JOGO DE INTERESSES NA POLÍTICA
É ingenuidade total querer construir uma sociedade
humana merecedora de confiança sobre o que costumamos definir como “jogo de
interesses”. O interesse sempre nasce do desejo de “levar a melhor”.
Um organismo social em que todos apostam
primariamente em seu próprio interesse já nasce doente e sem condições de
oferecer à humanidade futura outra perspectiva do que uma ilusão a mais. Depois
do medo não há impulso mais nocivo à boa ordem social do que o egocentrismo, a
ganância e a avareza. Apostar na competição é o mesmo que apostar nas
“virtudes” das mais incontroláveis formas de paranoia. Apostar na competição é
o mesmo que consagrar a guerra como forma de promover o progresso social.
Se para Clausevitz a guerra era a continuação da
política por outros meios, para um banqueiro capitalista ela é um “negócio” tão
“justo” quanto uma fusão de bancos. É absolutamente absurdo admitir que o
futuro da humanidade possa ser decidido em campos de batalha. Mas é
precisamente isto que está sendo apregoado nos arraiais neoliberais e
globalistas do pensamento econômico atual. “Vamos competir”, dizem os gurus da
economia competitiva. “Só o fraco e o covarde temem a competição”. Será mesmo?
Quando alguém diz que a Igreja não deve meter-se em
política, está sendo hipócrita. A Igreja está repleta de políticos, de homens
que vivem fazendo política. É um fato que por si mesmo não mereceria reproche,
se esta atividade toda tivesse como origem o desejo de servir por amor e com
amor.
Quem quer ser realmente útil a seus irmãos começa por
envolvê-los num grande abraço, cheio de amor. Ghandi dizia: “Meu desejo é poder
abraçar um dia a humanidade toda”!
Francisco de Assis fez mais pelo bem-estar espiritual da humanidade do
que todos os papas de sua época.
Há uma dimensão do poder que consiste em dominar
outros, em impor a sua vontade, o que por iniciativa própria jamais iriam
querer. É a potestas dominativa, tão
cara a todos os tiranos e ditadores.
Existe, no entanto, outra dimensão do
poder e outra forma de exercê-lo, muito mais próxima do modo como o Senhor do
Universo costuma exercê-lo. O que caracteriza o modo como Deus exercita o seu
poder de Senhor Supremo do Universo é o profundo respeito pela liberdade dos
demais agentes do processo evolutivo universal. O Criador é especialista na
arte de delegar poderes. Caso típico é o processo procriativo.
Político hábil e empresário inteligente é aquele que
cria um organismo social em que todos têm condições de investir nele o máximo
de suas capacidades.
Imagine o leitor uma sociedade em que o primeiro
artigo da Constituição rezasse assim: “Amai-vos uns aos outros sem reservas! E
sem temer excessos. Retribuí em dobro todo amor que vos é dado! Sabei que o
Amor é o mais divino dos dons e a mais preciosa e poderosa faculdade com que o
Criador dotou o homem. O Amor eleva o espírito do homem acima de tudo que não é
Deus. Acima dos Anjos e das potestades todas do Céu. Quem ama torna-se igual, e
não apenas semelhante a Deus. O Amor não é apenas a mais poderosa energia do
Cosmos. É, acima de tudo, o que no homem existe de mais divino!
Aquele que ama
participa de alguma forma da vida íntima do próprio Deus. Todo gesto de amor é
um ato de extrema generosidade. É um ato de loucura, diria o apóstolo Paulo.
Pode haver amor mais louco do que aquele que não impediu Jesus a se deixar
pregar numa cruz? O sofrimento que purifica e salva não é aquele que nasce da
falta de amor. Jesus não assumiu juntamente com a cruz o papel de vítima do
pecado dos homens. A cruz é símbolo da vontade redentora de Deus. A intenção de
Cristo ao abraçar a cruz foi a de provar que o Amor de Deus é infinitamente
maior do que o pecado dos homens! O que Jesus quis ensinar a quem tem ouvidos
para ouvir e disposição para aprender é o seguinte: fora do amor não há
salvação!
Não há um só problema humano que não seja consequência da falta de
amor. A contrapartida lógica só pode ser esta: não há possibilidade de solução
que não nasça do amor. Elimine o oxigênio da atmosfera terrestre e dentro de
pouco tempo não haverá mais vida em nosso planeta”!
Numa roda de políticos ou de funcionários da Cúria
Romana uma proposta como a que acabei de formular seria acolhida com sorrisos
sardônicos. O “cara está louco”, diriam. “Política”, diriam, não se faz indo ao
encontro do povo! O povo, dizem todos os autocratas, “não sabe o que é melhor
para ele”.
Os espertos e falsos amigos do povo aproveitam este
“vazio” político para infiltrá-lo com a figura do “pastor”, do “comissário”, do
grande líder. A história recente é rica em exemplos de como explorar a
ignorância e a falta de consciência política do povo.
Padre Marcos Bach