PLASMAR SEU PRÓPRIO PERFIL
Numa pequena comunidade, suficientemente autônoma
para plasmar o seu próprio perfil, torna-se possível o que em contexto social
mais amplo é simplesmente impossível.
Num ambiente onde todos se conhecem é mais fácil
sentir-se valorizado como pessoa, e não apenas visto como número. Bom pastor é
aquele que caminha à frente de suas ovelhas e conhece a todas pelo nome (Jo
cap. 10).
Pastores não nos faltam. Faltam-nos, porém, pastores
que avancem mais e mais depressa que suas ovelhas. Maus pastores já os havia
muito antes. O mau pastor é aquele que se interessa mais pela lã delas do que
por suas ovelhas. Mau pastor é aquele que obriga suas ovelhas a se contentarem
com pastagens rapadas. Ele, o mau pastor, obriga suas ovelhas a rapar sempre de
novo o mesmo pasto porque tem medo de levá-las a se afastarem da cerca
protetora do redil.
Sob a alegação de que está cuidando da segurança de
suas ovelhas, o mau pastor as mantém distantes de pastagens que considera
perigosas. É ele que decide sobre o que é bom para as ovelhas ou não. Estas,
justamente por serem ovelhas, não sabem, nem podem saber o que é melhor para
elas. As ovelhas são inteligentes e sabem distinguir muito bem a voz de um
autêntico pastor da de um estranho.
Bom pastor é aquele que adota cada ovelha como se
fosse filha sua. Suas ovelhas todas têm nome. Se existem maus pastores, também
é verdade que existem más ovelhas. O fato do número delas ser muito maior do
que o dos maus pastores, não prova nada, a não ser a inviabilidade de um
sistema religioso-eclesial incapaz de admitir que continua vivo por obra de
mentiras e incoerências.
A Igreja católica já teria desaparecido não fosse a
capacidade política de seus dirigentes de vender gato por lebre. O papa faz
questão de se apresentar sempre como sucessor de Pedro e representante de
Cristo na terra. Cristo, porém, nunca manifestou a intenção de dar um sucessor
a Pedro. Representante de Cristo na terra é toda Comunidade de Fé, onde todos
se amam como Jesus amou.
Comunidades fracas, compostas de membros privados de
poder e sem iniciativa, dirigidas, porém, por homens dotados de poder absoluto:
este é o quadro que a Igreja católica oferece ao mundo contemporâneo.
Para ser verdadeiro discípulo de Cristo não basta
pertencer a uma Igreja cristã. Quem se contenta com satisfazer as exigências
mínimas de uma Igreja, não merece que o chamem de cristão. Também não merece o
título quem se contenta com submeter sua conduta exterior às exigências desta
Igreja.
Há exigências associadas à fé em Cristo que não podem
ser regulamentadas e impostas por lei, à maneira de jugo ou de fardo. A fé em
Cristo encarna uma forma de liberdade espiritual que o homem sem esta fé não
possui. O “homem carnal” (como o chama Paulo) terá que converter-se da sua condição
de escravo da carne e dos desejos dela, se quiser pertencer a uma Comunidade
Cristã.
Carnal e escrava de seus próprios desejos mais
rasteiros é a pessoa que passa mais tempo preocupada com suas necessidades
materiais do que com as da sua alma. Aquele que só se lembra da sua alma quando
consegue um “tempinho” para isso, não merece lugar no seio de uma Comunidade
que queira coisa bem diferente do que aparentar o que na realidade não é.
Uma Comunidade Cristã autêntica é composta de pessoas
que destoam por completo do modo de pensar e de agir das pessoas que povoam o
chamado mundo dos negócios.
Do “Santo” budista, o Arhat, se pode dizer que ele é
simplesmente impossível, tal é o nível de consciência que dele é exigido. O
mesmo se pode afirmar a respeito do cristão verdadeiramente perfeito. Na
prática só existe como “ideal” e não como pessoa “real”.
Padre Marcos Bach
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