A CONSCIÊNCIA COMO ESTÍMULO
Uma formulação sintética das funções e papéis
específicos da consciência poderia ser a seguinte: cabe-lhe a tarefa de
estimular, orientar, criticar e integrar.
Analisemos o poder do estímulo.
Não há quem não conheça a força e o poder do
estímulo. Sem ele e a resposta que provoca, não haveria no mundo mais que
inércia.
Na biosfera é o estímulo que determina a resposta. No
plano moral humano esta lei não vigora com a mesma precisão férrea. Estímulo e
resposta não se equilibram. E a equação nunca é matematicamente perfeita. Daí
se pode concluir que a ética não é uma espécie de “matemática do bem”.
O comportamento do homem oferece uma “margem de
indefinição” e um “coeficiente de improvisação, que a física atômica registra,
com surpresa crescente, na esfera do universo subatômico.
A causalidade e a coerência matemática são
insuficientes para explicitar a estrutura global do universo, onde o acaso
determina os movimentos cósmicos com o mesmo direito que atribuímos à
necessidade. Faz bem aquele que hoje insiste em distinguir a lei física (da
conservação) da lei moral (do crescimento).
O estímulo moral da consciência não é de natureza
causal eficiente, mas finalístico. A resposta moral dada à interpelação da
consciência não está contida numa espécie de causa preexistente. O ato moral
não é produto da consciência ou da vontade, mas é uma criação dela. São as
opções morais que alimentam e desenvolvem a consciência, e, em certo sentido, a
criam e amplificam a sua ressonância social. Não são as estruturas sociais que
modificam e ampliam o horizonte da consciência, mas é o modo como a pessoa faz
uso dela.
O pensamento marxista trata, em geral, o fator
estímulo com a mesma displicência metafísica com que o faz a moral tradicional.
Esta última se ocupa muito pouco com a “moralidade” do espírito moral. Aceita
como válidas motivações inspiradas no medo (do castigo) e no interesse
(prêmio), esquecendo-se de que este tipo de motivação pertence a níveis
subumanos de consciência.
Estímulo é aqui, neste contexto, mais do que a espora
que risca o flanco do cavalo. Estímulo é sempre um bem, um valor, que interpela
a consciência, mobilizando a sua criatividade. É um valor denso de promessas e
carregado de esperança. É, portanto, impregnado de energia, de poder de
aliciamento e sedução. Onde falta esta carga energética o motivo perde o seu
sentido moral e passa a não ser mais que uma simples norma, uma boia que limita
o canal de navegação. É muito, e, no entanto, é pouco, quando se tem em vista a
amplitude de empreitada que é a existência de um ser dotado de consciência,
como é o homem.
Padre Marcos Bach
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