quarta-feira, 27 de novembro de 2013

JESUS CRISTO EM NÓS E NO MEIO DE NÓS

Pode um católico rebelar-se contra uma forma de paralisar as consciências?

Há um modo de furar este bloqueio moral. Ele consiste em entrar em contato direto com o Cristo Interior. Onde encontrá-lo? O próprio Jesus deu a resposta a esta pergunta: “Se alguém crê em mim e me ama, eu e o Pai viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).

Parece estapafúrdia a ideia de que Cristo em vez de subir aos céus preferiu continuar a morar no meio dos homens, mas é do próprio Jesus a afirmação: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). 

Para entabular o diálogo consigo mesmo e com seu Cristo Interior não é preciso rebelar-se e entrar em conflito com as autoridades constituídas. Basta ir onde Cristo se encontra. Enquanto as grandes catedrais e basílicas estão a caminho de se tornarem museus, uma geração nova de pessoas está despontando no horizonte social. Seu número ainda é pequeno, mas seu poder de fermentação social é imenso!
           
O que torna difícil a fé nesta tão misteriosa presença de Cristo na alma humana é a tremenda miserabilidade da condição humana. 

Porque condicionamos a presença de Cristo no interior do homem a um elevadíssimo nível de consciência criamos um obstáculo quase intransponível à fé nesta presença tão íntima de Deus na alma humana. 

Admitimos que uns poucos privilegiados como Teresa d’Ávila tenham atingido tal nível de intimidade com Deus. Mas repugna-nos a ideia de que monstros desumanos como Stalin, Hitler ou Mao Tsé-Tung tenham possuído em seu íntimo este que Khalil Gibran chama de Eu Divino. O conceito que temos da natureza humana não nos permite tamanho arroubo de otimismo. No entanto, se não nos convertermos a uma visão mais generosa do amor divino não estaremos em condições de acompanhar o pensamento de Deus.

Freud ensarilhou as armas muito cedo. Ele mesmo foi mais lúcido que muitos dos seus seguidores. Soube que havia muito mais à espera da curiosidade humana do que o pouco que ele tinha conseguido desvendar. 

Além do ego, superego, existe todo um universo no interior de cada pessoa o universo de hiperconsciência. O verdadeiro eu de uma pessoa fica além da compreensão humana. Se podemos admitir que o cosmos é um mistério (Einstein), com muito mais razão podemos definir a interioridade do homem como um poço inesgotável de surpresas.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

LIBERTAR-SE DO MEDO       

Um dos exercícios recomendados pelos mestres espirituais consiste em libertar-se de cuidados desnecessários e inúteis. Isto não se consegue através do confronto direto. As preocupações neuróticas são o resultado de uma forma de medo profundamente incrustado no subconsciente. É a espécie de “inimigo” bem entocado que não se consegue atingir por via de agressão direta. Pensamentos obsessivos, cuidados exagerados e atitudes compulsivas são frutos do medo. Se quisermos livrar-nos deles temos que ir até a sua raiz que é o medo. Não adianta grande coisa descobrir a sua causa psicológica. Passar horas num divã tentando descobrir em que momento da infância ou em que vida passada fomos vítimas de rejeição e falta de amor. O que verdadeiramente importa e conta para efeito de cura é tomar consciência de que só o amor é capaz de desalojar do nosso inconsciente toda espécie de medos atávicos ali inculcados. Só há um modo de eliminar o medo de nossas vidas: entregando-nos ao Amor e deixando-nos dominar e conduzir por ele. Nenhum perigo há em amar: é o único terreno em que é impossível exagerar.

Boa parte da felicidade consiste em poder fazer o que agrada e encontrar prazer em tudo o que se faz. Ora, um grande Amor nos oferece esta oportunidade de ser feliz. Este Amor (com maiúscula) não virá a nós partindo de fora. Ele já é nosso, pois existe no íntimo de nossa alma como o fogo que se encontra no fundo de um vulcão. É só estabelecer contato com ele e abandonar-se a seu irresistível poder de atração.

Padre Marcos Bach

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

VISÃO COERENTE DA SOCIEDADE 

Atribuir ao progresso tecnológico alguma forma de “culpa” pelos muitos problemas da sociedade atual é recurso ideológico de moralistas atrasados. 

Todo progresso tecnológico é uma bênção do céu, inclusive o que permite ao homem interferir no processo da reprodução. Se é permitido transplantar órgãos, executar criminosos e matar soldados na guerra, então só nos resta uma única alternativa honrosa: trocar o discurso vigente acerca da dignidade do homem e o caráter sagrado da vida por um outro, mais coerente, mais honesto e menos hipócrita.
        
