CADA UM DE NÓS
REPRESENTA A HUMANIDADE TODA
A norma é um instrumento
destinado a influenciar a História da espécie humana no sentido do cada vez
mais humano. O que está em jogo não é apenas a humanização de indivíduos, em particular. São as
estruturas sociais que necessitam de humanização tão bem quanto as pessoas.
Mais do que isto: é o Universo todo que está à espera de ser tocado pela mão e
pela inteligência do homem.
No contexto desta
aventura de ordem espiritual e de proporções cósmicas, o indivíduo só se torna
sujeito da história na medida em que for representante lídimo da espécie
humana.
Cada pessoa humana é
representante de uma “espécie em expansão”. A extinção atinge todos os
indivíduos e com eles a espécie toda em que a sobrevivência deixa de ter
qualquer sentido evolutivo. Em palavras mais simples: desaparecem as espécies
biológicas que nada mais são do que fósseis vivos. Trata-se de uma questão de
consciência. De consciência histórica, para ser mais exato.
Sempre que uma espécie
se isola, perdendo deste modo o contato com o Todo Maior do qual é parte,
começa a contagem regressiva em direção à extinção e ao desaparecimento. A
natureza parece interessar-se mais pelo Todo do que pelas partes. Sacrifica, se
for do seu interesse, espécies inteiras. Uma por hora, dizem as estatísticas.
Vistas as coisas sob
este prisma, cada um de nós representa a humanidade toda. A maneira como cada
qual vive a sua vida dirá se somos membros de uma espécie em extinção ou não. A
nossa primeira e maior responsabilidade histórica é para com a espécie a que
pertencemos e da qual somos representantes.
Há ente nós os que
pertencem à mesma espécie de Homo Sapiens
que descobriu o fogo. Outros, mais evoluídos, fazem parte da espécie que
descobriu a pólvora. Depois deles veio a geração dos que tinham descoberto a
máquina a vapor. De lá para cá a humanidade evoluiu partindo da eletricidade
para a energia atômica, do telégrafo até a Internet.
Usando a sua razão e o potencial criativo da sua inteligência, o Homo Sapiens Sapiens construiu por cima
do mundo natural outro mundo, de natureza cultural. Entronizou a razão no
comando da História. Subordinou as forças da natureza ao império da razão
humana. E da vontade política do homem.
O homem deixará de ser daqui
para frente o que o ambiente em que vive lhe permite ser. D’ora em diante é
ele, o Homo Sapiens Sapiens, que fica
com a responsabilidade de moldar a face do planeta em que vive.
Poucos pensadores se
deram conta de que o cristianismo representa, acima de tudo, um voto de
confiança de Deus no homem. A Fé em Deus, no Deus-Pai de Cristo é, antes de
mais nada, um voto de confiança no Homem.
Este Homem depositário
da nossa Fé Incondicional não é o proverbial “representante de Deus na terra”.
O futuro da humanidade não depende de homens “cercados de privilégios e donos
de poder”. A espécie não fala. Quem fala em seu nome são indivíduos. Mas quais
são os indivíduos que podem falar em nome da espécie humana toda?
Houve tempo em que os
sábios e os poderosos, e só eles, tinham esta autorização. Estamos todos
cansados de ver o estado lastimável a que reduziram a face deste nosso planeta.
Não é de mais saber e de mais poder que vamos precisar daqui para frente.
Já ficou claro aos que
têm tempo para pensar no assunto que só uma guinada radical no rumo da nossa
cultura nos pode salvar. Esta guinada implica a necessidade de esquecer e
desaprender quase tudo o que nos foi (e continua sendo) ensinado na Escola e na
Igreja. Envolve a necessidade de aposentar valores consagrados. E tudo isso tem
que ser feito em ritmo acelerado. Já perdemos tempo demais confiando em
mecanismos de segurança tidos como a última palavra em matéria de organização
racional.
Os que depositaram seu
desejo de salvação em sistemas religiosos esbarram por toda a parte nas
muralhas pretensamente inexpugnáveis de uma Fé de porte fundamentalista. Não
conheço religião em que a preocupação pelo futuro da humanidade toda tenha
conseguido prevalecer sobre o temor tipicamente paranoico de aventurar-se em
“mares nunca d’antes navegados”.
O papa atual está
empenhado em fazer da Igreja católica plataforma de lançamento de uma nova
época da História humana.
É um novo modelo de
ordem social que se está tornando cada vez mais necessário. Onde uns poucos
comandam e aos demais só resta obedecer, encontramo-nos frente a frente com a
maior tranqueira do progresso social. Infelizmente não há religião em que não
seja este o princípio inspirador do que depois se define como “ordem inspirada
por Deus”.
A juventude atual
representa o típico candidato a Homo
Sapiens Sapiens Sapiens. Não aceita instituições sociais em cujo seio não
lhe é permitido desdobrar suas potencialidades pessoais. Não aceita uma
sociedade que não permite aos indivíduos serem mais evoluídos do que a maioria
dos membros ou do que a elite dominante.
Ser mais evoluído
significa duas coisas: ser cada vez menos dependente de líderes e de chefes; e
de ser sempre mais capaz de responder por si mesmo.
Padre Marcos Bach
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