quinta-feira, 17 de julho de 2014

PRESENÇA DO AMOR

O cristianismo comercializou a prática do amor! “Ama o teu próximo, a tua esposa e teus filhos porque, se assim o fizeres, terás como recompensa o fabuloso lucro de cem por um”!
           
Camus tem razão. E eu acrescentaria a suas críticas esta outra: “O cristianismo oficial rebaixou a sublimidade do amor ao transformá-lo em obrigação moral”.
           
O que você responderia a alguém que lhe dissesse: “Eu amo a quem quero, porque quero e como quero! Não admito que alguém venha a intrometer-se neste assunto com a intenção de me fazer prescrições”! O que Camus quer afirmar é que nós, cristãos, por culpa de marqueteiros religiosos, perdemos de vista a mais característica de suas riquezas que é a gratuidade.
           
Quem ama não ganha nada, mas perde tudo o que não é essencial! O amor enriquece a quem ama e ao que é amado! O amor dispensa acréscimos e compensações. Assim como o valor intrínseco do ouro nada tem a ver com a cotação que possui no mercado, do mesmo modo o amor independe da cotação moral ou religiosa.
           
O discurso oficial das Igrejas todas é basicamente o mesmo de dois séculos atrás! Desde então aconteceram revoluções que abalaram praticamente os fundamentos todos da assim chamada ordem estabelecida. Fracassaram todas as tentativas de restaurar a hegemonia do tempo passado sobre o tempo futuro. Os únicos campos em que ainda há espaço para concepções fundamentalistas são o político e o religioso. No terreno econômico não há mais lugar para fundamentalistas e ideólogos. O mesmo se pode afirmar a respeito do campo das atividades científicas.
           
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é, antes de mais nada, uma complexa e poderosa manifestação de amor!
           
O que é o amor na visão de um cientista como Bohm senão a alma e a energia constitutiva de um cosmo em contínua transformação? Refletindo como fizeram Einstein, Heisenberg, Bohm e outros muitos mais, chega-se a ter uma ideia da distância que separa o pensamento mecanicista de um Newton da concepção holística de um físico moderno.
           
O que a muitos se parece com distância, a outros se apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do presente com o passado!
           
O que é mais importante: saber como nossos antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
           
O passado é pobre em lições verdadeiramente significativas!         É o futuro que devemos interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade e das intenções de Deus!
           
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado, presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
           
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos. Não é correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo com o que acontece no interior de uma semente em trabalhos de parto!

Padre Marcos Bach

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