MARX DESMASCAROU O
CAPITALISMO
Marx viu muito bem que
uma sociedade submetida às leis do mercado só pode merecer o epíteto de
“sociedade pirata”. O mercado é uma abstração ideológica e sua existência não
se baseia em argumentos científicos.
O que chamamos de
mercado é composto de pessoas. Parte delas quer vender ou trocar. A outra parte
compõe-se de consumidores (diríamos hoje). Pessoas que querem comprar, adquirir
e entulhar suas casas com produtos cujo valor é altamente perecível. Tanto a
moda como o avanço tecnológico funcionam como escavadeiras: limpam o campo de
mercadorias obsoletas! Montanhas de computadores já foram parar no lixo porque
neste terreno, mais que em muitos outros, vigora a “lei do melhor”. Melhor, ao
menos por ora, é o produto que produz mais e dá mais lucro a quem o fabrica e
vende.
O que Marx, afinal,
queria? Queria uma sociedade sem proprietários! Queria uma sociedade baseada no
trabalho e não no capital. Como bom judeu, conhecia a Kabala judaica e sabia
qual o papel que o trabalho desempenha no campo social. “Quem não trabalha, não
come”, dizia o judeu Paulo de Tarso. “A cada um segundo a sua capacidade e de
acordo com a sua necessidade”, dizia Marx.
Quem quer compreender
Marx deve ter em mente que seu propósito era lançar as bases de uma sociedade
em que a preocupação pelo material deixasse de ser problema. Enquanto os pais
do liberalismo econômico se preocupavam mais com o destino do capital, Marx se
preocupou quase que exclusivamente com o futuro dos que só podem contar com o
trabalho como instrumento de promoção social e como meio de dar um sentido e
uma relativa aura de dignidade à sua existência. Se as Igrejas cristãs da época
tivessem tido a capacidade de compreender que o homem é mais importante que as
máquinas por ele construídas, hoje a face do mundo talvez fosse outra, bem mais
humana.
Marx era um homem
inteligente e bem intencionado, pobre e sem grandes ambições. No fim da vida
chegou à conclusão de que tudo o que escrevera e pregara teria que ser revisto.
Morreu sem terminar a obra monumental da sua vida, que é O Capital. Se é
verdade, morreu como arrependido tardio. Não teve tempo de refazer o seu
itinerário messiânico.
Apareceram os Lênins, os
Stalins, os Mao Tsé-Tungs e os Pol Pots, que se encarregaram de transformar em
trevas o que no pensamento de Marx era luz, aurora e prenúncios de um novo
tempo. “Não sou marxista”. Marx mesmo dizia que não era marxista. Acho ridículo
prender-se a fórmulas. Ou a dogmas. Marx desmascarou o capitalismo e a falsa
noção de liberdade do liberalismo. Fez o que Cristo fez em outra área ao
desmascarar a hipocrisia do sistema religioso judaico do seu tempo. Não
conseguiu, no entanto, ir além do terreno das boas intenções por não ter dado
em seu sistema ao amor o lugar que Cristo lhe reservara.
Rejeitar a contribuição
de Marx para o advento de um mundo mais humano não constitui prova de grande
inteligência. Menos ainda é prova de grande fé em Deus. O pensamento
marxista é muito mais incompleto do que falso. Falta quem se anime a
completá-lo, acrescentando-lhe a dimensão do amor que desconhece. É preciso
apoiá-lo numa base mais sólida e confiável do que a frágil e lábil consciência
da classe proletária.
Se Marx se esqueceu de
falar no amor, é possivelmente por não crer nele. A sua vida matrimonial foi a
mais burguesa e proletária ao mesmo tempo que se pode imaginar. Tinha por
propósito delinear as estruturas de uma sociedade justa da qual o amor faria
parte. Não se lembrou que a justiça é fruto do amor, ao contrário do que supunha.
Pretendeu construir um edifício começando pelo telhado.
Marx nasceu, viveu e morreu burguês. Nem por isso
alguém se lembrou de condená-lo. (Na prática) viveu e morreu pobre. Este fato
por si só o recomenda como pessoa digna de admiração.
Não é crime nenhum
sonhar com uma sociedade rica, cheia de conforto material, desde que esta
fartura obedeça a três requisitos fundamentais: primeiro, não impede o coração
de aspirar a valores mais altos, que são os valores espirituais. Um belo leito
não deve impedir um casal de perceber a diferença que existe entre prazer e
conforto dum lado, e amor e felicidade do outro.
Segundo, permanecer
consciente de que o problema, se algum há, não está na abundância, mas no
excesso. Uns têm demais e por isso é que outros saem de mãos abanando dos
nossos “Supermercados”.
Terceiro, usar as
coisas, mesmo as que nos pertencem, de acordo com a lei como se nos tivessem
sido confiadas em comodato, sob a forma de empréstimo.
O conceito cristão de
propriedade econômica difere por completo do conceito romano e capitalista. Um
judeu ortodoxo comporta-se em relação aos bens materiais como funcionário e
gerente de riquezas que não lhe pertencem. Para ele a Terra Prometida e suas riquezas
são propriedade de Javé, o Deus de Israel.
Os judeus sempre
defenderam com tenacidade indomável a Terra que Javé lhes confiara. Se hoje
existe um Estado de Israel, é porque 2.000 anos de exílio e diáspora não foram
capazes de apagar da consciência do povo judaico a fé na promessa messiânica
feita por Javé a Abraão. A fé nas promessas de Jesus foi a marca registrada das
primeiras Comunidades Cristãs.
É importante que a
Igreja fale à humanidade a linguagem da fé. Mais importante é que seja para o
mundo um sinal e uma garantia de esperança. Sua missão essencial, porém, é ser
pregoeira do amor. Quando os papas falam do amor, tem-se a impressão de que
para eles o amor é apenas uma obrigação moral, igual a tantas outras. Preferem
empregar termos como caridade e solidariedade, em lugar da palavra amor.
João da Cruz, Teresa de
Ávila e Teresinha falam do amor com o calor e a veemência própria de quem está
apaixonado. Não se importam muito em saber se o que pensam e dizem está de
acordo com as regras do ensinamento ortodoxo. Dedicam mais fé no amor do que
nos ensinamentos da fé. São gigantes da fé na medida em que têm a coragem de
subordinar os preceitos da sua fé às exigências do seu amor para com Deus e
para com a humanidade toda.
Padre Marcos Bach
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