A CONSCIÊNCIA ORIENTA O CAMINHO DA VIDA
Orientar no caminho da vida: é
outra função de consciência. Para poder desempenhar esta tarefa ela deve ser
faculdade orientada para o rumo do bem absoluto, o bem para além do qual não há
mais outro bem. Só assim pode-se concebê-la e defini-la como órgão de
orientação.
É por intermédio dela que o homem toma conhecimento
do sentido profundo e supremo da história, assim como da evolução, em geral.
Pode-se dizer, por isso, que a estrutura da consciência é essencialmente
religiosa, já que ela aponta para Deus com a indefectibilidade com que a agulha
de uma bússola aponta para o pólo magnético da terra.
Não há como escapar à atração (graça) de Deus quando
se é fiel à consciência. Um Deus que não está em sintonia com a consciência do
homem não é Deus, é apenas a imagem e a sombra de um “deus” que não existe. Não
é a razão que determina para o homem o que é real e o que é fantasia e ilusão,
mas a fé. E a fé é sempre um ato e um compromisso da consciência.
Se a realidade fosse apenas aquilo que o homem pode
compreender e explicar, analisar e reduzir a categorias lógicas ou a equações
matemáticas bastava a razão, e a consciência seria um luxo desnecessário.
O objeto do “conhecimento” específico da consciência
é o incompreensível, o injustificável, o inexplicável, o inefável, o
imprevisível e o incalculável. Ou por outra, o mistério.
Quando digo que o papel da consciência é orientar,
penso em tudo, menos nas boias que balizam a entrada de um porto, o canal de um
rio.
Penso em algo que só pode deixar alarmado o pequeno
administrador de consciência. Felizmente a vocação humana (a fortiori a vocação
cristã) do homem abrange horizontes infinitamente mais amplos.
O julgamento da consciência é objetivo. Parte do fato,
de suas consequências e de sua motivação real. A consciência julga com
serenidade e amor, com clareza e objetividade total. Teríamos na consciência a
mais poderosa, precisa e fiel “bússola moral”, se ela não se encontrasse impregnada
e infestada de elementos estruturais repressivos e antievolutivos.
Teoricamente é fácil e até cômodo distinguir o trigo
do joio. Mas na prática só podemos contar com uma consciência contaminada pelo
medo, pela obsessão, pela covardia, e por mil e um “complexos” do mesmo nível.
Por isso é que é preciso incluir a libertação da consciência entre as
prioridades da Teologia da Libertação, a única teologia digna de ser levada a
sério.
Nada mais questionador, agressivo e violento do que
uma consciência sadia, vigorosa, adulta e livre. Basta a pessoa histórica de
Cristo para confirmar esta afirmação. À honestidade corajosa do profeta e do
mártir a humanidade deve infinitamente mais do que à mais bem organizada das
instituições. Um homem escrupulosamente e radicalmente fiel à sua consciência é
o único representante da espécie humana, digno de ser levado a sério. Isto é,
digno de ser condenado a morrer numa cruz. Ou no fundo de um cárcere. Ou numa
sala de torturas.
Um cristão “pasqualino” e “domingueiro” que não se
sente ridículo perante a sua própria consciência, é porque não tem consciência,
não por não ser cristão, mas por ser “pouco cristão”.
Ficou muito fácil ser cristão. Mais fácil do que ser
profeta e mártir. Mais fácil até do que ser homem. Certamente mais fácil do que
ser líder sindical ou jornalista.
Padre Marcos Bach