PRESENÇA DO AMOR
O cristianismo comercializou a prática do amor! “Ama
o teu próximo, a tua esposa e teus filhos porque, se assim o fizeres, terás
como recompensa o fabuloso lucro de cem por um”!
Camus tem razão. E eu
acrescentaria a suas críticas esta outra: “O cristianismo oficial rebaixou a
sublimidade do amor ao transformá-lo em obrigação moral”.
O que você responderia a alguém que lhe dissesse: “Eu
amo a quem quero, porque quero e como quero! Não admito que alguém venha a
intrometer-se neste assunto com a intenção de me fazer prescrições”! O que
Camus quer afirmar é que nós, cristãos, por culpa de marqueteiros religiosos,
perdemos de vista a mais característica de suas riquezas que é a gratuidade.
Quem ama não ganha nada, mas perde tudo o que não é
essencial! O amor enriquece a quem ama e ao que é amado! O amor dispensa
acréscimos e compensações. Assim como o valor intrínseco do ouro nada tem a ver
com a cotação que possui no mercado, do mesmo modo o amor independe da cotação
moral ou religiosa.
O discurso oficial das Igrejas todas é basicamente o
mesmo de dois séculos atrás! Desde então aconteceram revoluções que abalaram
praticamente os fundamentos todos da assim chamada ordem estabelecida.
Fracassaram todas as tentativas de restaurar a hegemonia do tempo passado sobre
o tempo futuro. Os únicos campos em que ainda há espaço para concepções
fundamentalistas são o político e o religioso. No terreno econômico não há mais
lugar para fundamentalistas e ideólogos. O mesmo se pode afirmar a respeito do
campo das atividades científicas.
Tem toda a razão o físico David Bohm quando constata
que tanto a evolução da vida como a revolução dos corpos celestes é, antes de
mais nada, uma complexa e poderosa manifestação de amor!
O que é o amor na visão de um cientista como Bohm
senão a alma e a energia constitutiva de um cosmo
em contínua transformação? Refletindo como fizeram Einstein, Heisenberg, Bohm e
outros muitos mais, chega-se a ter uma ideia da distância que separa o
pensamento mecanicista de um Newton da concepção holística de um físico
moderno.
O que a muitos se parece com distância, a outros se
apresenta como fosso intransponível. Um deles era o filósofo francês Charles
Peguy. O mundo mudou tanto que é simplesmente impossível reatar a ligação do presente
com o passado!
O que é mais importante: saber como nossos
antepassados enfrentavam os desafios da sua curta existência ou procurar obter
alguma resposta aproveitável às interrogações, promessas e esperanças ocultas
no bojo de um futuro aparentemente imprevisível.
O passado é pobre em lições verdadeiramente
significativas! É o futuro que
devemos interrogar e perscrutar se queremos ter uma ideia mais exata da vontade
e das intenções de Deus!
Como pode a verdade ocultar-se em algo que ainda não
aconteceu? Engana-se quem pensa que o futuro consta apenas de eventos que ainda
estão por acontecer. Não podemos dividir nosso tempo de vida em passado,
presente e futuro sem complicar desnecessariamente a ação de Deus. No
Pensamento de Deus não existe nem passado, nem futuro! Tudo é apenas presente!
O mesmo se pode dizer em relação ao tempo psicológico
humano. Nos planos mais sutis do inconsciente humano só o momento presente é real. O tempo psicológico do homem não é feito
de momentos que se sucedem, mas é um instante que jamais sofre solução de
continuidade, nem de noite quando dormimos, nem de dia quando desmaiamos. Não é
correto comparar o fluxo do tempo com as águas de um rio. Melhor é compará-lo
com o que acontece no interior de uma semente
em trabalhos de parto!
Padre Marcos Bach
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