A
CONSCIÊNCIA PROPÕE
A consciência moral não cria
a obrigação em sentido jurídico, já que ela não impõe, mas propõe, antes de
mais nada. Ela liga a intenção à ação não por meio da obrigação e do sentido do
dever, mas por intermédio do prazer. Tudo o que ela dita e propõe à decisão da
vontade vem associado ao prazer. Um prazer específico, distinto do prazer
físico, e muito próximo do prazer extático. O ato de consciência é, acima de
tudo, um ato de contemplação, cujo reflexo no campo noológico é a empatia e a
compreensão. Por isso é indicado aproximar a atividade da consciência do ato
eminentemente religioso de contemplação.
É através da experiência de
prazer que a consciência traduz a intenção em decisão e esta em ação moral.
Obrigação e dever são
categorias jurídicas e servem mais para distorcer a realidade moral do que para
torná-la compreensível.
O mundo das realidades morais
apresenta em relação às categorias religiosas uma analogia intrínseca, ao passo
que sua semelhança com o mundo jurídico não é mais que extrínseca. Querer
explicar o fenômeno moral a partir de conceitos jurídicos, como leis e normas,
é torná-lo completamente incompreensível.
Deve ser explicado a partir
da religião, isto é, da relação que coloca frente a frente o Homem e Deus.
O cristianismo só conseguiu
enveredar pelos descaminhos do legalismo à custa do que há mais original e
sagrado na mensagem evangélica. Ainda hoje existe o clérigo que ante um
problema abra, antes de mais nada, o Codex
Juris Canonici. Não encontrando lá a resposta, abre um Compêndio de
Teologia Moral. Só depois lhe ocorre a ideia (e lhe vem a coragem) de abrir a
Bíblia.
Um
grupo de 53 ganhadores do prêmio Nobel recomenda como meio de sair da tirania
jurídica a “desobediência civil” a todas as leis, com exceção das que protegem
os direitos humanos básicos.
Se
manifesto menciona a certa altura a iminência de uma catástrofe para a qual
contribuem tanto a prepotência dos poderosos, a ganância dos insaciáveis,
quanto a omissão e a docilidade submissa e passiva dos oprimidos, é preciso
acentuar duas coisas extremamente importantes:
Primeiro,
a consciência moral dirige o foco de suas críticas antes para as omissões, as
oportunidades perdidas e as possibilidades traídas, e só secundariamente para a
ação como tal. Pois o papel da consciência moral a leva a se anteceder à ação e
a se antecipar à decisão.
Segundo,
em época de transição cultural (como a nossa) os piores pecados são pecados de
omissão.
Tendo
em vista estes dois aspectos é difícil alimentar qualquer espécie de otimismo
em relação ao futuro imediato das Igrejas cristãs. Sua omissão no campo
ético-político-social é pouco menos que total.
Substituir
o exame de consciência por tiradas ufanistas só acaba agravando o descompasso
entre as Igrejas e a realidade histórica com que se defronta.
Padre
Marcos Bach