O MEDROSO E O CORAJOSO
O medroso evita o perigo e só pisa em terreno
que julga seguro. Sente-se seguro quando percebe que está indo por onde a
maioria também costuma passar. Prefere passa por onde os donos do mapa estão
passando. Só grandes estradas aparecem em mapas. Veredas e
atalhos não têm esta honra. Os lugares mais lindos e poéticos de um país raramente
podem ser visitados por quem não se dispõe a fazê-lo a pé, andando por becos e
atalhos que só os nativos do lugar conhecem.
Existem por toda a parte espaços
enormes que podem ser classificados apropriadamente como marginais, onde é mais
fácil ser livre e autêntico. Não é necessária grande coragem para ir morar neles.
A única condição exigida é desprendimento e espírito de pobreza.
Só pode ser considerado
verdadeiramente pobre aquele que como os demais pobres pouco ou nada tem a
perder.
O corajoso se conhece por sua
capacidade de enfrentar riscos e de correr perigos. Enquanto o covarde foge do
perigo, o corajoso se dispõe a atravessá-lo, indo mais longe na direção a uma
fronteira tida como intransponível. Tanto o medo como a coragem crescem na
medida em que deles se faz uso.
O risco maior que o corajoso corre é a
de confundir coragem com temeridade. Temeridade não é excesso de coragem, mas
falta de prudência. Para ser virtuosa a coragem tem que aliar-se à prudência.
David enfrentou Golias de tanga e empunhando uma funda. Além de não ligar para
os insultos de Golias, evitou aproximar-se da lança de Golias.
O corajoso não é alguém que despreza o
perigo ou o adversário. Todo corajoso digno de respeito possui um elevado grau
de autoconfiança. Não espera da coragem mais do que ela é capaz de lhe
proporcionar. Os resultados mais preciosos ele os espera da sua inteligência e
da sua capacidade de integrar conhecimento intelectual num plano concreto da
ação.
Para continuar a ser medroso e covarde
basta continuar a ser medroso e covarde. Para continuar a sê-lo basta
acrescentar mais medo ao já existente. Para readquirir um pouco da coragem
perdida é preciso duplicar a dose. Duplica-se a dose quando se alimenta em sua
consciência a coragem de ter coragem.
Quem passou anos da sua vida embalando
sua consciência em falsas seguranças não deve esperar que sua coragem
adormecida e latente desperte de forma espontânea e sem exigir dele esforço
algum. Ao contrário do que acontece nos contos de fadas, nenhum príncipe encantado
vai aparecer para despertar um covarde adormecido. “Acaba por perder a sua vida
todo aquele que não se dispõe a perdê-la” (Lc 9,24).
Para que um centro cresça é preciso
que a periferia cresça junto com ele. Houve uma época em que São Paulo se orgulhava de
ser a cidade brasileira que mais crescia. Hoje já não há mais paulistano que
queira ver a sua cidade maior do que já é.
Audácia é o nome desta coragem de ter coragem.
“Audaces fortuna adjuvat”, diziam os
romanos. A “fortuna não se alia aos que têm medo da sua coragem”. Estes acabam,
via de regra, tendo até medo do seu próprio medo.
O corajoso não se orgulha da sua
coragem. Não estufa o peito nem se vangloria de ser melhor que os outros. Sabe
muito bem que não há modo mais perigoso de enfrentar a vida do que enfrentar
seus desafios com coragem.
Padre Marcos Bach
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