AS LIÇÕES DO AMOR
A loucura com que Cristo ama esta humanidade enlouquecida
ainda não mereceu a honra de uma Encíclica papal.
Quem quer ser médico não pensa em inscrever-se logo de
vereda numa Faculdade de Medicina. Passa a frequentar, antes de mais nada, o
primeiro ano de um Curso Primário. Onde poderá encontrar esta “schola affectus” aquele que um dia
pretende diplomar-se como adulto numa “schola
affectus” de grau superior?
Onde vai aprender as primeiras lições de amor? Não é na
família que o menino aprende a ser pai e a menina a ser mãe? As mais preciosas
lições da vida ou se aprendem na primeira infância e no seio de uma família que
mereça este nome, ou não se aprendem nunca mais. É no seio da vida familiar que
homens e mulheres aprendem a se respeitar mutuamente e a se amar como irmãos.
O único pecado que
cultura alguma deixa de condenar como imoral é o incesto. É no contato com a
filha que um pai aprende como respeitar uma mulher. Quem não aprendeu na
família que o desejo pode ser o pior inimigo do amor, poucas chances terá de
aprender a lição em outra escola! É, portanto, pela revitalização da família
que devemos começar.
É pela reforma do Ensino
Primário que é preciso começar se quisermos um dia poder contar com
Universidades de elevado padrão cultural e pedagógico. Não há Universidade
capaz de substituir a família e de suprir suas deficiências de um sistema
educacional basicamente falido.
Boa parte do conflito de gerações provém do fato de que
cada geração nova vê o amor com outros olhos que a anterior. Está ficando cada
vez mais claro que o futuro da humanidade é uma questão de amor! E se é uma questão de amor, é também uma questão
de gosto. O santo que merecia ser canonizado é aquele que declarasse alto e bom
som: “Amo porque gosto de amar! É o único prazer capaz de me seduzir a ponto de
dar a própria vida por aqueles que amo”!
Se Jesus tivesse tido a oportunidade de pronunciar um
discurso de despedida momentos antes de sua morte, talvez teria dito: “Morro
feliz, porque morro amando”! Feliz o discípulo de Cristo que pode dizer o mesmo
na hora de morrer!
Jesus amou indo até o extremo limite da capacidade
humano-divina de amar! “Amou os seus até o fim” (Jo 13,1).
Somos capazes de conduzir uma guerra até o seu mais trágico
fim, como aconteceu na II Guerra Mundial. Mas somos incapazes de conceder à
lógica do amor e da solidariedade fraterna o mesmo direito.
Por ora só Deus se dispôs a amar a humanidade como todos
poderíamos amar-nos se assim o quiséssemos! O que muita gente critica no jovem
de hoje é sua alergia a compromissos. Tudo o que nós, adultos, definimos como
compromisso não passou pelo crivo da consciência do mundo juvenil. Os jovens
não são propensos a continuar prisioneiros do passado e a assumir compromissos
que os obrigam a viver a vida de costas para o futuro!
Houve época em que era praticamente impossível imaginar
sequer um futuro diferente do passado. Hoje temos conhecimento suficiente para
desdobrar o futuro em uma variedade bem grande de mundos alternativos. Assim
como a natureza nos oferece uma impressionante variedade de paisagens, umas tão
diferentes das outras que nem parecem fazer parte do mesmo planeta, do mesmo
modo a mente humana tem condições de criar uma paisagem cultural igualmente
variada. O perigo metafísico que ronda as religiões monoteístas reside na sua
incapacidade de integrar o princípio da variação em sua imagem de Deus. Um Deus
que não muda nunca e que só possui um único rosto, não combina com um universo
tão diversificado como o nosso. É bem curta a distância que separa um
monoteísmo mal entendido de outras manifestações monistas como a monotonia, o
monolitismo e a monarquia.
“Dia virá em que, depois de dominar os ventos, as marés e a
gravidade, buscaremos em Deus as energias do amor, e nesse dia, pela segunda
vez na história do mundo, o homem terá descoberto o fogo” (Teilhard de
Chardin).
Padre Marcos Bach
Nenhum comentário:
Postar um comentário