O QUE NOS DIZ O TRABALHO
Às “feras do trabalho” a humanidade deve tudo o que é
considerado “progresso”. Não fossem elas, os Stakanovs da Rússia de Stalin, o
operário padrão do mundo capitalista, não teríamos nem prato, nem talher e nem
o conforto de uma boa cama. Estas e muitas outras benesses da civilização
moderna as devemos ao trabalho.
O trabalho é tudo, seja ele intelectual ou braçal. É
o que nos pregam as ideologias trabalhistas do mundo inteiro. O trabalhismo
ideológico define o trabalho como ocupação nobre, como atividade cujo exercício
dignifica e enobrece a quem o executa. A medida do valor social do trabalho é o
salário. Se um trabalhador ganha pouco é porque seu trabalho é de valor menor.
Falta-lhe qualificação técnica ou profissional. A foice e o martelo são
símbolos de um tipo de trabalho tecnicamente superado. O calo nas mãos, o suor
do rosto deixaram de ter qualquer valor.
O que enobrece não é mais o trabalho em si, mas é o
trabalho qualificado, o trabalho que exige inteligência e criatividade, o
trabalho que só o homem é capaz de fazer melhor do que um robô.
Enquanto líderes sindicais insistem no direito que
todo homem tem de ganhar o sustento através do trabalho, banqueiros e
empresários do mundo inteiro estão empenhados em dispensar o trabalho humano e
substituí-lo por um sistema automatizado de produção. O homem, a pessoa humana,
só entra em cena e adquire importância no papel de consumidor. Alguém tem que
absorver a produção e cobrir os seus custos. Este alguém é o consumidor, agente
essencial do processo econômico todo.
Para substituir um operário serve um robô, um sistema
automatizado. O que um robô não pode fazer é substituir um consumidor. Este
ainda é imprescindível, sagrado e insubstituível. Em muitos países já existe
uma legislação destinada à defesa dos direitos do consumidor. Boa parte da
ideologia neoliberal tem por objetivo assegurar ao mercado um máximo de
liberdade. Sua razão de ser é a livre circulação de mercadorias. Socialmente
positivo e recomendável é tudo o que facilita a vida do consumidor. Séculos de
fervor nacionalista são esquecidos. Apelar para sentimentos de patriotismo,
para postulados éticos e para valores espirituais é o mesmo que pregar
castidade a uma plateia de prostitutas.
O trabalho dignifica o homem?
Um trabalhador, funcionário ou empregado se pode
colocar no olho da rua sem problemas maiores, pois as leis trabalhistas estão
sendo “modernizadas”. Numa economia dominada pelo princípio neoliberal do Livre
Mercado é absurdo falar em direitos adquiridos.
A natureza não se preocupa com o modo como animais e
homens asseguram o seu próprio sustento. Seria ridículo dizer que um leão ganha
a sua vida trabalhando. Dentre os nossos grandes “caçadores de fortunas”
quantos podem ser classificados como trabalhadores? Especular e trabalhar não
são a mesma coisa. A especulação financeira é o exato oposto do que sempre se
entendeu por trabalho.
A atividade comercial merece o nome de trabalho? Será
que classificar um professor como trabalhador em educação o eleva a uma
categoria social mais nobre? É só o trabalho que dignifica uma pessoa?
Padre Marcos Bach