MÍSTICA DA EUCARISTIA
“E como
amou os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Depois que Jesus Cristo lavou os pés dos seus
discípulos, tomou o pão, partiu-o e deu-o para que fosse partilhado, dizendo:
“Tomai e comei todos vós, este é o meu corpo que será entregue por vós”. “Do
mesmo modo, no fim da Ceia, tomou o cálice com vinho em suas mãos e disse:
Tomai e bebei todos vós, este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e
eterna aliança, que será derramado por vós e por todos em remissão dos pecados.
Fazei isto para celebrar a minha memória”.
Pergunto: o que tem a ver estes gestos de Jesus
com o dar uma hóstia branca na boca de uma pessoa? Não foi um gesto de
irmanação de todos os presentes este partir e partilhar o pão e o vinho,
tornando-os símbolos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o “Pão Vivo descido
do céu?”, sua Pessoa presente em “espírito e vida”? “Fazei
isto em minha memória” não evoca postura de
relacionamento, gestos de fraternidade, de participação e de amor?
Dar a hóstia na boca da pessoa: a) bem pode
representar um gesto que evoca submissão e minoridade. É um gesto de quem se
coloca acima de todos e todas e decreta o que é verdade, o que deve ser
obedecido.
b) Quem o faz não se coloca de igual para igual como o fez
Jesus lavando os pés de seus seguidores.
c) Quem assim procede não convida a quem pretende distribuir o “Pão
Vivo descido do céu” para sentar-se ao redor de uma mesa para partilhar deste
Pão.
Jesus partiu o pão e o
distribuiu. Apenas deu-o na boca de Judas, o traidor.
- Receber o pão na boca é declarar incapacidade
de distinguir quem é quem;
- É ser passivo sem a menor ideia do que
representa ser participante de uma Comunidade Cristã;
- É trair Jesus e seu projeto de vida para todos
e todas em abundância, conquistado pelas pessoas que atuam numa comunidade e se
relacionam nela com total doação, desprendimento e amor!
Dar a hóstia na boca de alguém é submetê-lo a
ser inferior, a receber tudo pronto e a não precisar fazer esforço em conjunto
para conquistar os bens que nos esperam e nos fazem viver melhor.
Por que é tão dramática a falta de pão na mesa
de alguém? É porque o pão nosso de cada dia em cima de nossas mesas alimenta
também o nosso espírito. A Eucaristia é plena e completa se
incluir o pão nas nossas mesas!
Os primeiros cristãos se reuniam e tomavam as
refeições em comum. Celebravam, desta forma, o partir e o partilhar do pão em
memória de Jesus, a Eucaristia (Atos 2,42...). Será que o mesmo não podemos
começar a fazer em nossas famílias, em nossas pequenas comunidades para nos
lembrar da importância do alimento para nossa vida, para nossas almas, para
nosso espírito? Numa época de inversão de valores, onde cultuamos o automóvel e
a indústria de combustíveis em detrimento dos alimentos, não é oportuno lembrar
o pão como alimento humano e espiritual indispensável?
Que o partir e o partilhar do Pão da
Eucaristia nos lembre a falta de pão na mesa de muitos de nossos irmãos e irmãs
e nos leve a sermos solidários com aqueles e aquelas que não dispõem do pão de
cada dia!
Padre Marcos Bach
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