sábado, 25 de maio de 2013


SANTÍSSIMA TRINDADE

Cristo-Deus é o espaço divino em que tudo o que existe tomou forma. Esta forma só pode ser divina e tão eterna quanto o próprio Criador. Até hoje a humanidade relutou em assumir esta sua condição divina, pois ela a torna responsável numa medida que a assusta.

Pericorese” é o termo que os teólogos gregos usavam para definir a relação das Pessoas da Santíssima Trindade entre si. Os teólogos latinos traduziram este termo para o latim dando-lhe o nome de “circumincessio”. O termo poderia ser traduzido como “ciranda”, isto é, como dança a três. A imagem de um Deus Dançante lembra a imagem do “Shiva Dançante” da mitologia indiana.

Definindo Deus como “motor imóvel”, Aristóteles imobilizou o Criador do universo, obrigando-o a ficar parado enquanto em redor dele tudo se move. É estonteante a velocidade com que no universo criado tudo se move. É incrível o número de pulsações que um átomo executa no curto espaço de um segundo. Nada há no universo que se possa definir como objeto parado. Tanto no espaço como no tempo tudo se move e se modifica constantemente. Num universo tão fervilhante, um Deus parado e sentado num trono, só pode sentir-se estranho no mundo por ele criado. Onde tudo se move a velocidades superiores à da luz, um Deus que sempre chega atrasado só pode sentir que já não possui mais o controle sobre as poderosas energias que Ele mesmo desencadeou na aurora dos tempos.

Einstein veio acrescentar ao conceito de espaço uma nova dimensão, o espaço-tempo, demonstrando que espaço e tempo são intercambiáveis. O espírito do homem se encontra no ponto de intersecção entre três formas distintas de espaço: o espaço divino que ele compartilha com o Criador; o espaço cósmico que ele possui em comum com o cosmos, isto é, o universo material; e o espaço psíquico que ele condivide com todos os seres dotados de autoconsciência.

A autoconsciência consiste basicamente na capacidade de saber quem se é. A pedra sabe que é pedra. O diamante tem consciência do seu valor, isto é, da sua beleza e da sua preciosidade. Falsos são toda a beleza e todo o valor que não é intrínseco, mas apenas comercial. É produto pirata.

O êxtase leva o homem a sair de si, mas existe também uma forma de arrebatamento que impele o espírito do homem a penetrar nas profundezas do seu próprio interior. O padre jesuíta Ives Raguin escreveu um livro com o título “A profundeza de Deus”. No livro ele faz uma distinção entre o que define como êxtase e o que denomina de “enstase”. Este ocorre quando uma pessoa é arrebatada pelo seu próprio interior.

O “enstático” procura entrar em contato com Deus através do contato com o seu próprio Eu Divino. Em vez de se pôr a escutar vozes estranhas, prefere escutar sua própria voz. Os antigos mestres espirituais do Oriente, Buda, Lao Tsé, Confúcio eram contemplativos que procuravam encontrar-se com Deus em seu próprio interior. Enquanto os missionários cristãos insistiam a pregar a seus ouvintes um Deus que veio de fora e partiu de volta para lá, o cristianismo não deu um só passo significativo em direção a um futuro mais promissor.

 Uma das promessas sagradas de Jesus é aquela em que ele promete a seus discípulos que não irá deixá-los entregues ao abandono. “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Ainda um pouco e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Neste dia compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,18-20). Esta promessa vale para todo aquele que é discípulo de Jesus. Por isso vale também para nós, desde que tenhamos a fé que Jesus tem o direito de esperar de um discípulo seu.

Não é com promessas que levamos a Deus a nos ajudar. Não é só quando sofremos e nos vemos enredados em problemas que Deus se dispõe a nos atender. “Tudo o que pedirdes em meu nome eu o farei” (Jo 14,14). A onipotência de Deus deixou de ser o oposto da fraqueza do homem para tornar-se parte substancial de uma nova forma de poder, o poder da oração. Problemas de saúde ou de natureza político-social só existem porque ninguém se lembrou do poder da oração.

                                                           Pe. José Marcos Bach, SJ

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