COMO DESCOBRIR QUE DEUS É AMOR
Do Pai divino do qual Jesus fala com tanto carinho, Ele
mesmo diz: “O Pai vos ama” (Jo 16,27).
Não é no terreno do
saber e do poder que devemos procurar a novidade contida na mensagem de Jesus,
mas no terreno do amor! Até o dia em que Jesus veio para nos falar de Deus não
havia religião que não apresentasse Deus como Senhor exigente e distante! São
de Jesus estas palavras: “Se alguém me ama, Eu e o Pai viremos a ele e nele
faremos morada” (Jo 14,23).
“O Criador do universo veio morar entre nós”! Não só
no meio de nós como transeunte em nossos caminhos, mas como inquilino de nossas
almas!
O que Jesus nos veio revelar é tão incrivelmente
absurdo que ainda hoje, passados dois mil anos, são muito poucos os que “têm
ouvidos para ouvir” (Mt 11,15). Absurda é a vida dos que passam por ela sem ver
nem ouvir o essencial. São surdos e cegos por culpa própria.
Para descobrir que Deus é Amor não é preciso abrir a
Bíblia. Esta é uma verdade inscrita em tudo o que nos cerca! O Amor do Pai
Celeste é tão simples e cristalino quanto o riso de uma criança! Para
descobri-lo é indispensável voltar a ser criança. “Se não vos tornardes como as
crianças de modo algum entrareis no Reino de Deus” (Mt 18,3).
O que o amor de amizade tem em comum com o Amor de
Deus e o amor de uma criança é que não é necessário merecê-lo. Ele surge quando
menos se espera. É discreto, pois não é dado a efusões românticas, nem é do seu
feitio fazer discursos. O Amor de Deus é tão simples e humilde, tão desataviado
e sem floreios porque é extremamente parecido com o de uma criança.
São as crianças que mais perto se encontram da fonte
originária de todo o amor humano que é o Amor do Pai Celeste. Seu amor não é
regulado por leis, nem impõe limites. É amor puro porque é totalmente gratuito!
Não necessita do prazer como condimento, nem da felicidade como
recompensa! Tanto na vida de uma criança
como na de Deus, amor e felicidade são inseparáveis. Em ambos os casos o Amor
traz em si a sua razão de ser.
É no amor de amizade que estas prerrogativas do amor
se manifestam num grau de pureza que as demais formas de amor não possuem!
Será que não é o amor materno o que mais se parece
com o Amor de Deus? Não são as mães as
que melhor encarnam o amor em toda a sua pureza? Se amigo é aquele que não
hesita em dar a sua vida em benefício da do amigo, por que não atribuímos ao
amor materno as virtudes que acabei de conferir ao amor infantil? Não é o amor
da mãe por seus filhos muito mais generoso e adulto que o de uma criança?
Não vale no terreno do amor o princípio da
generosidade segundo o qual “ama mais aquele que dá mais”. Neste terreno a
medida é a confiança e não a generosidade.
A criança confia cegamente na sinceridade dos adultos
porque ela mesma é totalmente sincera. Por isso seu amor é total. Total e
radical! Quando ama empenha neste seu gesto a totalidade da sua capacidade de
amar! Seu amor é sempre grande a seus olhos, enquanto o amor das pessoas
grandes não costuma ter em suas vidas a importância que uma criança costuma
atribuir a suas pequenas conquistas amorosas!
Quando o papa Pio XI canonizou a Teresinha de Lisieux
não faltou quem exclamasse: “mas o que ela fez para merecer a honra dos
altares”?
O papa João Paulo II completou o “escândalo” quando
proclamou Teresinha de Lisieux, uma freirinha que nunca pusera pé numa
Universidade, Doutora da Igreja.
No Reino de Deus a lei é esta: “Quem quer ser o maior
faça-se o menor de todos” (Lc 22,26). São as crianças que carregam em seus
ombros o futuro do Reino de Deus. Logo são elas as responsáveis pelo futuro da
Igreja de Cristo!
Ser criança no sentido
que Jesus atribui à metáfora, significa não trair a sua origem divina,
esquecendo a sua filiação divina! Verdadeiramente adulto é o filho grande que
ainda aceita o convite de sentar-se no colo do pai! Já se viu: um marmanjão
sentado no colo do Pai? “Se não vos tornardes como as crianças, de modo nenhum
entrareis no Reino de Deus” (Mt 18,3).
Padre Marcos Bach
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