PARA ONDE CAMINHA A HUMANIDADE
O “super-homem” de Nietzsche é uma piada em
comparação com o que Jesus nos revelou acerca da humanidade futura. No projeto
antropogenético de Deus, tal como Cristo no-lo revelou, há espaço para muitos
estágios. A antropologia nos ensina que o homem se humanizou aos poucos de
forma gradual e lenta. Os primeiros representantes do gênero humano pouco se
pareciam conosco. Fazemos parte de uma versão mais evoluída e aprimorada da
espécie Homo. Os mais deslumbrados
dentre nós acham que representamos o último grito em matéria de desenvolvimento
humano.
Depois de tudo o que aconteceu nos gulags soviéticos e nos campos de
extermínio nazistas não é mais permitido ser tão ingênuo. Quem acha que um
campo de batalha é um lugar onde seres humanos podem externar o que de mais
humano abrigam em seus corações, ou nunca tomou parte numa batalha ou então
está sendo pago para dizer o que diz.
O resultado da evolução não é tão transparente e
previsível quanto imagina um antropólogo de carteirinha ou um profeta de “meia
tigela”. Provavelmente será mais parecido com uma “Caixa de Pandora” ou um saco
de surpresas. Se já agora, passados uns poucos milhões de anos, nos parecemos
tão pouco com nossos ancestrais mais remotos, que semelhança poderá lembrar aos
representantes do gênero humano daqui a, digamos, dez milhões de anos, de que
nós, da então extinta espécie Homo
Sapiens, pertencíamos à mesma estirpe que eles?
O que faz do homem um animal diferente dos outros é o
seu elevado grau de autoconsciência. Onde pisa o faz com a consciência de estar
pisando em terra própria. Sente-se humilhado e ferido em sua dignidade quando é
tratado como menor incapaz de cuidar de si, sem a ajuda de muleteiros ou
padioleiros de fora. Quer irritar uma criança, impeça-a de caminhar com os
próprios pés.
Dói ter que admiti-lo, mas é isto que se pode
observar: a humanidade atual é composta em sua quase totalidade de pessoas que
não conseguem caminhar com os próprios pés. Uns são “ovelhas” e outros se
fingem de “pastores”. A boa ovelha é a que se sente feliz quando alguém a
carrega. O mau pastor é aquele que se preocupa mais com a docilidade de suas
ovelhas do que com o seu bem-estar.
Quando Jesus assegurou aos “mansos a posse da terra”
(Mt 5,5), disse uma verdade simples: a violência só destrói e só serve para
gerar mais violência. Depois que os violentos todos tiverem feito o seu
trabalho de destruição mútua, restarão os mansos, apenas eles.
Nada Jesus salientou tão vivamente quanto a autoria
divina do seu plano de salvação. Ele, o Filho do Homem por excelência, é o
responsável máximo pela execução deste plano: “Todo poder me foi dado no céu e
na terra” (Mt 28,18). “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). A iniciativa
continua sendo prerrogativa de Deus. Tudo o que a humanidade precisa fazer é
colocar sua vontade e sua liberdade toda em sintonia com a de seu Criador.
Assim como a montanha que permanece no mesmo lugar, também o espírito do homem
continua idêntico no meio de uma sucessão de realidades impermanentes. O núcleo
espiritual de cada ser humano é eterno. Por isso Jesus define a Vida Eterna
como destino final da alma humana. A montanha não se preocupa com o dia de
amanhã, nem o lírio do campo lamenta o esplendor de dias passados. Homem que se
prende ao passado e se preocupa com o dia de amanhã não entendeu um dos
aspectos mais belos da mensagem de Jesus: o poder de Deus está
irreversivelmente comprometido com um projeto que ultrapassa tudo o que podemos
definir como sendo meramente humano.
Padre Marcos Bach