MÍSTICA DA EUCARISTIA
“E como amou os seus, amou-os até o fim” (Jo
13,1).
Depois que Jesus Cristo lavou os pés dos seus discípulos, tomou o pão,
partiu-o e deu-o para que fosse partilhado, dizendo: “Tomai e comei todos vós,
este é o meu corpo que será entregue por vós”. “Do mesmo modo, no fim da Ceia,
tomou o cálice com vinho em suas mãos e disse: Tomai e bebei todos vós, este é
o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado
por vós e por todos em remissão dos pecados. Fazei isto para celebrar a minha
memória”.
Pergunto: o que tem a ver estes gestos de Jesus com o dar uma hóstia
branca na boca de uma pessoa? Não foi um gesto de irmanação de todos os
presentes este partir e partilhar o pão e o vinho, tornando-os símbolos do
Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o “Pão Vivo descido do céu?”, sua Pessoa
presente em “espírito e vida”? “Fazei isto em minha memória”
não evoca postura de relacionamento, gestos de fraternidade, de
participação e de amor?
Dar a hóstia na boca da pessoa bem pode representar um gesto que evoca
submissão e minoridade. É um gesto de quem se coloca acima de todos e todas e
decreta o que é verdade, o que deve ser obedecido.
Não se coloca de igual para igual como o fez Jesus lavando os pés de
seus seguidores;
Não convida a quem pretende distribuir o “Pão Vivo descido do céu” para
sentar-se ao redor de uma mesa para partilhar deste Pão.
Jesus partiu o pão e o distribuiu. Apenas deu-o na boca de Judas, o
traidor.
Receber o pão na boca é declarar incapacidade de distinguir quem é quem;
É ser passivo sem a menor ideia do que representa ser participante de
uma Comunidade Cristã;
É trair Jesus e seu projeto de vida para todos e todas em abundância,
conquistado pelas pessoas que atuam numa comunidade e se relacionam nela com
total doação, desprendimento e amor!
Dar a hóstia na boca de alguém é submetê-lo a ser inferior, a receber
tudo pronto e a não precisar fazer esforço em conjunto para conquistar os bens
que nos esperam e nos fazem viver melhor.
Por que é tão dramática a falta de pão na mesa de alguém? É porque o pão
nosso de cada dia em cima de nossas mesas alimenta também o nosso
espírito. A Eucaristia é plena e completa se incluir o pão nas
nossas mesas!
Os primeiros cristãos se reuniam e tomavam as refeições em comum.
Celebravam, desta forma, o partir e o partilhar do pão em memória de Jesus, a
Eucaristia (Atos 2,42...). Será que o mesmo não podemos começar a fazer em
nossas famílias, em nossas pequenas comunidades para nos lembrar da importância
do alimento para nossa vida, para nossas almas, para nosso espírito? Numa época
de inversão de valores, onde cultuamos o automóvel e a indústria de
combustíveis em detrimento dos alimentos, não é oportuno lembrar o pão como
alimento humano e espiritual indispensável?
Que o partir e o partilhar do Pão da Eucaristia nos lembre a falta
de pão na mesa de muitos de nossos irmãos e irmãs e nos leve a sermos
solidários com aqueles e aquelas que não dispõem do pão de cada dia!
Padre Marcos Bach
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