O AMOR É GRATUITO E INCONDICIONAL
A crença na existência
de um órgão espiritual destinado a pôr o espírito do homem em contato com o
divino é anterior a Jesus Cristo. Já o filósofo grego Platão, que viveu três
séculos antes de Jesus, fala da existência de uma “centelha divina” presente no
interior de toda pessoa humana. Jesus apenas regou com as águas abundantes da
sua Graça o que Platão e outros pensadores gregos tinham semeado.
A ideia de que o
interior do homem é terreno devastado pela ação de um hipotético pecado
original é incompatível com a mensagem otimista de Jesus. “Se alguém me ama e
crê em mim, Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23).
Para que isto venha a acontecer só há um único requisito a preencher: abraçar,
sem reservas, a causa de Cristo. Além do Amor que Deus nos oferece não existe
mais nada que se possa classificar como exigência.
O amor é gratuito e
incondicional, por isso ele é inegociável. Quando após uma briga um casal volta
a fazer as pazes, isto não quer dizer que voltou a se amar novamente como antes
ou até mais do que antes. Não há no terreno afetivo briga que não deixe
sequelas.
Quem atingiu no terreno
afetivo o nível de um amor perfeito como é perfeito o amor incondicional de
Deus, pode fazer o que bem entende. O amor é o limite que separa o que é
inegociável do que pode ser objeto de negociação. Deus não castiga ninguém.
Menos ainda pensa em privar alguém do seu amor e da sua amizade.
O inferno foi criado por
homens que, se não tiveram a intenção de fazê-lo, acabaram por insultar a Deus.
Deus não usa o castigo como instrumento pedagógico. Sua resposta única ao
pecado dos homens é o perdão e quando este não é solicitado sua resposta é a
espera paciente. Um Deus que castiga, ou, ao menos está mais disposto a punir
do que a perdoar, não deve contar com a simpatia de policiais e dos
representantes da autoridade constituída. Jesus que o diga! Pois foram eles os
responsáveis por sua morte.
Se queremos contar com o
apoio de um aliado fiel e incorruptível devemos procurá-lo dentro de nós, pois
é lá e não fora de nós que ele se encontra. Enquanto o ego passa o tempo nos
iludindo, o superego se dedica à tarefa de zelar para que as exigências da
parte já programada de nossa consciência venha a sofrer as consequências da
atividade da parcela ainda livre da nossa consciência total.
Os planos ainda livres
se encontram além do ego e fora do alcance da ação tirânica do superego. A
psicanálise decompõe a consciência em suas partes, mas como a consciência não é
um todo composto de partes, mas uma totalidade inconsútil, não será a análise
que nos vai levar a compreendê-la. O cientista que viu isto melhor que outros
foi o italiano Roberto Assagioli. Criou um método de atendimento psicológico a
que deu o nome de Psicossíntese. Seu método é o oposto do método psicanalítico
de Freud. Enquanto Freud via as árvores, mas não via a floresta, Assagioli
chegou à conclusão de que a consciência humana era, em sua essência, uma
estrutura verticalizada. Que ela ocupa o espaço psíquico elevando-se de baixo
para cima. Onde Freud não via mais nada, Assagioli percebeu a presença de um
patamar mais elevado da consciência total, ao qual deu a denominação de Eu
Superior. A este Eu Superior Assagioli atribui a função que numa orquestra cabe
ao regente.
A própria orquestra se
autorregula. Isto é, a própria consciência regula a sua produção. Para isto ela
precisa de se livrar da interferência não só da polícia, como da atividade
perturbadora tanto do ego como do superego. Ambas estas instâncias representam
o que se convenceu definir como “Cavalo de Troia”. São uma armadilha e dentro
dela se escondem os que pretendem ter o direito de impor sua vontade a outros.
Padre Marcos Bach
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