
Jesus respondeu: “Tudo o que Eu fiz, vós também podeis fazer”!
Jesus não veio a mandado do Pai com a missão de
circunscrever a liberdade dos homens, impondo-lhes novos limites. Seu conflito
com a cúpula religiosa do seu povo tinha como eixo a relação dialética que opõe
entre si a Lei e a Ordem Estabelecida dum lado, e do outro, a Liberdade dos
Filhos de Deus.
Jesus entrou na história dos homens como aquele que
tomou o partido dos homens em detrimento de conceitos religiosos mais propícios
à manutenção de regimes teocráticos do que a expansão democrática da liberdade
do próprio Deus. O Deus de Jesus não cabe em conceitos e imagens. Não é Senhor
amarrado a papéis e funções, obrigado a submeter-se a determinismos e a leis
que Ele mesmo criou.
A evolução do pensamento
religioso em geral, depende em boa parte da consciência que a humanidade tiver
de si própria. E esta, por sua vez, depende do conhecimento que tiverem do
universo, da sua extensão como da sua complexidade. Até data recente o universo
era aos olhos dos astrônomos o que a luneta de Galileu lhes permitia ver. Da
noção de um universo acanhado de apenas 6.000 astros brotou um tipo de
humildade que é o oposto não só da autêntica humildade cristã, mas também da
modéstia típica de todo grande cientista. Werner Von Braun, numa conferência
proferida em Frankfurt na Alemanha, a chamou de “a humildade do astronauta”.
Desde os tempos de Newton e Descartes até hoje,
encontra-se em curso no campo teológico uma revolução de proporções
“copernicanas”. Quem hoje fala de Deus como o fizeram Agostinho de Hipona e
Tomás de Aquino ou como fizeram Descartes, Leibniz e Newton, todos eles
cristãos crentes, deveria revestir-se da mesma humildade e modéstia que
professa todo grande cientista da atualidade. Em termos de conhecimento do cosmo e da estrutura da matéria estamos
apenas tateando o chão à procura de um solo mais firme e confiável que aquele
que as religiões nos oferecem. No terreno do conhecimento do universo estamos
assistindo aos capítulos iniciais de uma história da qual o momento atual é
parte de sua fase pré-histórica.
Padre Marcos Bach
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