A ATIVIDADE CRIADORA
Aristóteles lhe dá um nome que os latinos definiram como Opus. Quando a Bíblia descreve o cosmos
como Obra do Criador, está se referindo a um tipo de atividade que não nasce de
uma necessidade. Referindo-se a Deus, Jesus afirma que o Pai Celestial continua
trabalhando. O texto latino emprega a palavra operari para expressar o que Jesus quis significar e expressar.
Operário não é qualquer
trabalhador. Operário sensu stricto é
apenas aquele que não trabalha nem por necessidade, nem por obrigação. É alguém
que não precisa trabalhar para ganhar a vida. Isto não quer dizer que não possa
tirar do seu trabalho o necessário para sustentar-se. Johan Sebastian Bach
sustentou sua família como organista, compositor e dirigente de coral,
atividade que exigiam criatividade e iniciativa pessoal.
Ser operário significa ser
construtor. Operários no mais lídimo sentido do termo eram os que construíram
as catedrais da Idade Média, os construtores de pirâmides e dos aquedutos
romanos. Não merece o título de operário o semianalfabeto que só sabe cumprir
ordens. Não há robô que possa substituí-lo.
Operário não é nem empregado,
nem funcionário. Sendo por definição um construtor, um obreiro, participa
ativamente da construção e do desenvolvimento da empresa em que trabalha.
Do ponto de vista
“operacional” pouco importa se esta empresa é estatal ou não. Se ela dá muito
ou pouco lucro, é irrelevante. Resultados contábeis pouco importam. Do ponto de
vista mencionado é essencial o estado de espírito e o nível de conscientização
das pessoas que respondem pela saúde total da empresa. Esta depende do grau de
participação de cada membro da “família empresarial”.
Assim como a saúde de uma
pessoa não depende primariamente do seu médico, do mesmo modo a saúde de uma
empresa não depende apenas da habilidade de seus diretores.
A diferença que distingue o
operário de um trabalhador, funcionário ou empregado, está em que a empresa
permanece saudável porque é criativa e porque valoriza a criatividade mais do
que a disciplina.
Para que uma empresa possa
definir-se como família e esteja em condições de competir criativamente com as
demais ela precisa, acima de tudo, preocupar-se com o elemento humano, com o
estado de consciência dos que a carregam em seus ombros.
Dirigentes mal pagos emigram
do terceiro para o primeiro mundo. Trabalhadores mal pagos e sem perspectivas
de dias melhores acabam por se transformar em grevistas profissionais.
A indústria que quer
sobreviver ao impacto provocado pelo advento da Era Cibernética (e da
Informática) não pode admitir a esmo qualquer candidato a um emprego.
Instalar indústrias com o
fito de criar empregos é ideia insensata sob todos os aspectos. O problema não
é o desemprego. Cabides de emprego os temos em demasia. A desgraça do
Estado socialista é ter-se transformado num monumental “cabide de empregos”.
Numa sociedade socializada
todo o mundo é funcionário do governo. Lá ninguém é cidadão. Com exceção dos
dirigentes supremos, todos são funcionários, cuja obrigação única consiste em
manter a “máquina” burocratizada ao extremo em funcionamento.
Existe incompatibilidade e
antagonismo profundo entre a mentalidade de um funcionário e a de um operário.
O operário ama o que faz. Um
funcionário é bom se corresponde em tudo ao que dele se exige. O operário está
interessado no progresso de sua empresa. O funcionário prefere a empresa que
lhe garante estabilidade no emprego.
O futuro de qualquer empresa
depende da sua capacidade de gerar operários em lugar de contentar-se com criar
empregos.
Estamos analisando o mundo do
trabalho e da produção econômica. Se neste campo tão restrito a figura do
operário já é tão importante, o que pensar das outras áreas da atividade
humana? Pois há muitas outras formas de atividade em que uma pessoa pode
realizar-se. Temos o campo social, o cultural, o ético e o espiritual. A
simples luta pela sobrevivência física carece de todo e qualquer valor humano
quando lhe falta o contrapeso do esforço pelo desenvolvimento social e
espiritual.
Padre Marcos Bach