SANTÍSSIMA TRINDADE
Cristo-Deus é o espaço divino em
que tudo o que existe tomou forma. Esta forma só pode ser divina e tão eterna
quanto o próprio Criador. Até hoje a humanidade relutou em assumir esta sua
condição divina, pois ela a torna responsável numa medida que a assusta.
“Pericorese” é o termo que os teólogos gregos usavam para definir a
relação das Pessoas da Santíssima Trindade entre si. Os teólogos latinos
traduziram este termo para o latim dando-lhe o nome de “circumincessio”. O termo poderia ser traduzido como “ciranda”, isto
é, como dança a três. A imagem de um Deus Dançante lembra a imagem do “Shiva
Dançante” da mitologia indiana.
Definindo Deus como “motor
imóvel”, Aristóteles imobilizou o Criador do universo, obrigando-o a ficar
parado enquanto em redor dele tudo se move. É estonteante a velocidade com que
no universo criado tudo se move. É incrível o número de pulsações que um átomo
executa no curto espaço de um segundo. Nada há no universo que se possa definir
como objeto parado. Tanto no espaço como no tempo tudo se move e se modifica
constantemente. Num universo tão fervilhante, um Deus parado e sentado num
trono, só pode sentir-se estranho no mundo por ele criado. Onde tudo se move a
velocidades superiores à da luz, um Deus que sempre chega atrasado só pode
sentir que já não possui mais o controle sobre as poderosas energias que Ele
mesmo desencadeou na aurora dos tempos.
Einstein veio acrescentar ao
conceito de espaço uma nova dimensão, o espaço-tempo, demonstrando que espaço e
tempo são intercambiáveis. O espírito do homem se encontra no ponto de intersecção
entre três formas distintas de espaço: o espaço divino que ele compartilha com
o Criador; o espaço cósmico que ele possui em comum com o cosmos, isto é, o
universo material; e o espaço psíquico que ele condivide com todos os seres
dotados de autoconsciência.
A autoconsciência consiste
basicamente na capacidade de saber quem se é. A pedra sabe que é pedra. O
diamante tem consciência do seu valor, isto é, da sua beleza e da sua
preciosidade. Falsos são toda a beleza e todo o valor que não é intrínseco, mas
apenas comercial. É produto pirata.
O êxtase leva o homem a sair de
si, mas existe também uma forma de arrebatamento que impele o espírito do homem
a penetrar nas profundezas do seu próprio interior. O padre jesuíta Ives Raguin
escreveu um livro com o título “A profundeza de Deus”. No livro ele faz uma
distinção entre o que define como êxtase e o que denomina de “enstase”. Este ocorre quando uma pessoa
é arrebatada pelo seu próprio interior.
O “enstático” procura entrar em contato com Deus através do contato
com o seu próprio Eu Divino. Em vez de se pôr a escutar vozes estranhas,
prefere escutar sua própria voz. Os antigos mestres espirituais do Oriente,
Buda, Lao Tsé, Confúcio eram contemplativos que procuravam encontrar-se com
Deus em seu próprio interior. Enquanto os missionários cristãos insistiam a
pregar a seus ouvintes um Deus que veio de fora e partiu de volta para lá, o
cristianismo não deu um só passo significativo em direção a um futuro mais promissor.
Uma das promessas sagradas de Jesus é aquela
em que ele promete a seus discípulos que não irá deixá-los entregues ao
abandono. “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Ainda um pouco e o mundo
não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Neste dia
compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,18-20).
Esta promessa vale para todo aquele que é discípulo de Jesus. Por isso vale
também para nós, desde que tenhamos a fé que Jesus tem o direito de esperar de um
discípulo seu.
Não é com promessas que levamos a
Deus a nos ajudar. Não é só quando sofremos e nos vemos enredados em problemas
que Deus se dispõe a nos atender. “Tudo o que pedirdes em meu nome eu o farei”
(Jo 14,14). A onipotência de Deus deixou de ser o oposto da fraqueza do homem
para tornar-se parte substancial de uma nova forma de poder, o poder da oração.
Problemas de saúde ou de natureza político-social só existem porque ninguém se
lembrou do poder da oração.
Pe. José Marcos Bach,
SJ
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