Uma sociedade civilizada de verdade não pode tolerar sequer que uns poucos ricos continuem enriquecendo, enquanto a grande maioria da população mundial é composta de pessoas que a cada ano vão ficando mais pobres. A riqueza global cresce na mesma proporção em que aumenta o número de miseráveis. A culpa que leva tanta gente a descrer da humanidade e na sua capacidade política de resolver os problemas que estão se acumulando, não é do progresso material, científico e tecnológico.
        
Não é a natureza pervertida do homem a culpada. Pois se assim fosse, não haveria culpados no sentido estrito do termo, já que a nossa natureza a recebemos do Criador, assim como ela é. Desde que saiu da Mente do Criador, a natureza humana não sofreu mudança essencial. A inclinação para o mal é antes invenção de moralistas medrosos do que fato comprovado. Para aspectos negativos do comportamento humano sempre há espaço nos meios de comunicação. Os horrores de um campo de batalha atraem a atenção e mexem com a curiosidade humana muito mais que o interior de um hospital.
        
Tudo isto desperta nas pessoas a impressão de que o mal é onipresente e de que a humanidade é composta de gente sempre pronta a praticar o mal. Após um filme de horror, o espectador fica com a sensação de que o homem é por natureza um ser sádico, pouco inclinado a morrer de amores por seus semelhantes. Boa parte da culpa por esta concepção preconceituosa cabe às religiões, que baseiam sua influência antes na má consciência dos seus adeptos do que na sua disposição de praticar o bem de preferência ao mal.
        
Todas as religiões oferecem ao indivíduo recursos de salvação que ele não pode encontrar em si mesmo. Convencem as pessoas de que sem a ajuda dos seus ensinamentos e mandamentos elas não têm como entrar no caminho que leva a Deus. Consideram-se não apenas depositárias exclusivas de conhecimentos que só elas estão em condições de oferecer, mas dispõem também de meios especiais de santificação. Certos ritos e práticas são tão necessários à salvação, dizem, quanto a fé em Deus.

Não há religião que não exija dos seus fiéis fé incondicional em sua doutrina e nos meios de santificação que oferece. Todas inculcam na consciência dos seus adeptos o mesmo dogma fundamental: o indivíduo não possui em si mesmo os instrumentos de que necessita para a sua plena realização.

Padre Marcos Bach

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

TANATOLOGIA

“A pergunta mais importante do mundo, a verdadeira base de todo ato maduro, é esta: quem sou eu? Porque, se não conhecemos a nós mesmos, não poderemos conhecer a Deus” (Anthony de Mello, sj – Auto Libertação – Ed. Loyola, p.26).

A morte, durante milênios, foi vista como final inglório e trágico de uma vida, cujo sentido em vão se procurava descobrir. “Non omnis morriar”. “Não morrerei de todo”! Era o máximo que um filósofo conseguia afirmar a respeito da morte.

Suspeitava-se em ambientes acadêmicos e religiosos que alguma coisa do que fora um dia uma gloriosa miss ou um garboso cavaleiro podia restar depois da morte. Mas certeza ninguém a tinha. Mesmo hoje, tudo o que afirmamos a respeito da morte, são apenas hipóteses. Nada há que se possa proclamar como certo, como cientificamente provado!

Tanatologia é o nome que se deu à ciência que estuda o fenômeno da morte. A morte deixou o ambiente macabro das funerárias e passou a frequentar o ambiente sofisticado dos laboratórios científicos.

O que será que levou o mundo científico a se interessar tão vivamente por um assunto que aparentemente em nada contribui para melhorar a vida humana? Ainda na primeira metade do século XX era difícil encontrar alguém que descrevesse o que viu, sentiu e experimentou no curto espaço de tempo em que estivera clinicamente morto. “Experiência de Quase Morte” (EQM) é este o nome com que o fenômeno se tornou conhecido.

O volume de estudos sobre o tema morte está tendo um crescimento exponencial. Não é apenas a quantidade que cresceu, mas também a qualidade está se tornando cada vez melhor. Os primeiros estudos tinham como objetivo descrever os aspectos fenomenológicos da EQM. Mas já estão aparecendo autores que se preocupam com o significado da experiência. Kenneth Ring é um destes autores. Em seu livro Rumo ao Ponto Ômega (Ed. Rocco) ele deixa claro que em sua opinião o objetivo de uma EQM não consiste em preparar uma pessoa para morrer. Pois são tantos os que saem desta experiência não só com vida, mas profundamente, e por vezes até radicalmente mudados!

Em vez de mudar de ambiente, o que teria ocorrido caso tivessem morrido, foram aconselhados a retornar ao ambiente donde tinham partido. É como se algum filósofo lhes tivesse ensinado que se existem problemas, eles não são causados pelo ambiente em que vivem, mas por um modo desastroso de organizar a sua vida.

Padre Marcos Bach