FAZER POLÍTICA NO SÉCULO XXI
Meio século atrás ainda existiam no Brasil as
famigeradas Ligas Eleitorais Católicas. Hoje não existem mais porque o homem
moderno não pede mais ao padre a bênção para sua candidatura quando resolve ser
candidato.
Os tempos mudaram! Política é a arte de dirigir uma
cidade (= polis), de fazer dela um
lugar seguro, confortável, acolhedor e aberto a todos aqueles que sabem como
conviver fraternalmente com seus vizinhos.
Cidade é, acima de tudo, um espaço cultural e social
definido e sustentado por um conjunto de cidadãos dotados de um nível de
consciência político-social e ético radicalmente mais elevado daquele que se
exige de um homem do campo.
Encher uma igreja de beatos e carolas é fácil. Mesmo
nas grandes metrópoles a parcela maior da população é composta de gente que
veio do campo. Qual o morador de uma cidade convicto de que a cidade em que
mora é a sua cidade?
Na Europa é fácil encontrar quem se orgulhe de sua
cidade. Nossas cidades mais se parecem com “dormitórios” do que com outra
coisa. A maioria dos nossos urbanistas se esquece de um detalhe significativo:
uma cidade não pode ser vista e planejada como passageira, temporal e
transitória.
Uma cidade que se preza insiste em desafiar o tempo,
a lei da degradação. O orgulho de um homem digno deste nome é poder ser cada
vez mais o que é! O mesmo vale para a cidade, obra máxima do gênio político
humano.
Uma cidade é muito mais
do que um conjunto de edifícios, casas e ruas. O centro de Atenas era a Agorá, a Praça, e, em Roma, era o Forum
que desempenhava a mesma função. A Praça era lugar público para a qual
convergiam todas as ruas da cidade. Lá se discutia de tudo, desde filosofia até
religião.
O filósofo Aristóteles
dava suas aulas caminhando com seus alunos pela Agorá. De peripatein (que
significa caminhar em volta) vem a palavra peripatético, nome dado ao método
pedagógico de Atistóteles.
A Praça e os edifícios que a rodeavam constituíam uma
espécie de centro nevrálgico. Era o lugar em que a vida da cidade pulsava com
mais intensidade. Era espaço nobre reservado a atividades igualmente nobres,
das quais o comércio não fazia parte. Por trás do conceito de cidade = polis, urbs, Stadt esconde-se uma
filosofia de vida. E um conceito peculiar de fazer política.
A cidade grega era o coração pulsante de toda uma
região. Em comparação com ela nossas modernas megalópoles mais se parecem com
gigantescos tumores cancerosos do que com cidades.
Cidades sempre as haverá. São os grandes monstros
urbanísticos que estão com os dias contados. Todo tumor canceroso sempre acaba
destruindo-se a si próprio. Todo processo de crescimento tem um limite além do
qual o que era crescimento passa a ser hipertrofia.
Por que permitir que tanta gente se junte e se
amontoe no mesmo lugar? Formigas fazem isso, mas por serem formigas sabem como
organizar a vida em formigueiro. Ideólogos há que gostariam de imitar a
sabedoria das formigas e aproveitá-la na hora de planejar o convívio social
humano. Esqueceram-se estes senhores de que homens não são formigas.
Todo regime totalitário se baseia na crença de que o
ideal político é transformar os centros sociais humanos em colmeias,
formigueiros e os homens em rebanhos. Pensar é uma atividade perigosa. Permitir
que todos possam pensar e expressar o seu pensamento seria o mesmo que revelar
os segredos da energia atômica a quem estivesse interessado. O que os que temem
a força e o poder do pensamento humano esquecem é o seguinte: cada ser humano
possui um cérebro próprio e é dono dele!
Padre Marcos Bach
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