O HOMEM NOVO EM IGREJA RENOVADA
O que as Igrejas cristãs fizeram no sentido de
implementar transformações sociais verdadeiramente significativas? Como iriam
fazê-lo com alguma chance de sucesso se elas próprias representam nichos
sociais privilegiados? E qual delas está disposta a mudar de rumo?
Jesus não depositou a menor confiança no judaísmo
religioso do seu tempo. Não pactuou nem com os representantes do Império
Romano, nem com os senhores do templo. Dedicou-se à tarefa de esboçar o perfil
de um novo tipo de religiosidade cujo corolário mais “revolucionário” é a
formação de um Novo Homem. Um Homem que tanto poderá ser homem quanto mulher. O
objetivo principal de Jesus não foi o de fundar uma nova religião, mas o de
criar um Novo Homem. Uma Igreja só merece o nome de cristã se for um lugar em
que este Novo Homem poderá nascer e desabrochar!
O Vaticano, como todos os ambientes eclesiásticos,
seguramente não é este lugar, pois não se parece em nada com um “Berçário”. É
um ambiente por demais senil para merecer este qualificativo. Então, onde
encontrar este berçário do Novo Homem que o teólogo jesuíta Karl Rahner
descreve tão bem num opúsculo intitulado A Caminho do Homem Novo? (Ed. Vozes).
Ele existe perdido no meio do povo. Não possui
atestado de batismo ou outro documento qualquer que comprove sua condição de
Homem Novo. Não possui status
religioso. Sua religiosidade dispensa ritos e cerimônias. É jovem, pois como
poderia ser novo fosse velho, velho de corpo, de alma e de espírito? Não teme
assumir riscos antes de todos os demais, o risco de promover mudanças. Quem tem
que partir para a guerra são os jovens, porque ainda têm pouco a perder.
Nas cúpulas religiosas há demais pessoas temerosas de
perder o fruto de uma carreira bem sucedida. Quem, cansado de um sistema
religioso e moral excessivamente restritivo e acovardado, não sonha de vez em
quando com uma Igreja diferente, em que é permitido avançar e progredir sem a
obrigação de passar mais tempo respeitando limites do que ir até onde o Amor o
impele? É este o perfil da autêntica Igreja de Cristo: um espaço social e
cultural absolutamente aberto e livre, onde não é permitido impor limites além
daqueles que a própria condição humana impõe.
Uma Igreja sujeita ao tipo de disciplina que alguns
insistem em manter, não deve esperar que a História lhe seja propícia e que as
novas gerações a aclamem e a amem com paixão.
Uma Igreja que não consegue mais do que cativar a
mente de pessoas “idosas” e prematuramente “envelhecidas”, deveria pensar
seriamente em sair de cena, dando deste modo lugar a uma Nova Igreja, jovem e
dinâmica. Uma Igreja que tenha por hábito colocar-se em tudo à frente dos
acontecimentos. Uma Igreja capaz de conduzir a humanidade e de levá-la a se
distanciar do seu inglório passado, o mais possível.
Existe um antagonismo radical entre o tipo de
organismo social vampiresco e parasitário e o seu oposto, o organismo social
sinergético e simbiótico. A diferença está no grau de participação dos membros
todos no exercício do poder.
O povo católico, composto na sua maioria de pessoas
humildes, nem sequer sonha com a ideia de assumir o poder e destronar o clero.
O que a maioria deseja não é expulsar o padre e tomar o seu lugar. Nem sequer
estão interessados numa Igreja sem padres e sem bispos. O que querem então?
Querem um novo tipo de relacionamento intraeclesial.
Não querem ser lembrados apenas na hora de bater palmas à passagem do papa.
Querem participar da vida da sua Igreja. Querem estar presentes quando e onde é
discutido o futuro da sua Igreja. Não admitem que Cristo tenha tido a intenção
de confiar todo o poder a uns poucos, excluindo dele a esmagadora maioria do
Povo de Deus.
Se Cristo nos redimiu para a Liberdade (Cf. Gl 5,1),
então é condenável tudo o que impede o direito a seu exercício pleno. O
conceito de “liberdade vigiada” é típico de regimes autocráticos. Lá onde se
implanta um sistema bem montado de vigilância ideológica com a finalidade de
manter sob controle o pensamento e a vontade do povo, não pode haver espaço para
outra atitude que a de dizer amém e subscrever tudo o que já foi decidido.
O que queremos?
A humanidade precisa da Igreja de Cristo. Poderá ser
a de Cristo uma Igreja que teme a liberdade mais do que os riscos e vícios de
um regime despótico? Onde encontrar esta Igreja?
A Igreja católica certamente não é a encarnação viva
da liberdade que Cristo nos veio trazer. É governada por homens que têm mais
medo da liberdade do que do diabo. Até o papa admite que a Igreja tenha que
converter-se.
A vida da Igreja católica se encontra cristalizada há
séculos em torno de um modelo estático.
Não existe nela a mais remota chance de promover mudanças capazes de abalar a
estrutura vigente e de pôr em risco a hegemonia da classe dominante. Ninguém
deve esperar que o clero tome iniciativas destinadas a substituir por outro o
modelo eclesial vigente. Por que os 400.000 clérigos que compõem a cúpula da
pirâmide eclesial e constituem a espinha dorsal da Igreja de Roma iriam abrir
mão de seus “sagrados” direitos?
“É a necessidade que ensina a gemer”, diz um ditado.
O número de católicos anda em torno de um bilhão e duzentos milhões. Mas esta
massa ainda não aprendeu uma lição que toda criança sabe: não aprendeu a gemer
e a espernear. “Comem” tudo o que seus pastores lhes põem no cocho.
Os que “assistem” a missa aos domingos são os mesmos
que à tardinha se acomodam ao pé de um aparelho de TV para acompanhar as
peripécias dos personagens de suas novelas favoritas. A diferença está em que a
novela é capaz de fazê-los chorar, algo que até um Marcelo Rossi é incapaz de
conseguir.
A Igreja católica cometeu o grave erro de associar-se
a um Império que já era decadente na época em que tomou esta decisão. O
resultado foi idêntico ao que se pode esperar do casamento de uma jovem
exuberante com um velho.
Como instituição a Igreja católica é tão “velha” e
superada como o seria o Império Romano se ainda existisse. Todo o esplendor,
pompa e grandeza com que a Igreja católica ainda costuma cercar a presença de
seus “dignitários” ela o herdou do Império Romano. Tudo isto destoa
escandalosamente do exemplo de vida de Cristo.
Padre Marcos Bach
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