FUNÇÃO INTEGRADORA
DA CONSCIÊNCIA
A função integradora da consciência é de natureza
psicossocial. A consciência une em um todo orgânico a imensa variedade de
manifestações da psique humana. Ela tem o poder de criar no interior da pessoa
a unidade intencional da qual nasce a unidade da ação coerente, assim como a
coesão interna da comunidade. É por este caminho que se dá a passagem do
indivíduo para o social.
Integrar é mais que
somar e ajustar. À palavra integração corresponde uma tarefa bem mais complexa
do que produzir simples estados de equilíbrio e ajuste. A eliminação de
possíveis atritos e conflitos no terreno psicossocial não é suficiente para que
possa haver chance de desenvolvimento e progresso. É preciso encontrar um modo
de harmonizar entre si pulsões contraditórias e antagônicas, sem comprometer a
sua vitalidade “selvagem” e impetuosa. Como canalizar a energia das pulsões
“inferiores” para tarefas e funções de ordem “superior”, esta é a questão. E é
este o desafio a que a consciência, e só ela, tem condições de dar uma resposta
plenamente satisfatória.
Como sintetizar a
multiplicidade de funções sociais numa síntese mais perfeita sem comprometer a
liberdade individual em aspectos essenciais?
Como transformar em
unanimidade mil pequenas vontades dispersas?
Como unir numa síntese
harmoniosa a gama multiforme de pequenos interesses conflitantes?
É tarefa das
consciências descobrir o modo de consegui-lo. Não podemos entupir simplesmente
a fonte do mal, sem destruir e secar ao mesmo tempo a fonte donde emana o bem.
Cercear a liberdade de um cidadão, com o fim de evitar o abuso, é o mesmo que
restringir o seu uso. É como cortar a laranjeira, porque, ao lado de inúmeros
frutos saborosos, produz também uma quantidade de laranjas azedas.
A possibilidade do abuso
existe sempre onde há liberdade. Só não ocorre onde a liberdade deixou de
existir. Não há “ordem” mais perfeita do que a de um “cemitério”.
No plano subjetivo a
integração é talvez ainda mais difícil e trabalhosa do que no campo social. Pôr
ordem na própria casa é, no entanto, condição preliminar, “sine qua non”, para a construção do edifício social.
Padre Marcos Bach
Nenhum comentário:
Postar um comentário