SER SANTO COMO DEUS É SANTO
O fato de ter sido reconhecido oficialmente como
santo, pouco diz a respeito do efetivo grau de santidade do agraciado. A
verdadeira santificação acontece no íntimo mais íntimo da alma. Por sorte ou
infelicidade não temos como chegar até lá e assistir ao que está se passando.
Não possuímos câmera que nos permita filmar o que Deus e a alma estão fazendo.
Nem a alma tem consciência do que está acontecendo em
seu íntimo. O Amor de Deus, como todo amor genuíno, é muito discreto, humilde e
cheio de “pudores”! Nada mais deprimente do que manifestações de amor
indiscretas, espalhafatosas e destemperadas! O fato de ser tão misterioso e
oculto transforma a vida íntima da alma com seu Bem-Amado numa dura prova de
paciência.
A palavra paciência vem do verbo latino pati que significa sofrer e suportar.
Todo amante apaixonado sabe o quanto o amor é capaz de fazer sofrer. Quando o
“amante” se envolve em silêncios misteriosos e teima em permanecer distante do
“teatro de operações”, o “amado” só pode sentir isso como “abandono”, como
rejeição.
Tudo fica ainda mais penoso quando se toma em
consideração que a santificação é obra exclusiva do Espírito Santo. Dele partem
as iniciativas todas e é dele o mérito todo! À “pobre” alma só lhe resta
“contabilizar” os fracassos, pois estes, sim, correm todos eles por conta da
sua falta de generosidade!
Passar a vida sobrecarregado de dívidas e muitas
delas impagáveis; ver como os louros sempre terminam por ornar outras frontes,
Deus, a Santa Madre Igreja, a Venerável Companhia de Jesus, por exemplo, é dose
de paciência para muitos “Jós”! Ninguém se torna santo por mérito próprio! Todo
santo é um “eleito” de Deus, e deve a Ele tudo o que é!
Que é que se deveria pensar do “bloco de mármore” do
qual Miguelangelo extraiu seu Moisés ou sua Pietá,
se este bloco fosse atribuir a si o mérito por esta obra prima de arte?
Que pensar do filho de um rei que se esquecesse de
que deve todos os seus títulos de nobreza ao fato de ser filho de um rei?
Tivesse nascido numa “estrebaria”, como Jesus, ninguém se atreveria a ver nele
mais do que o filho de um operário, como aconteceu com Jesus!
Não há mérito algum em ter nascido em berço
esplêndido! Que o diga o Príncipe Charles da Inglaterra. O papa João Paulo II
seria a figura badalada de hoje se tivesse permanecido na função de simples
“vigário da roça” em sua cidade natal? De quando em vez a rainha da Inglaterra
eleva um plebeu à categoria de nobre do reino. O papa faz o mesmo elevando um
bispo à dignidade cardinalícia.
É próprio da natureza humana o desejo de subir e de
progredir, de avançar e de ir cada vez mais longe. É sobre esta aspiração que o
monarca esperto constrói as bases do seu reino.
Por que só o papa pode decidir quem merece a honra
dos altares? Quem é santo mesmo e quem é apenas usado pela hierarquia da Igreja
para fins políticos? Quanto mais nobre uma causa for, tanto mais fácil é
corrompê-la. Marx que o diga!
Não tenho a intenção de passar a limpo o assunto que
estou propondo tratar. O meu objetivo é mais modesto. Quero deixar claro que a
“santificação das almas” é muitíssimo mais importante do que a “veneração dos
santos”. E que a santidade é mais que um direito reservado a uns poucos.
Padre Marcos Bach
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