CIÊNCIA MÍSTICA
Ciência mística é o campo do
conhecimento humano que excede a capacidade dos sentidos e da razão. A palavra mística tem a mesma raiz etimológica que
a palavra mistério. Faz parte do
mistério tudo o que não pode ser apreendido nem pelos sentidos, nem pela razão.
A
observação científica e a reflexão filosófica só conseguem apanhar e explicar
uma parcela bem modesta da realidade do universo.
Tendo chegado ao fim da sua
vida, Einstein reconheceu que o universo é um grande mistério.
Se o universo material se
subtrai à compreensão do homem, o que dizer da dimensão espiritual do universo?
Se é verdade que “a essência da matéria é espiritual”, como queria Einstein,
então é possível que o fracasso dos cientistas nas suas tentativas de explicar
a matéria se deva ao fato de não terem incluído em sua metodologia os aspectos espirituais do universo material.
Se o universo é um mistério,
o que dizer do homem, este microcosmos infinitamente mais complexo e aberto ao
infinito do que a mais poderosa das galáxias?
Do exposto resulta uma
pergunta: “Será que não existe um método de investigação capaz de nos levar à
compreensão do que talvez com demasiada pressa definimos como mistério”?
Einstein atribuiu a uma forma
de fé suas descobertas científicas.
Crer significa aceitar como verdadeiro algo que nem a razão, nem os sentidos
conseguiram provar.
A
palavra cientifismo é empregada para denominar a atitude dos que se negam a
aceitar como verdadeiro o que não foi provado! O místico não persegue a verdade
à procura de provas. Sua visão da realidade se contenta com rastear pistas.
A distância que separa o
teólogo do místico é brutal! O teólogo quer apanhar Deus na rede dos seus
raciocínios! O místico se contenta com saborear o aroma que permanece no ar
depois que Deus passou!
Um místico e um teólogo não
falam a mesma língua. Assim como a linguagem do nariz não é a mesma dos olhos.
Ambos os sentidos fornecem, no entanto, ao homem a mesma mensagem estética.
O Deus de Teilhard é o mesmo
de Karl Rahner. Só que o de Teilhard tem “cheiro de terra” e o de Rahner carece
de “cheiro”.
Durante séculos teólogos e
cientistas faziam questão de sublinhar a pretensa incompatibilidade entre
Ciência e Fé. Nos últimos cem anos foram dados passos gigantescos no sentido de
pôr fim a esta guerra inglória.
Quando dizemos que o cristão
não se apega a regras e que não necessita de outro poder além daquele que sua
fé em Cristo lhe proporciona, estamos mexendo em “vespeiro”, pois é inútil ir à
procura de uma religião que dispensa seus fiéis de alguma forma de obediência.
E de alguma forma de disciplina imposta.
O místico é alguém que
adquiriu grande familiaridade com os planos superiores da sua consciência. Com o seu Self, diria Jung. Com a sua consciência espiritual, diria Assagioli.
Os conhecimentos que o
Supraconsciente lhe fornece não são iguais aos que sua razão e seus sentidos
lhe proporcionam, pois são de natureza intuitiva.
Por intuição se entende uma espécie de conhecimento em que o sujeito entra em
contato direto e imediato com a verdade,
a qual se lhe revela sem o concurso de intermediários.
O conhecimento místico é
essencialmente visionário. É por isto
que os místicos preferem servir-se de imagens e de símbolos, de comparações e
de extrapolações e hipérboles para descrever suas experiências. O falso místico se apega às imagens como
se elas fossem a verdade, assim como o mau teólogo se prende a dogmas e o mau
cientista se escraviza a uma visão teórica da realidade.
O que caracteriza a mente
visionária de um místico é sua extraordinária abertura mental e elasticidade intelectual e moral. Um místico
sempre está disposto a aceitar mudanças,
caso elas se imponham.
A teologia mística é
essencialmente negativa: não descreve
Deus, mas dá apenas o que deve ser excluído da sua Imagem.
Um místico autêntico, como
São João da Cruz, sabe distinguir muito bem o que é de Deus e o que faz parte
da tentativa humana de se apoderar de
Deus. E de usar uma imagem sua com o fito
de tirar proveito da sua familiaridade com Deus. O que se dá neste caso é que
alguém se ajoelha diante de uma “imagem” que ele mesmo criou, em lugar de se
ajoelhar perante Deus.
Deus não cabe em ícones, em imagens e conceitos
teológicos. Menos ainda em dispositivos canônicos!
Motivo de sofrimento é para
um místico sentir-se condenado a viver num mundo que além de não ser o seu, é
em tudo o oposto do seu.
O instrumento de pesquisa
preferido do místico é a fé!
Einstein
já admitiu que o melhor das suas descobertas científicas devia-o à fé e não à
pesquisa propriamente dita. Como cientista sabia que “quem não procura, não
acha”! Como “religioso” ele sabia que não basta procurar, que é preciso
procurar no lugar certo, com os meios certos e no tempo certo! Tudo isto
ultrapassa a racionalidade do esforço científico e lhe acrescenta algo de
essencial.
A atitude de fé se baseia na
certeza de que o universo tem um sentido
e que a história da humanidade
obedece a um plano. Sem esta fé é
inútil tentar compreender o homem e o mundo em que vive.
A inglória luta entre fé e
ciência está com os dias contados. Não fosse a quantidade de interesses e
vaidades investida nesta luta, ciência e fé já teriam realizado, há muito, o
“matrimônio sagrado”, o “Hierós Gamós”
dos alquimistas. Decretar a separação entre fé e ciência é o mesmo que condenar
tanto o homem de fé como o cientista a viver divorciado de si mesmo. Há aspectos da verdade humana que só a fé nos pode revelar! Mas há outros aspectos
da verdade que só a ciência consegue
desvendar.
A fé não supre a razão.
Sobrepõe-se a ela e lhe dá “asas”. Asas mais poderosas que a capacitam a voar
mais alto.
A fé de que falo não é a fé
teológica que se baseia em “verdades reveladas” e pode ser controlada por autoridades
eclesiásticas. Não é sobrenatural, pois embora venha do “Alto”, não representa
um dom acrescentado à capacidade natural da consciência humana. O sobrenatural
pressupõe a existência de uma base natural.
A experiência mística é um
ato de fé na sabedoria do universo material e na natureza antes de ser um ato
de fé sobrenatural. Sem esta fé natural a fé sobrenatural apoiada em “verdades
reveladas” e na Palavra de Deus carece de apoio que toda planta encontra em
suas raízes.
Padre
Marcos Bach
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