A BELEZA DA INTROSPECÇÃO
A palavra meditação é empregada para descrever um
exercício de introspecção cujo objetivo último é colocar o consciente em
contato com o inconsciente.
O yoga, tal como é praticado no hinduísmo, tem por
objetivo penetrar no inconsciente de maneira tão completa que do mundo exterior
e dos conteúdos do consciente nada mais reste.
A meditação, tal como é praticada nas Escolas do
Zen-Budismo não visa a eliminação do consciente. Pelo contrário, pois visa
colocar as atividades do mundo exterior e os conteúdos da consciência
consciente em harmonia com o inconsciente.
Faz parte da sabedoria oriental a crença de que o
espírito do homem é governado e dirigido por forças sediadas em seu próprio
interior. E que é a partir daí que a humanidade irá definir e decidir o seu
destino. As civilizações vêm e passam. Se a herança que transmitem à
posteridade não for um tipo humano mais evoluído, então sua passagem pela história
nada mais foi do que uma lamentável perda de tempo.
Muito antes de Kant os sábios do Oriente antigo já
sabiam que o produto mais nobre da mente humana não é o pensamento, mas a
inspiração. Ou por outra: o conhecimento intuitivo é superior ao conhecimento
racional e muito menos sujeito a distorções e interpretações equivocadas do que
este último.
A meditação não se faz substituindo ideias menos
corretas por outras mais confiáveis. Não consiste em substituir um raciocínio
por outro mais apurado. O primeiro passo a ser dado por quem quer aprender a
arte de meditar é deixar de pensar. Quem só usa a sua mente para produzir
pensamentos acabará tendo o mesmo destino que o burro da fábula, que morreu
pensando.
Tudo o que conseguimos pensar a respeito de nós é
lixo na medida em que nos contentamos com o que a nossa mente racional nos
ensina. Deixando de lado tudo o que a mente racional nos diz, o que resta em
nosso interior é um grande vazio. Deixando de lado as palavras, o que sobra é
silêncio.
Mas este vazio é na realidade um plenum, repleto como está de mensagens secretas. E o silencio é só
aparente, pois também ele se encontra repleto de melodias misteriosas.
Vazio e silêncio são espaços de que a inspiração
necessita para se manifestar. A palavra meditação é usada para significar um
exercício de introspecção destinado à eliminação do pensamento racional e sua
substituição por uma forma superior de conhecimento que é a inspiração.
É um fato, para o qual não existe explicação, que são
de má qualidade as ideias que herdamos de nossos ancestrais e as que fazem
parte do processo educacional a que submetemos a juventude.
O pensamento é um instrumento precioso, desde que
usado com moderação. A Verdade não tem limites e se estende além, muito além do
alcance da mente racional do homem. Palavras como Razão Superior,
Supraconsciente e Planos Transpessoais da Consciência começam a aparecer com
frequência cada vez maior nos estudos de psicologia.
A verdadeira estatura do homem é muito maior do que
supunham tanto o ateu Freud quanto os autores de nossos catecismos e compêndios
de moral.
“Cogito, ergo
sum”, “penso, logo existo”. Foi assim que o filósofo francês René Descartes
proclamou o início da Era Moderna. O homem moderno se orgulha da boa qualidade
dos seus pensamentos. Mas o físico americano David Bohm os considera como
poluídos e como parte de uma monumental “fraude”. O mundo verdadeiramente real
não é o que os cientistas definem como sendo real. O mundo real dos cientistas
está para a Realidade Total como a miragem está para a realidade da paisagem em
que se manifesta.
Um cientista, imbuído de Fé em Cristo, diria que o
futuro da humanidade está para o seu presente como o não-manifesto está para o
manifesto. É injusto julgar a humanidade partindo do que seus representantes
mais conspícuos realizaram até hoje. A atmosfera de mistério que envolve o
futuro da humanidade sempre encantou o espírito da pequena minoria de
contemplativos místicos da humanidade. Se quiseres ter uma ideia exata do que o
homem é capaz de ser, olha para o que ele ainda não é, mas é capaz de vir a ser.
Ninguém apostou mais no futuro da humanidade do que
Jesus. Quem insistisse em julgar a obra de Cristo tomando como base e como
critério a atuação do cristianismo atual, mais honesto seria afirmar que o
essencial de tudo o que Jesus tinha em mente ainda está por acontecer. Reduzir
o depósito da fé a um conjunto de doutrinas fazendo caso omisso dos frutos que
esta fé já produziu ao longo do tempo na vida de milhões de pessoas, é
desconhecer a sua essência.
Um cientista, como Einstein, não diria: “Penso, logo
existo”. Diria talvez: "Sei que sei cada vez menos, logo existo”. O
místico diria: “Admiro este admirável universo, tão belo, que tenho vergonha de
tocá-lo”. Nenhum deles usaria a palavra ter, possuir, para definir a sua
relação com a Verdade.
Livrar-se da prisão do pensamento puramente racional
representa tão somente um passo, o primeiro entre muitos outros. Entre os quais
está a contemplação. A palavra vem do latim contemplare
e possui a mesma raiz semântica que a palavra templo. A sensação de quem contempla
é a de quem entra num santuário ou num templo.
Padre Marcos Bach
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