quinta-feira, 24 de julho de 2014

FAZER POLÍTICA NO SÉCULO XXI

Meio século atrás ainda existiam no Brasil as famigeradas Ligas Eleitorais Católicas. Hoje não existem mais porque o homem moderno não pede mais ao padre a bênção para sua candidatura quando resolve ser candidato.
           
Os tempos mudaram! Política é a arte de dirigir uma cidade (= polis), de fazer dela um lugar seguro, confortável, acolhedor e aberto a todos aqueles que sabem como conviver fraternalmente com seus vizinhos.

Cidade é, acima de tudo, um espaço cultural e social definido e sustentado por um conjunto de cidadãos dotados de um nível de consciência político-social e ético radicalmente mais elevado daquele que se exige de um homem do campo.
           
Encher uma igreja de beatos e carolas é fácil. Mesmo nas grandes metrópoles a parcela maior da população é composta de gente que veio do campo. Qual o morador de uma cidade convicto de que a cidade em que mora é a sua cidade?
           
Na Europa é fácil encontrar quem se orgulhe de sua cidade. Nossas cidades mais se parecem com “dormitórios” do que com outra coisa. A maioria dos nossos urbanistas se esquece de um detalhe significativo: uma cidade não pode ser vista e planejada como passageira, temporal e transitória.

Uma cidade que se preza insiste em desafiar o tempo, a lei da degradação. O orgulho de um homem digno deste nome é poder ser cada vez mais o que é! O mesmo vale para a cidade, obra máxima do gênio político humano.
           
Uma cidade é muito mais do que um conjunto de edifícios, casas e ruas. O centro de Atenas era a Agorá, a Praça, e, em Roma, era o Forum que desempenhava a mesma função. A Praça era lugar público para a qual convergiam todas as ruas da cidade. Lá se discutia de tudo, desde filosofia até religião.

O filósofo Aristóteles dava suas aulas caminhando com seus alunos pela Agorá. De peripatein (que significa caminhar em volta) vem a palavra peripatético, nome dado ao método pedagógico de Atistóteles.

A Praça e os edifícios que a rodeavam constituíam uma espécie de centro nevrálgico. Era o lugar em que a vida da cidade pulsava com mais intensidade. Era espaço nobre reservado a atividades igualmente nobres, das quais o comércio não fazia parte. Por trás do conceito de cidade = polis, urbs, Stadt esconde-se uma filosofia de vida. E um conceito peculiar de fazer política.
           
A cidade grega era o coração pulsante de toda uma região. Em comparação com ela nossas modernas megalópoles mais se parecem com gigantescos tumores cancerosos do que com cidades.
           
Cidades sempre as haverá. São os grandes monstros urbanísticos que estão com os dias contados. Todo tumor canceroso sempre acaba destruindo-se a si próprio. Todo processo de crescimento tem um limite além do qual o que era crescimento passa a ser hipertrofia.
           
Por que permitir que tanta gente se junte e se amontoe no mesmo lugar? Formigas fazem isso, mas por serem formigas sabem como organizar a vida em formigueiro. Ideólogos há que gostariam de imitar a sabedoria das formigas e aproveitá-la na hora de planejar o convívio social humano. Esqueceram-se estes senhores de que homens não são formigas.
           
Todo regime totalitário se baseia na crença de que o ideal político é transformar os centros sociais humanos em colmeias, formigueiros e os homens em rebanhos. Pensar é uma atividade perigosa. Permitir que todos possam pensar e expressar o seu pensamento seria o mesmo que revelar os segredos da energia atômica a quem estivesse interessado. O que os que temem a força e o poder do pensamento humano esquecem é o seguinte: cada ser humano possui um cérebro próprio e é dono dele!

Padre Marcos Bach 

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