À ALTURA DA LIBERDADE INTERIOR
O homem é um ser inacabado. A
palavra imperfeito tem este significado. Não é uma “construção falha”, um
intruso num mundo que sem ele seria perfeito. É verdade que sem ele o “pecado”
não teria entrado no mundo. Mas também é verdade que sem ele o pensamento, o
amor, a paixão e a liberdade continuariam tão ausentes do nosso planeta quanto
na época dos dinossauros.
“O homem é um ser condenado a
ser livre”, dizia Sartre. Sartre era ateu e não via sentido nem no mundo nem na
vida humana.
O maior risco em tudo, quem o
correu, foi Deus quando decidiu dar ao homem uma liberdade semelhante à sua,
liberdade sem limites claramente definidos. Em lugar de conceder o privilégio
da liberdade a uns poucos capazes de usá-la corretamente, deu-a a indivíduos
totalmente irresponsáveis. Se o Criador tivesse reservado o dom da liberdade a
uma elite moral e com ela o direito de administrar a dos demais, tudo andaria
bem melhor. Como o Criador não o fez, os melhores (os Aristói) dentre os homens, sacerdotes e sábios, tomaram a peito
a tarefa de fazê-lo. Criaram a tarefa de fazê-lo. Criaram o Direito e a Moral.
E para legitimar sua política inventaram a religião, atribuindo a uma
autoridade superior a obra do seu engenho político.
Por mais que queiramos
esconder o fato, a verdade pode muito bem ser esta: “Direito, Moral e Religião
só podem ser entendidos quando encarados como instrumentos de dominação. O
exercício do poder não sofre restrições. O ideal é o poder absoluto. O
exercício da autoridade não oferece perigos sérios. Perigos sem fim rondam, no
entanto, o exercício da liberdade quando este escapa ao controle dos
representantes do poder e da ordem estabelecida”.
Nossos
governantes têm mais medo da liberdade que da sua ordem pretensamente estabelecida
por Deus ou por alguma autoridade superior. O mundo em que vivemos é um mundo
em que pessoas verdadeiramente livres não são vistas com bons olhos. A maioria
dos nossos chefões preferiria cercar-se de um cordão de robôs, sempre prontos a
bater palmas à passagem do seu grande líder.
O mundo que nos cerca não ama
a liberdade. Procure pensar com a própria cabeça para ver em que vai dar esta
sua ousadia. Podemos pensar e é bom que o façamos, desde que este nosso
pensamento não venha a chocar-se com o pensamento ortodoxo. O essencial já foi
pensado. A fé religiosa consiste em pensar como Deus pensa. E cada religião
sabe melhor que as outras o que Deus pensa. O homem bom é aquele que quer o
mesmo que Deus quer. Quem faz a vontade de Deus em tudo, é mais do que bom, é
melhor, é santo. Como Deus é monossilábico e quando fala o faz por meio de
parábolas, a elite humana, (os aristói), tomaram a si a tarefa de nos
dizer o que o Criador pensa, quer, aprova e desaprova.
As instituições que se
apresentam como promotoras do progresso humano têm como finalidade primária
cuidar do bem comum. O bem particular de cada indivíduo pertence à outra esfera
política, não só distinta, mas em boa parte oposta a ela, que é a chamada
“iniciativa particular”.
Padre Marcos Bach
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