DEGRADAÇÃO HUMANA NÃO CABE A NINGUÉM
Para um homem de
mentalidade moderna viver de esmolas é tão inaceitável quanto viver do roubo. O
apóstolo Paulo, fabricante de tendas, vangloriava-se de viver do fruto do seu
trabalho.
Houve época em que viver
de esmolas era considerado como demonstração de fé na Providência Divina. Este
tempo passou. Hoje não é fácil encontrar quem não concorde com Paulo: “Quem não
trabalha não tem direito a comer”.
Hoje vivemos uma época
atormentada pela falta de empregos. Como convencer um desempregado de que ele
não é um mendigo?
O trabalho não é apenas
uma obrigação e uma necessidade social. É, acima de tudo, um direito. Um
direito natural, inerente à própria condição humana.
No paraíso socialista
sonhado por Marx, o acesso ao mercado de trabalho é tão fundamental quanto o
direito à vida. É parte integrante de uma vida humana digna deste nome.
Se é verdade que o
trabalho dignifica o homem, porque condenar tantos honrados pais de família à
mendicância? Quem não tem emprego só pode ter-se na conta de mendigo numa
sociedade acostumada a julgar as pessoas a partir do que produzem.
Marx nunca foi um
trabalhador no sentido usual do termo. Sempre foi o que se pode chamar de “rato
de biblioteca”, homem de gabinete. Seu exemplo destoa de tudo o que escreveu.
Era um homem de ideias, um tanto alienado do mundo do trabalho tal como o
conhece e sofre um operário ou um camponês.
Marx também foi a seu
modo um contemplativo: passou os melhores anos da sua vida debruçado sobre a
antevisão de um mundo futuro a ser construído. Era um visionário, tanto no bom
quanto no mau sentido da palavra.
Basta um olhar bem
superficial sobre o panorama do mundo atual para se ter uma ideia do que é um
mundo dominado por especuladores calculistas e por materialistas profissionais.
O Projeto Messiânico de
Marx fracassou. É cômodo tripudiar sobre a desgraça alheia. Marx, Lênin e
Stalin tentaram. O fato de não terem tido sucesso pleno não diminui o mérito de
terem tido a coragem de tentar.
Marx preocupou-se com o
futuro da humanidade. Lutou contra o sistema capitalista porque se convencera
de que o capitalismo era simplesmente incompatível com valores fundamentais de
uma sociedade humana aberta ao progresso, como justiça social, igualdade de
direitos e liberdade civil. Foi ingênuo: a sociedade europeia não estava madura
para trocar o que conseguira conquistar, com muito suor e sangue, por um
pretenso paraíso social tão utópico quanto a ideia de colonizar a lua.
Moderno, no meu entender,
não é apenas aquele que está em dia com o pensamento e a escala de valores do
seu tempo. Seria o mesmo que cair no logro de Marx, supondo que a história se
encaminha para um ponto ideal. É bom não esquecer que Marx era hegeliano. O
“leite” que serviu é o mesmo que alimentou a carreira acadêmica de Hegel.
Trocou os sinais, mas ficou fiel aos mesmos parâmetros que nortearam o
pensamento de Hegel.
Na base da filosofia de
Hegel e de Marx está a fé na existência de um mundo anterior e superior a tudo
o que o homem esteja em condições de criar e impor por vontade própria. O mundo
é dominado por ideias que determinam a história humana muito antes que apareça
um Marx, um Lênin ou um Mao Tsé-Tung. Marx diria: “o que determina o futuro
histórico da humanidade pouco depende do que os homens pensam, mas depende por
completo do que os homens fazem”. Para Marx a história é um conjunto de
acontecimentos que apontam um rumo. Só compreende a história aquele que tem a
capacidade de perceber o mais contido em cada evento histórico.
Padre Marcos Bach
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