O CONSUMISMO ESCRAVIZA O ESPÍRITO HUMANO
O consumismo representa uma das mais sorrateiras
formas de escravizar o espírito do homem. Não há escravo mais digno de lástima
do que aquele que sucumbiu à tirania dos seus próprios desejos e necessidades.
O terreno social abrange o relacionamento do homem
com a natureza, com seus semelhantes, com Deus e consigo mesmo. Infelizmente é
este o terreno em que o cristianismo colheu a maior parte dos seus fracassos. O
nível do relacionamento entre indivíduos e povos é praticamente o mesmo da
época de Cristo. O que piorou, e muito, é a maneira como os homens tratam a
natureza. A carga de insensatez que nosso pobre planeta tem que suportar
coloca-o à beira do colapso. Não é só o equilíbrio ecológico que está sendo perturbado
de forma crescente. Em situação pior se encontra o equilíbrio emocional das
pessoas. Para a maioria delas a vida se transformou numa corrida desenfreada
contra o tempo. Pode alguém ainda levar a sério o conselho de Jesus: “Não vos
preocupeis com o dia de amanhã?”. E o respeito pela vida em que pé anda?
A quantidade incrível de seres vivos e de formas de
vida diminui a olhos vistos, ano após ano. Entre as espécies ameaçadas de
extinção encontram-se representantes da biosfera que o homem não teve tempo
sequer de conhecer! Em situação ainda mais lamentável encontra-se o respeito
pela vida humana. Poucos são os direitos sancionados pela moral que o direito
de matar! Não se pode matar pelo prazer de matar! Condenável é a prática dos
caçadores de cabeças do Bornéo. Digno, porém, de uma Cruz de Ferro ou de uma
Legião de Honra é o “herói” que matou o maior número de “inimigos”.
Quem quer matar à vontade tem que transformar em
inimigos o maior número possível de semelhantes seus. Quem acha que não existe
na atualidade ninguém interessado em dividir a humanidade em frentes adversas e
inimigos ou é cego, ou é mal intencionado. Ou é otário ou é inocente útil, o
que vem a dar no mesmo.
“O que fizerdes ao menor
dos meus irmãos, a mim o tereis feito” (Mt 25,40).
Será que o impressionante número de crianças abortadas, mal alimentadas e
mal amadas está chegando até os ouvidos do Criador? E todos aqueles que
enxovalham a inocência de uma criança, por quanto tempo poderão continuar a
fazê-lo? E as multidões que são obrigadas a se contentar com as migalhas que caem
de mesas fartamente servidas?
Comparadas com as ameaças que representam os estoques
de armas químicas, biológicas e nucleares à espera da mãe de todas as guerras, existe
um estoque ainda mais assustador de armas psicológicas e morais.
Na mão de um Francisco de Assis um fuzil se torna
absolutamente inofensivo. A quantidade de armas e seu poder de destruição não
constitui um problema em si. São as pessoas que dispõem deste poder que o
transformam em problema. Para ser mais preciso: o problema são eles e não os “escudos defensivos” que
estão construindo.
Quem são estes homens
mais perigosos do que as armas de que podem dispor? Há uma palavra que os
abrange a todos: são os donos do poder
econômico! Pertencem a duas categorias sociais distintas:
- Os autocratas que depositam mais fé no exercício do poder
que nas virtudes do amor e da solidariedade fraterna.
- Os plutocratas que atribuem valor maior ao lucro do que ao
trabalho.
Tanto um como o outro
dos dois sistemas de relacionamento social rebaixa as pessoas envolvidas no
processo à condição de instrumento.
O poder e o dinheiro
acabam por escravizar tanto ao que não o possui como ao que o possui. Existe um
meio termo entre ter demais e ter de menos. Cristo o define com a palavra pobreza!
No mundo proposto por Jesus como ideal, pregado antes
dele por Buda e sonhado por Marx, não havia lugar nem para miseráveis nem para
ricaços bilionários. Na comunidade de fé proposta por Jesus também não há lugar
para monsenhores e prelados. Não fazem parte do Projeto Eclesial de Jesus as
diferenças hierárquicas que vigoram hoje em boa parte das Igrejas cristãs.
“Ninguém dentre vós se chame de senhor, de mestre ou de pai, porque vós sois
todos irmãos” (Mt 23,8).
Do ponto de vista religioso podemos classificar como perigosos
aqueles que submeteram a mensagem de Jesus a um tratamento ideológico, o que os
levou a re-interpretar as Palavras de Jesus à luz de conveniências
político-culturais. A palavra que Jesus dirigiu a Pedro era esta: “Conforta
teus irmãos”! Alguém dirá, a Igreja católica poderia ser diferente e até mesmo
radicalmente diferente sem trair a sua missão essencial. Mas, qual é esta
missão essencial?
Apascentar o Povo de Deus como um pastor apascenta
seu rebanho? Sentar-se numa cátedra e redigir catecismos e cartas encíclicas?
Não é o Anúncio da Boa Nova a sua missão essencial? “Pregai o Evangelho a toda
criatura” (Mc 16,15). Também os enviou a pregar o Reino de Deus” (Lc 9,2).
Quem quer ser sucessor
genuíno dos Apóstolos têm que endossar a identidade de um autêntico Apóstolo e
levar a sério as recomendações feitas por Jesus a seus Apóstolos.
Uma Igreja que se
adaptou tão bem ao “mundo dos negócios” que não consegue mais distinguir e
separar o essencial do regimental, certamente não está colocando os pés nas
pegadas de Cristo e de Paulo de Tarso. É possível que a Igreja católica se
tenha tornado prisioneira de negócios e de atividades que já não fazem mais
parte da sua Missão Essencial. “Ide e pregai...”, quantas vezes Jesus repetiu
esta frase!
“Ai de mim se não
pregar...” (I Cor 9,16).
Pregar, na época de
Cristo, era bem mais cansativo e perigoso do que hoje, já que se tornou
possível conversar com pessoas de todo o mundo sem sair de casa. Aí está a
Internet, o telefone, o celular, etc. Paulo, se fosse vivo, certamente se faria
ouvir via Internet.
Padre Marcos Bach
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