A REALIDADE MAIOR
Nós, ocidentais, achamos
que real é só aquilo que os sentidos e a razão nos revelam. Orgulhamos-nos
enormemente de nossa ciência e de nossa filosofia.
Os místicos sempre e em
toda a parte ensinaram que a Realidade é outra e que para entrar em contato com
ela é preciso ultrapassar os limites impostos pelos sentidos e pela razão.
Cientistas e filósofos
só conseguem atingir aspectos periféricos de Realidade Total, embora alimentem
a convicção contrária. Só muito lentamente os tradicionais “donos da verdade”
(cientistas, filósofos, teólogos) começam a se dar conta de que a Realidade é
muito maior do que a capacidade humana de apreendê-la.
Esta incapacidade não é,
porém, ontológica, mas condicionada por fatores históricos. Se o interior de
cada ser humano possui as dimensões do próprio Universo, como sustentam os
místicos, então a incapacidade de apreender o Universo em sua totalidade é
apenas passageira e provisória.
A identidade total e
plena da mente com o universo, embora não seja para a grande maioria mais do
que um horizonte e um horizonte por demais distante para merecer algum esforço
sério e bem planejado, contudo não deixa de ser um referencial para quem quer
medir o grau de desenvolvimento de sua consciência.
Uma consciência em
evolução tende a expandir-se no espaço-tempo, tomando conhecimento de novos
aspectos de um Universo em que ser e relacionar-se passam a ser sinônimos.
O espaço psíquico criado
pela expansão da consciência não é vazio, embora os místicos o definam assim.
Só é Noite Escura na aparência. É vazio para os sentidos e escuro para a razão,
mas não o é para a consciência.
A iluminação interior
proporcionada pelo poder visionário só acontece depois que as pequeninas luzes,
com que os sentidos e a razão iluminam nosso caminho, tiverem sido ofuscados
por uma nova e infinitamente mais potente fonte de luz, que é a consciência.
Quem quer medir o nível
de consciência de uma pessoa deve tomar como critério básico a sua capacidade
de dirigir-se por si mesma.
Em seu nível mais
rudimentar esta capacidade se manifesta como instinto e como determinismo
psicológico. O instinto determina um
modo automático de comportamento. Fornece a um grupo da mesma espécie uma base
comum de ação, geneticamente assegurada. O caráter coletivo do comportamento
inspirado pelo instinto garante a ordem dentro de um bando. Cada novo membro já
nasce trazendo impresso em seu cérebro o conhecimento necessário à sua
sobrevivência e à da espécie, em geral. Não necessita de longo aprendizado. Não
se defronta com os problemas ligados à necessidade de ter que escolher.
Numa sociedade dominada
por processos instintivos, as escolhas são poucas. O instinto tem a vantagem de
oferecer uma base de relações sociais segura e confiável. Traz em seu bojo,
porém, uma grande desvantagem: por ser rígido e voltado numa única direção,
torna praticamente impossível a mudança de comportamento que uma situação nova
e inesperada vier porventura a exigir. O instinto faz de certos animais
prisioneiros de um determinado habitat. O mesmo vale para um agrupamento humano
de nível análogo.
O excesso de segurança e
de ordem gera como contrapartida a falta de flexibilidade e a incapacidade de
acompanhar o ritmo do tempo histórico, quando este se acelera.
A história não é um trem
que fica à espera dos retardatários. A Evolução tem pressa. Isto vale de modo
todo particular para épocas que precedem às grandes transformações. Nós vivemos
numa dessas épocas. Não nos defrontamos apenas com os estragos causados por uma
civilização escancaradamente voraz e predatória. Estes só por si são mais que
suficientes para impor à humanidade um novo tipo de consciência e um modo
radicalmente diferente de se relacionar com a natureza.
Padre Marcos Bach
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